MULHERES

Alegrias e desafios da atuação feminina nas feiras de Belém

Mulheres que trabalham com as vendas dos mais variados produtos nas feiras falam da rotina e dos desafios diários.

O Dia Internacional da Mulher é celebrado neste sábado (8) e é uma data que destaca a luta histórica das mulheres por direitos. A data tem origem nos movimentos feministas do século XX, especialmente nas reivindicações por melhores condições de trabalho, direito ao voto e igualdade social.

O DIÁRIO conversou com quatro mulheres, com idades entre 47 a 76 anos, que têm rotinas intensas de trabalho no Ver-o-Peso, em Belém, e ouviu sobre as lutas diárias e os desafios em conciliar trabalho e a rotina em casa com a família.

Há cerca de cinco anos trabalhando com a venda de roupas femininas no local, Socorro Paes, 47, comercializa vestidos, saídas de praia, saias de carimbó e outras peças destinadas ao público feminino. Todos os dias, Socorro acorda cedo, sai do bairro da Sacramenta, onde mora, e segue para chegar às 8h no Ver-o-Peso em uma rotina de trabalho que encerra às 16h.

Orgulhosa do ofício que realiza, a vendedora explica que sempre trabalhou bastante para conseguir o que queria. “Nunca dependi de homem algum para nada”, faz questão de ressaltar. É com as vendas das roupas no Ver-o-Peso que Socorro consegue viver, pagando as contas de casa e demais despesas. “Todo dia eu corro atrás para ir em busca dos meus objetivos”, relata.

Tucumã, bacuri e camapu. É com a venda destas frutas, entre outras, que Carmelita Rocha, 76, complementa a renda com a aposentadoria que recebe. Carmelita começou a trabalhar aos 20 anos no Ver-o-Peso com a venda de bananas, e desde então não parou mais no comércio de frutas. “Eu comecei vendendo uma caixa de banana. Depois passou para duas, três, até chegar em 10 caixas. Foi assim que iniciei aqui”.

Foi com a venda de frutas que Carmelita criou os dois filhos, hoje já adultos. A rotina de trabalho começa cedo, pois na madrugada ela sai do bairro da Condor para chegar às 4h30 no Ver-o-Peso e só sai de lá após às 15h. “Sabendo fazer as coisas, a gente consegue o que quer”, reflete. Há dias em que as vendas são muito boas, mas também há dias que deixam a desejar. “É um desafio diário quem trabalha com vendas. Eu comecei cedo aqui e estou até hoje após mais de 50 anos”.

Com quatro gerações na família trabalhando com as ervas e perfumes, Elizangela Costa, 51, explica que recebeu o negócio da mãe e já atua há duas décadas no Ver-o-Peso. “Começou com meu bisavô. Depois com minha avó, e em seguida com a minha mãe e agora sou eu”, ressalta. Elizangela acorda às 5h, no bairro Centro, em Ananindeua, para chegar às 8h no Ver-o-Peso, de onde vai para casa por volta das 18h.

“É um desafio ser mulher porque temos jornada dupla. São as obrigações de casa e do trabalho fora”, destaca. É com o dinheiro das vendas das ervas e perfumes que Elizangela paga a faculdade de medicina do filho Lucas, 21, assim como ajuda no transporte até Castanhal, cidade onde este estuda.

“A gente, enquanto mulher, faz várias coisas ao mesmo tempo para manter a nós e aos nossos filhos”, diz Elizangela que também já foi técnica de enfermagem e assistente social, mas largou estas carreiras para continuar a tradição familiar das vendas de ervas e perfumes.

Cominho, pimenta-do-reino e colorau são alguns dos itens que garantem a renda mensal de Maria do Socorro Ferreira, 60, que trabalha há quase 30 anos no Ver-o-Peso. Em 1994, Maria começou a trajetória no local vendendo lanches e depois passou para a venda de cheiro-verde. Atualmente, a barraca da vendedora tem os mais variados temperos.

A rotina é puxada e exige que a vendedora acorde na madrugada, no bairro Parque Verde, para chegar às 5h no Ver-o-Peso e só ir embora após às 16h. Com o negócio, Maria criou os quatro filhos, hoje já adultos. “Nós, mulheres, precisamos nos virar nos 30. Maternidade e trabalho são desafios para todas nós. Já tivemos avanços, com a nossa inserção em profissões que antes era comum ver apenas homens, como policiais. As mulheres ganharam mais espaço, mas ainda precisamos avançar mais para termos igualdade”.

ROTINA

Acordar cedo e expor seus produtos em mercados e praças é uma rotina que faz parte do cotidiano de muitas comerciantes, como é o caso de Márcia Cristina Barbosa, 48 anos, que atua na Feira da Pedreira.

Márcia está há 20 anos nesse mercado, focando no setor de confecção. Foi com esse trabalho que ela e o marido conseguiram criar duas filhas e alcançar suas conquistas. De acordo com Márcia, a família começou vendendo apenas algumas sandálias, mas com o tempo a demanda aumentou e o negócio prosperou. O casal se reveza para atender à crescente procura na feira.

“Este lugar é como um lar para mim. Já tive um emprego formal, mas depois decidi trabalhar junto com meu esposo aqui. Costumamos chegar às 8h e sair por volta das 19h. Não fazemos pausa para o almoço. Foi aqui que descobri minha verdadeira vocação, uma atividade que é gratificante. Conhecemos tantas pessoas nesse ambiente,” relata.

Para Márcia, é uma grande satisfação perceber que a família alcançou diversos sonhos por meio do comércio. “A feira é uma bênção na nossa vida; conseguimos muitas conquistas graças a esse trabalho. Aqui estamos criando nossas duas filhas, uma já se formou e a outra ingressou na universidade esse ano. Sinto apenas orgulho da nossa jornada”, revela.

Em outra parte da feira, tem o serviço de assistência técnica de Jane Gama, 47. Ela está no ofício há mais de 15 anos, fazendo consertos de celulares e vendendo acessórios. Em sua banca, pode-se encontrar uma variedade de produtos, como capinhas, películas e fones de ouvido. Para ela, trabalhar na feira foi a solução para garantir o sustento das filhas.

JANE GAMA A LOURA, 47. FOTOS ANTONIO MELO

“A necessidade de criar dois filhos pequenos me trouxe a este lugar. Comecei como assistente no comércio, aprendi o ofício e, em seguida, abri minha própria assistência técnica aqui na feira da Pedreira”.

Ela comenta que as responsabilidades de cuidar da casa e trabalhar na feira são desafiadoras, mas também trazem satisfação. “Este é o meu meio de vida; minha renda vem desta banca. Não tenho do que reclamar, é verdade que nem todos os dias são simples, mas é daqui que obtenho o sustento da minha família”, afirma. “Já enfrentei diversas situações, fui tanto pai quanto mãe para meus filhos. No entanto, consegui criá-los bem; meu filho mais velho é advogado e o mais novo trabalha ao meu lado, seguindo a mesma profissão”.

Pamela Dias, 32, colabora com seu pai na feira vendendo hortifruti e concilia com aulas particulares. Formada em pedagogia, ela se considera empreendedora e sonha em ver seu negócio de produtos personalizados crescer, para que não precise mais depender de outras fontes de renda.

Ela compartilha que sua rotina é cheia de desafios, mas está disposta a enfrentar qualquer situação por seus filhos. “Tenho dois filhos e para garantir que tenham uma boa vida, divido meu tempo entre o trabalho na feira e as aulas de reforço. Deixo-os na creche e venho trabalhar. Gostaria de passar mais tempo com eles mas, neste momento, preciso me desdobrar. O que mais desejo é a felicidade deles e oferecer uma vida digna. Sempre fui assim, desde que me lembro, sempre busquei meus objetivos, trabalhei duro e sempre valorizei ter meu próprio dinheiro e sustentar meus filhos”, relata.

Ela também menciona que está dedicando seu tempo ao empreendimento de produtos personalizados. “Aprendi a criar esses itens e trabalho com papelaria. Realmente gosto muito de trabalhar com isso ”.