
No trimestre encerrado em abril, o Brasil possuía 39,2 milhões de pessoas atuando de forma autônoma, registrando uma taxa de informalidade de 37,9% , de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), levantada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em maio.
O trabalho autônomo é uma forma de atividade profissional na qual o trabalhador atua de maneira independente, sem estabelecer um vínculo empregatício com uma empresa específica. Neste contexto, os profissionais autônomos prestam serviços de forma liberal, oferecendo suas habilidades a empresas ou pessoas, sem uma relação empregatícia formal.

Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.
Em Belém é possível encontrar diversos trabalhadores autônomos nos mais variados ramos. Eles conseguem a renda necessária para honrar os compromissos em casa e assim quitar as dívidas e manter a sobrevivência a partir do trabalho informal realizado diariamente. O DIÁRIO percorreu os bairros do Souza, Pedreira e Campina para ouvir sobre a rotina de cinco trabalhadores, com idades entre 25 anos a 64 anos, que dedicam a vida a este tipo de trabalho.
Na esquina da avenida Brigadeiro Protásio com a avenida Dr. Freitas, no bairro do Souza, o autônomo Adriano Pinheiro, 36, comercializa água e chopp de frutas para garantir o dinheiro do dia. Sob sol forte diariamente, o autônomo procura se proteger com a ajuda de um guarda-sol, uma rotina cansativa devido ao intenso calor. O trabalho inicia às 11h no local e se estende até às 17h, de segunda-feira à sábado.

ADRIANO PINHEIRO. Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.
“Eu estou aqui desde 2020, ano da pandemia. Na época era difícil conseguir emprego por toda aquela situação. Foi desta forma, com a venda de água, que vi uma chance de começar um trabalho”, explica Pinheiro. Ele ressalta que, atualmente, toda a renda que possui é obtida com a venda de água ao longo do dia. “Quando chove muito, as vendas caem bastante. Mas em dias de muito sol, consigo vender muitas garrafinhas. No verão, deve aumentar ainda mais a procura”, comenta sobre o cotidiano das vendas.
Nascido no Maranhão e radicado no Pará desde a década de 1980, o feirante Inácio Paulo Lima, 56, trabalha com a venda de farinhas na Feira Provisória da Pedreira. A rotina do feirante é bastante puxada porque ele está presente na barraca de domingo a domingo, incluindo feriados, um cotidiano que exige bastante dedicação. “Como dependemos do público, precisamos estar sempre aqui para atender os clientes, em diferentes horários”, afirma.
Antes de ser feirante, Lima descreve que já foi, entre as atribuições, garçom e motoqueiro, até chegar na atividade que hoje garante o próprio sustento e o da família dele. “Desde o início de 1990 me firmei com a venda das farinhas. Criei os meus dois filhos com a comercialização desses produtos”, diz sobre as farinhas encontradas na barraca dele oriundas de municípios como Bragança, Igarapé-Açu e Irituia. “Construí minha vida desta forma, tenho muitos clientes e também faço entrega nas casas”, conta um pouco sobre o dia a dia.
NOITE
Também trabalhando na Feira Provisória da Pedreira, mas no ramo das frutas, a autônoma Gabrielle Alves, 25, fica na barraca da família dela nos turnos tarde e noite. Alves começou com as vendas aos 19 anos. Desde então, dedica-se cotidianamente ao comércio de frutas na Pedreira. “Eu gosto porque é daqui que eu consigo pagar minhas contas, sustentar meu filho de dois anos e honrar com meus compromissos.”
Conforme ela explica, a interação com o público é um aprendizado diário e constante que rendeu amizades e boas vendas. “Temos clientes que quando chegam aqui, perguntam sobre os preços, querem levar apenas uma coisa, mas conversam, falam situações da vida deles, e quando ele percebe, já está levando uma sacola cheia”, explica. “Tem dia que é calmaria, mas também tem dia que é uma correria de tantos clientes e pedidos”, explica Gabrielle Alves sobre a dinâmica de trabalho na feira.
Já na área do Comércio, região de intenso movimento no bairro da Campina, o autônomo Tomé Rodrigues, 64, realiza a venda de diferentes itens, como água, balas, salgadinhos, lanches e refrigerantes em um ponto na rua Santo Antônio, importante via comercial. “Logo cedo, às 8 da manhã, já estou a postos com os produtos organizados e arrumados para vender aos clientes”, informa, dedicado.
Desde o ano de 1993, ele trabalha no mesmo local, ao lado de uma famosa loja de tecidos que data do período da Belle Époque, em Belém. Mas antes, o autônomo também trabalhou com vendas em outras vias, como a rua Treze de Maio, Boulevard Castilhos França e avenida Portugal. “Eu conheço muitas histórias dessa região, assim como muitas pessoas. Fico até o finzinho da tarde aqui, às 17h, sempre atendendo as pessoas muito bem e sendo grato porque com estas vendas eu consegui muita coisa na vida, como criar meu filho que hoje já é adulto.”
Ainda na rua Santo Antônio, em frente à Praça Visconde do Rio Branco, Cleide Quaresma, 57, tem um público-alvo muito peculiar: a criançada. Isso porque os principais itens vendidos na barraca da Cleide são brinquedos dos mais variados tamanhos, tipos e cores, como pelúcias e artigos de plástico. Caprichosa na arrumação das mercadorias, Cleide informa que a rotina de trabalho começa no Comércio às 9h30 e só finaliza às 17h, quando o movimento na área despenca.
São quase 30 anos trabalhando com vendas, o que revela experiência dela no ramo. A autônoma explica que é com a comercialização das mercadorias que consegue obter renda para o pagamento de contas em casa. “Como a gente trabalha com vendas, há momentos em que elas são maiores, como por exemplo no Dia das Crianças e no Natal. São sempre épocas boas para vendas de brinquedos”, comenta.