CULTURA

As vivências históricas de quem trabalha nos museus de Belém

Quem trabalha nos museus de Belém se divide entre as responsabilidades profissionais, o cuidado com os acervos, a fascinação pela história e o carinho com o público que frequenta os espaços culturais

Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

No momento que as portas de um museu se abrem, o que se vê é resultado de um trabalho feito a muitas mãos para preservar o patrimônio e a memória. Por trás da escolha de cada peça que compõe as exposições, da forma como os detalhes são contados e até mesmo dos meios que são utilizados para tornar o conteúdo apresentado acessível está a atuação de trabalhadores de diferentes áreas.

Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Há sete anos a rotina da historiadora Catarina Lima é envolta pela beleza dos entalhes em madeira que preenchem o interior da Igreja de Santo Alexandre, onde está instalado o Museu de Arte Sacra. Depois de ter iniciado sua relação profissional com o museu ainda como estagiária, hoje a historiadora participa da Coordenação de Educação e Extensão do espaço, setor responsável por todo o processo de mediação entre os visitantes e da parte educacional fora do espaço da escola.

Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Mais do que apresentar o museu a quem chega, ela e os colegas que atuam na coordenação têm a missão de fazer os visitantes se sentirem parte daquele patrimônio. “Quando as pessoas vêm para cá, o nosso sentimento é de deixar elas fazendo parte desse espaço porque eu posso contar todas as histórias que for, mas se o visitante não se achar pertencente ao patrimônio, ele vai ser esquecido uma hora ou outra”, considera. “A memória tende a ser esquecida e é por isso que os museus existem, para sempre relembrar uma história que tem um processo dentro da nossa sociedade. Então, a gente fica sempre com esse sentimento de deixar algo para que eles valorizem não somente o patrimônio prédio, mas o patrimônio história, o patrimônio memória, o patrimônio artístico”.

Como atua no atendimento às visitas feitas pelas escolas, Catarina conta que a rotina no Museu é intensa e envolve profissionais de diferentes campos do conhecimento. Além da demanda de agendamentos, é preciso considerar: quem são as pessoas que acessam o espaço? Qual é a acessibilidade que precisa ser garantida a esse público? Qual é a faixa etária desse público? Entre outras questões. “A gente trabalha com esses processos para melhoria do acesso à cultura pelas crianças, idosos, pessoas com deficiência, então, a nossa demanda é muito grande porque, também, o nosso contingente de espaços está em uma constante crescente e a gente também tem que dar conta de todas essas nuances que fazem com que o museu funcione” aponta a historiadora. “Desde a hora que o museu abre, tem toda uma logística para ele funcionar. Quando o visitante vai a um museu, ele pensa que é só abrir o espaço, ligar as luzes e pronto. Mas não é bem assim que acontece. Há toda uma logística, precisa de uma série de profissionais e de pessoas para poder funcionar”.

Entre museus e memoriais, o Sistema Integrado de Museus do Estado soma 11 espaços e, apesar de trabalhar mais diretamente no Museu de Arte Sacra, Catarina já pode atuar em praticamente todos os outros espaços, com exceção do Museu do Marajó.

Como historiadora, ela sempre busca abordar os processos de pessoas que trabalharam dentro do espaço para ele esteja em pé hoje, algo que é muito representativo no Museu de Arte Sacra. “No Museu de Arte Sacra, em específico, eu gosto mais dos entalhamentos em madeira, por exemplo, que foram feitos pelos indígenas no processo de catequização aqui na Amazônia. É uma coisa que a gente sempre trabalha justamente pra não perder a nossa raiz enquanto amazônidas, paraenses”, destaca. “Eu sempre falo para os alunos que o prédio conversa com a gente dependendo da pergunta que se faça, então, ele mostra a temporalidade, as modificações que ele passou durante esses 305 anos que está em pé, o que a gente tira de ensinamento do prédio”.

Quem também trabalha em busca dos ensinamentos que a história e o patrimônio são capazes de proporcionar é a Cássia da Rosa, outra historiadora e funcionária do Sistema Integrado de Museus. Também no caso dela, o encantamento com o trabalho de preservação da memória iniciou ainda no período do estágio e segue durante a sua vida profissional desde 2015 até hoje. “Eu me encantei com esse trabalho de preservação da memória, de construção de novos acervos, documentos. Eu trabalho na Coordenadoria de Documentação e Pesquisa, onde a gente recebe a documentação referente a esses museus e também aos acervos”.

Dependendo da demanda recebida, a equipe de documentação e pesquisa atende a pesquisadores que demandam pesquisas relacionadas aos acervos e aos nossos espaços museológicos do Sistema Integrado de Museus. Um trabalho desenvolvido nos bastidores para que, por exemplo, os elementos que compõem uma exposição visitada pelo público ajudem a contar uma história ou estejam inseridos em um contexto.

“A gente tem esse processo de guarda documental, atendimento a esses pesquisadores e a esses espaços museológicos que, eventualmente, produzem exposições e solicitam pesquisas relacionadas a determinada temática. Por exemplo, está se aproximando o Círio, então, todos os espaços estão se preparando pra montar exposições relacionadas ao Círio, então, eles demandam essa documentação fotográfica, documentação jornalística e para produção de textos que possam auxiliar na expografia e até mesmo textos curadoriais”.