
A Nova Doca foi inaugurada nesta quinta-feira, 2 de outubro, como uma das vitrines do legado da COP30 em Belém. Implantado ao longo do canal da Doca e da Avenida Visconde de Souza Franco, o parque linear é fruto de parceria entre o Governo do Pará e o Governo do Brasil, por meio da Itaipu Binacional, que investiu R$ 312,2 milhões. O projeto requalifica 24 mil m² de área construída ao longo de 1,2 quilômetro de canal, com intervenções de mobilidade, drenagem e paisagismo que reposicionam a via como espaço de convivência e circulação segura.
“A COP não é desfile de moda, nem de produtos ideológicos”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia. “Eu quero que o mundo conheça a Amazônia — os nossos rios, o Negro, Solimões, Tapajós — e a COP das Águas. Vamos virar motivo de orgulho; o Brasil é soberano nas suas decisões”, bradou Lula (PT), presidente da República, durante o discurso de inauguração, que ocorreu em uma cerimônia realizada dentro do Espaço Sebrae, no Porto Futuro, bem próximo à Doca. Em tom de convite global, Lula disse ter mandado carta “para Trump, Xi Jinping” e outras lideranças: “Não temos preconceito: venha quem quiser. Queremos ser exemplo mundial de defesa do meio ambiente”, anunciou.
Lula voltou a sublinhar a decisão de realizar a COP30 em Belém. “Eu já sabia do preconceito com a escolha de Belém. Muita gente perguntava por que não São Paulo, se lá já tinha hotel suficiente. Eu tomei a decisão de que a gente ia fazer aqui porque a COP não é vitrine de vaidades. É para o mundo conhecer a Amazônia, os cientistas, os estudantes, as mulheres, os quilombolas, os povos ribeirinhos e a culinária do Pará, que é a maior diversidade deste país”, justificou. Para ele, a coesão entre esferas de governo é determinante. “Quando a gente resolve trabalhar junto — governo federal, estadual e municipal — ninguém segura”, confirmou.

Além do redesenho do espaço público, a Nova Doca integra um pacote de obras com via elevada que prioriza o pedestre, ciclovia ao longo de canteiros arborizados, mirantes, academia ao ar livre, quiosques de alimentação e parques infantis. Passeios e pavimento foram restaurados, com foco em fluidez do trânsito e acessibilidade.
“Se equivoca quem acha que nosso objetivo são duas semanas de evento”, declarou o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). “Queremos legado para a floresta, para a Amazônia, para o Brasil e para Belém. A preservação não pode ser à base do sofrimento de quem vive aqui. É hora de o mundo financiar desenvolvimento sustentável, gerar emprego verde e qualidade de vida”, defendeu. Ele também agradeceu o apoio federal. “Se essa COP saiu de Belém, devemos a uma pessoa: Luiz Inácio Lula da Silva. Tentaram nos constranger dizendo que a Amazônia não podia sediar o maior evento climático do planeta. O presidente foi valente e acreditou que a parceria entre governo federal, Estado e prefeitura tiraria o planejamento do papel. Faltam 30 dias e todas as obras estão entregues ou em acabamento. E não é para turista ou gringo, é para melhorar a vida da nossa população”, comemorou.
No balanço federal, a ênfase foi de que os investimentos permanecem. “Me perguntam se é só para a COP; não é. É para o Pará, fica para o povo”, disse o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT).
“No PAC, são cerca de R$ 45 bilhões em escolas, saúde, estradas, portos e aeroportos. Seis bilhões estão diretamente vinculados à COP — saneamento, macrodrenagem dos canais, saúde e meio ambiente”, listou. Em seguida, citou intervenções consideradas ousadas. “Estamos construindo algo que parecia inacreditável: um porto para atracar dois transatlânticos-hotel, em cinco meses. Fica para o Estado, para o comércio, para aquecer a economia e para colocar Belém na rota nacional de cruzeiros”, contabilizou.
A transformação urbana também passa por saneamento histórico. “Temos uma outra Belém a partir destas obras”, afirmou o ministro das Cidades, Jader Filho (MDB). “Avançamos na macrodrenagem dos canais Tucunduba, Mata Fome, Ariri Bolonha e na nova Bernardo Sayão; na mobilidade, com a primeira etapa do BRT ligando o Aeroporto ao corredor da Almirante Barroso; e na maior ETE de Belém, para tratar esgoto — inclusive uma dívida histórica com o Ver-o-Peso, que em 126 anos nunca teve esgoto tratado”, destacou. Ele detalhou uma intervenção específica. “Com a Estação de Tratamento de Esgoto do Una, investimento de R$ 135 milhões, dez bairros passam a ter tratamento de esgoto”, garantiu. E concluiu: “Retomamos o Minha Casa, Minha Vida de Mosqueiro e Outeiro a Ananindeua. Não resolvemos todos os problemas, mas demos passos largos”, antecipou.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detalhou a guinada de crédito ao Estado. “O governo anterior investiu R$ 6,7 bilhões em quatro anos pelo BNDES no Pará. Em dois anos, já passamos de R$ 14,2 bilhões”, disse o presidente Aloizio Mercadante.
“Aprovamos mais de R$ 200 milhões para saneamento em Barcarena; financiamos mais de 400 barcaças que revitalizam estaleiros e geram empregos; e estamos apoiando R$ 1,5 bilhão em intervenções semelhantes à Nova Doca na Av. Almirante Tamandaré, organizando 12 canais, saneando e dando qualidade de vida. O povo não pode viver de enchente em enchente. É isso que o Lula está fazendo: olhando o Norte e o Pará como nunca antes”, enalteceu. Mercadante citou ainda outras entregas. “Inauguramos o Complexo dos Mercedários com a UFPA, e amanhã abrimos o Museu das Amazônias, com uma exposição de Sebastião Salgado. É uma beleza que nunca se viu”, elogiou.
O ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), frisou que a Nova Doca “pode parecer apenas um grande parque e atrativo turístico, mas é muito maior”. Ele insistiu no impacto da infraestrutura invisível. “É uma obra que poucas pessoas veem, mas quem mora em Belém sente.” E defendeu que a COP espalha benefícios por toda a região.

A cerimônia teve descerramento de placa da Nova Doca e, em seguida, de inauguração do sistema de esgotamento sanitário do Complexo do Ver-o-Peso — peça-chave do novo ciclo de saneamento e turismo no centro histórico. Houve ainda a assinatura de protocolo de intenções para implantação e operação de pontos de informação turística na COP30, com ampliação de conectividade — incluindo investimento superior a R$ 100 milhões para levar internet à Ilha do Combu.
Em clima de mobilização, o prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), celebrou o ritmo das obras. “Que dia histórico. Belém é um canteiro de obras.” Ele creditou o avanço à atuação conjunta. “Se estamos mudando a cara da cidade e virando a chave para o desenvolvimento com inclusão, é porque temos um time que joga junto, que joga para vencer e faz o sonho virar realidade.” Em tom de mensagem, concluiu: “A esperança venceu o medo: a COP é da Amazônia, de Belém, do Pará e do Brasil. Belém vai voltar a ser a capital da Amazônia para o Brasil e para o mundo.”
No centro do tabuleiro turístico, a Nova Doca é apresentada como cartão-postal renovado e infraestrutura de base que reduz alagamentos, melhora a circulação e abre frentes de economia criativa e serviços. Lula voltou a amarrar o discurso com a ideia de pertencimento. “Nós vamos virar motivo de orgulho para o mundo a partir desta COP. A partir dela, ninguém vai ter mais dúvida de que o Brasil não deve nada a nenhum país e de que o Brasil é soberano nas suas decisões.”