
Um grupo de artistas e ativistas resolveu aproveitar o portão principal da
Universidade Federal do Pará (UFPA) para fazer uma reflexão sobre as mudanças
climáticas no planeta. Eles estão criando um mural em grafite coletivo de 80 metros
de comprimento, chamado “A solução somos nós”, que faz referência à COP 30. A
obra teve início na segunda-feira (19) e deve ser finalizada nesta quinta-feira (22).
Essa iniciativa vai além de uma simples obra de arte visual, é um verdadeiro manifesto ambiental, feito especialmente para a preparação da COP 30. O projeto está sendo realizado com a colaboração de artistas de grafite envolvidos no movimento nacional de arte e ativismo chamado “Megafone Ativismo”, em parceria com o Coletivo Mairi, que reúne artivistas indígenas. A assinatura do trabalho fica por conta dos integrantes do coletivo: o artista paraense And Santtos, responsável pela intervenção no prédio do PPGL/UFPA; a artista indígena paraense Tai; a também artista indígena paraense Cely; além do artivista paulista Mundano, fundador do Megafone Ativismo, sob curadoria da indígena paraense Daniele Souza – Iacy Anambé, e artistas da comunidade local. O projeto também conta com o apoio institucional do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia/UFPA. Na grafitagem, foram usados o carvão e as cinzas de queimadas ocorridas em 2024, que destruíram 40 mil hectares de floresta, parte dos 80 mil hectares que existiam originalmente na região.
Também foi recolhido material da comunidade quilombola Cacoal, em Moju, diretamente da Casa de Farinha do quilombo, para valorizar a importância dos povos tradicionais em seus processos artesanais, reconhecendo seu papel como guardiões de suas culturas ancestrais e do respeito à floresta amazônica. Além disso, os artistas usaram argilas das ilhas de Caratateua e Cotijuba como pigmentos na pintura do painel.
A curadora Daniele Souza explica que o projeto conta uma história sobre a crise ambiental que estamos vivendo atualmente, como as secas, as queimadas e o aquecimento global. Ela destaca que a crise climática é uma questão muito importante do nosso tempo. “No projeto, eles mostram de forma visual esse cenário de desmatamento e queimadas, e também apresentam a solução, que somos nós mesmos, representados pelo nome do mural. Por isso, a criação desse mural tem um significado muito simbólico”, esclarece.
A artista Cely compartilhou um pouco sobre sua participação no mural. Ela explicou que seus trabalhos costumam abordar temas como ancestralidade e a figura feminina, que ela considera muito importante. Ela comentou que, sempre que trabalha, busca falar sobre a questão amazônica. “As dificuldades que enfrentamos aqui e o que é ser artista nesta região, algo diferente de outras partes do país. Toda experiência e vivência no território amazônico estão presentes no mural, ajudando a dar uma identidade própria ao grafite, com uma cara bem amazônica”, finaliza.