BELÉM REDESCOBRE SUA DOCA

A Doca que você não conhece: histórias enterradas sob o asfalto

Pouca gente imagina, ao olhar a modernidade dos prédios da avenida Visconde de Souza Franco, que a famosa Doca já foi um cenário rural

Nova Doca: de igarapé e vacarias a parque urbano moderno
Nova Doca: de igarapé e vacarias a parque urbano moderno

Pouca gente imagina, ao olhar a modernidade dos prédios da avenida Visconde de Souza Franco, que a famosa Doca já foi um cenário rural, com igarapés navegáveis, palafitas e vacarias. O que hoje é considerado o metro quadrado mais valorizado de Belém passou por um processo intenso de transformação ao longo das décadas — e agora entra em mais uma fase de renovação.

Pouca gente imagina, ao olhar a modernidade dos prédios da avenida Visconde de Souza Franco, que a famosa Doca já foi um cenário rural
Pouca gente imagina, ao olhar a modernidade dos prédios da avenida Visconde de Souza Franco, que a famosa Doca já foi um cenário rural

A Nova Doca, como vem sendo chamada, está passando por um grande projeto de requalificação urbana, fruto de uma parceria entre o Governo do Pará, Governo Federal e Itaipu Binacional. A obra cobre 1,2 km de extensão, com melhorias como drenagem, paisagismo, ciclovia, passarelas e substituição das comportas que controlam o fluxo da maré — um reforço essencial para prevenir inundações.

Do igarapé ao centro urbano

A área que hoje abriga o canal da Doca já foi o leito do Igarapé das Almas — ou das Armas, segundo diferentes versões históricas. As águas da Baía do Guajará avançavam até a altura do atual Ginásio Altino Pimenta. Era uma região de criação de gado leiteiro e granjas, margeada por palafitas. Pequenos barcos atracavam ali, abastecendo o comércio local.

A origem do nome “das Armas” pode estar relacionada à Revolta da Cabanagem, quando o local teria servido como esconderijo de armas dos cabanos. Já “das Almas” faria referência ao Igarapé da Cruz das Almas, próximo à Praça da República.

Transformações aceleradas

O grande marco da urbanização ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970, durante o regime militar. Em meio ao chamado “milagre econômico”, o igarapé foi aterrado para dar lugar à avenida. A inauguração oficial aconteceu em 1972, e o local passou a atrair investimentos e grandes empreendimentos imobiliários.

Com a verticalização nos anos 1980 e 1990, a região passou por um processo de elitização. A população que vivia nas palafitas foi deslocada, em sua maioria, para a Nova Marambaia.

Memórias vivas

Apesar das profundas transformações, algumas memórias resistem. O historiador Antônio Carlos Lobato conta que sua família mora na Doca desde 1929 e relembra os tempos em que barcos ainda circulavam pelo igarapé. Sua mãe, hoje com 68 anos, lembra de atravessar a rua por pontes de madeira.

Na paisagem, ainda há resquícios da antiga Belém. Um dos prédios mais antigos abriga atualmente uma farmácia, mas em sua fachada ainda se lê: “Manufactura de Fumos Democrata”. Outro ponto icônico é a centenária Tabaqueira, que continua atraindo visitantes curiosos.

Homenagem histórica

A avenida leva o nome de Visconde de Souza Franco, título concedido a Bernardo de Souza Franco, jurista paraense que governou o Estado entre 1839 e 1840. Ele também foi um dos líderes do movimento que apoiou a adesão do Pará à Independência do Brasil, em 1823.