Cintia Magno
Gênero musical que é fenômeno no Brasil, o sertanejo também vem dominando a programação das rádios na Região Norte. Das 10 músicas mais tocadas nas rádios do Norte do país em abril de 2024, oito eram interpretadas por duplas e cantores sertanejos. O cenário é apontado pelo ranking realizado pelo Ecad, entidade brasileira responsável por arrecadar e distribuir os direitos autorais relativos à execução pública de músicas.
Ainda que o brega continue sendo o grande alicerce da programação musical da 99 FM, o diretor da rádio, Jorge Kobara, destaca que o sertanejo paraense também tem uma excelente aceitação entre os ouvintes. Ele considera que, a partir do momento que a música sertaneja é bem-feita e produzida, ela é naturalmente bem aceita pelo público. “Da mesma forma que o nosso brega dominou o nosso Estado e hoje está se expandindo Brasil afora, muitos talentos estão surgindo no Pará e ganhando seu espaço no mercado fonográfico sertanejo”, considera.
“Temos vários artistas sertanejos do nosso Pará que fazem um grande sucesso entre o nosso público: Thiago Costa, Wilian Cezar i Cristiano, Willy Lima, Beto e Leno, entre outros talentos. São produtos que possuem uma grande penetração perante nossos ouvintes, igual ao nosso brega”.
Natural de Mãe do Rio, Nordeste do Pará, o cantor Thiago Costa iniciou a sua trajetória na música sertaneja ainda na infância. Com 13 anos de idade, acompanhado de um amigo que tocava teclado, Thiago começou a se apresentar em aniversários. Depois vieram os convites para eventos maiores e foi quando a carreira musical dele teve início. Mas a memória afetiva do cantor com o gênero sertanejo vem de antes deste momento.
“Eu ouvia no carro do meu pai, na época da fita cassete. Eu ficava ouvindo ele cantarolando as músicas sertanejas, na época do Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, que era o auge desses artistas, e a gente passava a tarde inteira cantando as músicas sertanejas”.
Do início das apresentações em Mãe do Rio, o cantor traçou uma trajetória de sucesso no gênero que lhe acompanha até hoje. Neste ano de 2024, Thiago Costa chega a 13 anos de carreira solo com uma agenda de 20 a 25 shows por mês. E na percepção dele, que acompanha o cenário do gênero musical de dentro, não resta dúvidas de que a música sertaneja produzida no Pará é muito potente. “Eu avalio que a música sertaneja paraense é muito forte. Nós temos grandes artistas. O movimento musical sertanejo paraense começou com Beto e Leno, que são os pioneiros da música sertaneja aqui no Pará, e de lá vieram outras duplas e também apareceram os cantores solos”, considera. “Ao longo de todo esse tempo da minha carreira solo, eu acredito que o cenário da música sertaneja local vem se fortalecendo, aparecendo novos artistas. Graças a Deus, aonde a gente se apresenta, onde a gente faz shows, as pessoas cantam as músicas antigas, as músicas atuais e o sertanejo sempre se renova, ele é um ritmo que também se agrega a outros estilos”.
Nas diferentes regiões do Estado do Pará, o cantor aponta que há espaço para o sertanejo. Em grande parte, os shows são demandados pelas feiras agropecuárias, vaquejadas, aniversários de cidades, em baladas, em festas no interior e também na capital paraense. E as fronteiras não se limitam ao território paraense. “Eu fico muito feliz de ser um representante do sertanejo do Norte, de levar essa nossa música não só para o nosso estado, mas também para outros estados. Hoje, com as plataformas digitais, a gente consegue também demonstrar o nosso trabalho, as nossas gravações, as nossas músicas autorais para outros estados. Eu tenho vários ouvintes no Spotify de São Paulo, do Rio de Janeiro, Macapá, enfim, de outros estados que também curtem a nossa música”, conta, ao considerar que o gênero ainda tem muito a crescer no Pará. “Eu acredito que a música sertaneja paraense tem um potencial gigantesco para crescer cada dia mais. A música sertaneja é a música mais ouvida do Brasil, o gênero que dominou a lista das músicas mais ouvidas nas plataformas digitais do Brasil, então, o Pará vem também nessa mesma pegada, crescendo e evoluindo junto, e eu fico muito feliz de poder fazer parte dessa evolução e desse mercado”.
Foi também no mercado da música paraense que a dupla formada por um goiano e um tocantinense, Willian Cezar i Christiano, encontrou o caminho para construir uma carreira que já chega a 18 anos. Willian lembra que ele e Christiano chegaram ao Pará em 2004, quando Chris ainda era tecladista de sua banda. “O nosso trabalho acontecia nos bares de Goiânia e de algumas cidades do Tocantins. Após uma sequência de shows no período eleitoral, queríamos tirar umas férias e a convite da minha irmã viemos conhecer o Pará, ela morava aqui”, recorda Willian. “Durante essas férias aqui no Pará, minha irmã sugeriu que formássemos uma dupla porque naquela época não se tinha muitos cantores solo”.
A ideia sugerida pela irmã deu certo e Willian Cezar i Christiano conseguiram não apenas acompanhar a evolução do cenário musical sertanejo no Estado do Pará, como ser parte deste crescimento. Willian Cezar considera que houve uma grande mudança no mercado desde que ele e Christiano iniciaram como dupla. “Quando chegamos aqui, no final de 2004, existiam apenas 2 ou 3 duplas de expressão na capital. Em comparação ao cenário atual, a evolução foi grande. Hoje temos muitos cantores desse segmento e também várias casas de show que tocam esse estilo. A gente ralou muito para conseguir espaço”, considera. “São 18 anos nesse estado que abraçou nosso trabalho. Somos muito gratos ao Pará!”.
Todo o trabalho desempenhado pela dupla levou-os a se apresentar em quase todas as regiões do Estado, do Marajó ao Sul do Pará, de Santarém a Paragominas. Caminho que eles pretendem continuar expandindo cada vez mais, sobretudo a partir de uma nova fase vivenciada pela dupla. “Desde o ano passado nos unimos à Cravo Entretenimento, produtora que hoje gere nossa carreira. A partir daí voltamos a gravar e trabalhar nossas músicas autorais. Esse ano lançamos a música ‘O álcool ameniza’, que tem um ritmo de sofrência. Hoje ela toca nas rádios mais conhecidas da capital, e tem grande aceitação do público”, conta. “Nas noites Belenenses, temos dois projetos musicais consolidados, a ‘Terça do Modão’, que acontece no Emporium, todas as terças, há mais de 9 anos.
E o projeto ‘Moda Boa’, que acontece no Manga Jambú, toda quarta. Em ambos os projetos nós interpretamos grandes clássicos da música sertaneja, em novas versões”.
Não apenas para o trabalho autoral, mas para todo o cenário da música sertaneja produzida no Pará, Willian Cezar visualiza um futuro promissor para o gênero musical. “Com a crescente evolução do segmento no estado, muitos artistas estão se revelando. Compositores e produtores também. Creio que muito em breve sairão daqui grandes sucessos. A música sertaneja é contagiante de Norte a Sul do Brasil. E o Pará não fica de fora… É um estado que tem grandes talentos”.
Outra grande representante dos talentos guardados pelo Estado do Pará, a cantora Thais Garcia vivencia um novo momento na carreira. Após o encerramento de ciclo na dupla que formava com a irmã Thainá, agora Thais Garcia segue firme em sua carreira solo e com agenda de shows aberta.
Natural de Santa Maria do Pará, Thais lembra que a relação com a música sertaneja vem desde a infância, influenciada por uma pessoa em especial. “O sertanejo sempre fez parte da minha vida, principalmente o sertanejo raiz. Sem sombra de dúvidas foi o que fez eu me encontrar na música, foi o que me fez virar cantora”, considera. “Claro que eu não posso deixar de agradecer a uma das pessoas mais importantes da minha vida e que colocava para eu ouvir, todos os dias, um bom modão, uma boa música romântica, um bom sertanejo raiz, que foi a minha vozinha, a Dona Raimunda. Ela não está mais aqui entre a gente, mas eu sinto ela sempre no meu coração, todos os dias, e sinto que ela está me apoiando demais nesse meu novo projeto”.
Thais considera que o povo paraense recebe a música sertaneja muito bem, justamente pelas letras que o gênero expressa e que, muitas vezes, expressam episódios e sentimentos que já foram vivenciados pelos admiradores do gênero. Uma característica que ela pretende valorizar em sua carreira.
“Sinto que o sertanejo tem se modificado, mas sempre de acordo com o que o público gosta de ouvir. Nesse meu novo projeto, nessa minha nova carreira solo, quero fazer justamente um repertório que vá mexer com os corações do público que me ouve, quero também passar mensagens importantes, quero poder expressar todos os sentimentos do povo através da minha música. Isso, para mim, seria gratificante e prazeroso”.