Belém -
Antes de ser conhecida como Boulevard Castilhos França, a avenida que hoje é uma das principais vias da capital paraense e rodeada por alguns dos principais cartões-postais de Belém, não existia nem mesmo como rua.
Quem conta um pouco mais sobre essa história, é o historiador e professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Amilson Pinheiro. Segundo o professor, até a primeira metade do século 19, a atual avenida era uma espécie de praia e para se tornar uma das principais vias nos dias atuais, é preciso relembrar um movimento histórico do Estado: a Cabanagem.
“A Cabanagem terminou em Belém por volta de 1840. A cidade ficou bastante arrasada, destruída devido esse processo revolucionário. Pouco depois disso, foi iniciado um projeto de reconstrução. Assim, o então presidente da Província do Grão-Pará, Jerônimo Coelho, resolveu fazer a construção de um porto naquele perímetro, daí foi realizada a abertura dessa rua que antes era apenas uma praia”, explica.
Após o processo de aterramento, a partir de 1848 a via passa a ser chamada de Rua Nova do Imperador, tornando-se uma área de intensa movimentação comercial. O historiador ressalta que esse movimento ganha força uma vez que vários trapiches na Baía do Guajará começam a se estabelecer, já que a partir do século 19, a Amazônia estava aberta à navegação.
“Essa área começa a pulverizar e aumenta esse comércio. Então, a área passa a ser muito movimentada por trabalhadores, carroceiros e vendedores de todas as formas. Assim também começa a surgir os prédios, os casarões, e assim acontece até durante a segunda metade do século 19”, conta.
A partir de 1897, quando Antônio José de Lemos assumiu a prefeitura de Belém, foi implementado um grande projeto de reforma urbana, inspirado nos modelos das cidades europeias. O Boulevard Castilhos França começa a se transformar na rua que conhecemos hoje, com a construção do Porto Novo de Armazém na Estação das Docas e o Mercado de Ferro e de Carne do Ver-o-Peso, em meados de 1906. Naquele momento, a via passou a se chamar Boulevard da República.
HISTÓRIAS
A avenida, que é uma janela aberta para o rio, como explica o historiador, ainda é um lugar de comércio e movimentação de trabalhadores de todos os ramos. Apesar dos processos de transformação do espaço, a via é uma importante veia da economia local que gera renda, reúne público e histórias diversas.
O empresário Marcos Neves, de 38 anos, comenta que a loja de brechó Eco Stylus, situada na avenida, foi a primeira loja da família, que começou no ramo da moda sustentável há 29 anos. Passado de pai para filho, o negócio é gerido por Marcos, sua esposa e o cunhado. Hoje, apesar de possuir mais duas unidades localizadas no centro comercial de Belém, ele explica que estar na Boulevard Castilhos França é especial não apenas por abrigar a loja mais antiga, mas pelo público diversos que a rua atrai.
“É uma avenida muito movimentada, a gente recebe pessoas das ilhas de Belém, que chegam para comprar e muitas vezes revender, assim como pessoas de bairros distantes da cidade e de municípios do interior do Estado. E como estamos falando de economia, o brechó acaba sendo uma opção de qualidade, preço justo e que cabe no bolso”, avalia.
Não muito longe, mas agora nas calçadas da avenida, trabalhadores informais com todos os tipos de produtos e serviços garantem o sustento de suas famílias por anos e anos. Um deles é o vendedor de calçados Paulo Rosário, de 55 anos, que começou a trabalhar ainda aos 12 anos.
O perímetro também abriga a tradicional loja Esporte Espetacular, situada no Mercado de Ferro do Ver-o-Peso desde os anos de 1962. Passada de geração para geração, a família é de origem libanesa e de acordo com o gerente Karim Said Daou, de 20 anos. “Tudo isso começou na época do meu avô, meu pai passou para mim e, se Deus quiser, vou passar o negócio para os meus filhos também”, destacou.
Antigamente, o jovem conta que a loja localizava-se mais à esquina da Pedra do Peixe e por conta do avanço da maré, mudou de local. “Nós fomos nos adequando, agora é um ambiente climatizado até porque as pessoas que visitam a área reclamam do calor. Temos uma movimentação muito grande em volta do comércio e isso chama a atenção das pessoas, é uma avenida que chama a atenção. Estamos num ponto histórico”, completa.