Wal Sarges
Pessoas de várias faixas etárias se encontram nas aulas abertas do professor e historiador Michel Pinho, que ocorrem em Belém. Ontem, 14, mesmo com chuva, desde as 7h45 já tinham pessoas na avenida Presidente Vargas e, ao final do percurso, por volta de 10h30, era possível observar centenas delas em frente ao Theatro da Paz, onde encerrou.
Michel Pinho atua em sala de aula há mais de 20 anos. Segundo ele, as aulas abertas têm sido uma extensão desse trabalho do historiador. “Eu sou só um professor que faz esse caminho entre a história e vocês. Os vídeos no Instagram são importantes, mas o que é interessante é despertar o interesse de vocês sobre a história. O que as redes sociais fazem é potencializar a história da cidade, a história das ruas e dos monumentos”, disse ele em cima do carro som.
O projeto começou com o historiador dando aula a seus alunos pelas ruas do centro histórico. Pesquisador sobre a história de Belém, a construção da sua memória imagética e suas relações com o patrimônio edificado e imaterial, ele usava apenas a voz e sua lente fotográfica. Hoje, a aula aberta se tornou um grande evento, com a necessidade de utilizar trio elétrico, uma bike som e microfone.
A bancária Lenilda Souza, 34, reuniu a família para conhecer mais sobre a cidade onde mora. “É a primeira vez que eu venho. Eu comentava com o meu esposo que nós gostamos muito de viajar para vários estados e outros países, mas a gente começou a refletir que não conhecíamos a história da nossa própria cidade. Então, quando eu soube que teria esta aula, decidimos trazer as meninas porque é muito interessante você ouvir a história da sua cidade, como é que funciona e onde você construiu a sua história. A gente está encantada, a minha filha faz o 5º ano e está associando o que aprendeu na escola ao que o Michel está contando aqui”, afirmou.
PERTENCIMENTO
Contemplar a cidade é uma forma de pertencer, analisa a bibliotecária Thays Lima, 44 anos. “Esta é uma forma de ocupar espaços dentro da cidade. Outra coisa é a valorização da questão histórica porque nós ocupamos a cidade de uma forma muito corriqueira, entre o trabalho e a rotina diária. Nisso, a gente não presta atenção nos monumentos que já fazem parte do nosso
cotidiano”, afirma.
“Trazer esse olhar histórico pra gente, de reconhecer dentro da cidade que mora todo um passado, nos faz apreciar o futuro e de se reconhecer nesse espaço do futuro também. Acho interessante perceber que a história ocupa os monumentos, que ele não está ali simplesmente porque foi construído, mas tem toda uma história por trás disso, além de ver a relação da arquitetura com a cidade”.
Fortes influências aproximaram Michel Pinho do universo que se tornou parte importante da vida dele: o pai, um contador de história; a mãe, contadora das visagens do Marajó e o avô que tinha uma coleção de jornais guardados e catalogados. E o que ele sempre soube é que queria ser historiador. “Eu tenho a visão de alguém que ama a cidade e não consegue passar um dia sem olhar para as ruas e prédios sem questionar de onde vieram ou o porquê é assim e ainda qual o interesse que isso pode despertar nas pessoas”.