Revista Agropará

“Café de açaí” já poderá ser vendido

Após regulamentação do produto pelos órgãos sanitários, empreendedores esperam que bebida caia no gosto popular
Após regulamentação do produto pelos órgãos sanitários, empreendedores esperam que bebida caia no gosto popular

Diego Monteiro

A Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) aprovou, recentemente, o regulamento técnico que estabelece o Padrão de Identidade e Qualidade do grão de açaí torrado e moído. Com a aprovação, o produto poderá ser comercializado como alimento, ampliando as possibilidades de utilização e diversificação agroalimentar, agregando valor à cadeia produtiva do fruto.

Esse regulamento técnico só foi possível graças às pesquisas realizadas pelas Universidades Federais do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA), além da Estadual (UEPA). Os estudos abordaram detalhadamente questões microbiológicas, toxicológicas e de inocuidade do grão de açaí torrado e moído, comprovando que a bebida derivada desse processo não apresenta riscos à saúde.

Portanto, com a publicação da portaria Nº1597/2024, o Pará se destaca como o primeiro estado brasileiro a regulamentar a atividade. Os estabelecimentos têm agora um prazo de 180 dias para se adequarem às novas normas estabelecidas. Esse período de adaptação é essencial para garantir que todas as práticas estejam em conformidade com os padrões de qualidade e segurança exigidos.

José Severino, fiscal estadual agropecuário (FEA) da Adepará, afirma que os produtos devem obedecer normas higiênico-sanitárias, boas práticas de produção e especificações de padronização. É obrigatório o registro do produto na Agência, no setor de Produto Artesanal ou Industrial Vegetal, o que garante o selo de inspeção, certificando que o produto foi inspecionado e não oferece riscos à saúde.

Severino destaca ainda a importância da Agência de Defesa Agropecuária no desenvolvimento socioeconômico do Estado e nesse processo. “Com o regulamento, ampliamos a abrangência do registro para incluir o grão de açaí torrado e moído. Tivemos grande apoio das Universidades, que desenvolveram estudos fundamentais para a conclusão e finalização da norma legal”, disse.

A aprovação foi realizada pela Comissão Estadual de Padronização de Produtos de Origem Vegetal (Cepov), composta pela Adepará, Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre outros órgãos.

Comercialização

Pela regulamentação recém-criada, o produto deve ser coletado em até 24 horas após o despolpamento do fruto. A torrefação precisa ser em temperatura entre 150ºC a 240ºC, entre 30 a 60 minutos. Está proibido o uso de aditivos durante a fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação do produto, etc.

Outro ponto é que os estabelecimentos comerciais deverão ficar longe de “áreas sujeitas a odores indesejáveis e que não estejam expostas a inundações”, bem como ser construídos em alvenaria, com luz abundante e com áreas para recepção e limpeza, processamento, depósito e armazenamento, escritório e instalações sanitárias – estas últimas isoladas das demais -, conclui José.

Atualmente, existem em torno de 50 fábricas no Estado, que produzem cerca de 50 toneladas por mês do produto. Entre elas está a Grancastanha, localizada em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém (RMB), que produz os grãos torrados e moídos que podem ser usados como bebida quente ou gelada, além de poder se misturar em sucos e suplementos, pontua Renan Amaral, CEO da empresa.

De acordo com Amaral, o regulamento técnico que autoriza a comercialização do produto é acertado, frente a um produto novo e com uma grande relevância socioeconômica. Além disso, esta é uma forma de produção sustentável, visto que trata-se da reutilização do caroço do açaí, que após o despolpamento, acaba sendo descartado, na maioria dos casos, em locais impróprios, poluindo o meio ambiente.

“Nós, pequenos produtores, aguardávamos há mais de um ano a regulamentação para trabalhar adequadamente e de forma segura para os consumidores. Atualmente produzimos em média mil quilos ao mês e, a produção diminuiu para que fosse trabalhado a regulamentação. Após essa notícia da Adepará, estamos trabalhando para aumentar o volume de produção”, disse o CEO.

Outro detalhe, reforça Renan, é a expansão da marca para outros territórios. “Participamos de feiras de microempreendedores, fazendo com que nosso produto chegasse em todo o Brasil. Além disso, o nosso produto está disponível nos shoppings, no aeroporto e nas feiras da cidade. Mas estamos confiantes que possamos escalar ainda mais esse ano após a regulamentação”, concluiu.

Ponto de venda

O grão de açaí torrado e moído já pode ser encontrado nas grandes redes de supermercados e feiras livres da Grande Belém. No Ver-o-Peso, por exemplo, é possível encontrar o produto de diferentes marcas, tipos e preços. As embalagens de 250 gramas custam em média R$ 20, mas os feirantes garantem que é possível adquirir o produto em promoção: três por R$ 50.

Em relação às vendas, os trabalhadores informaram que ainda são tímidas, mas têm melhorado. Uma das estratégias usadas para alcançar o público é preparar a bebida e apresentá-la aos consumidores. “Só mostrando não compram, mas quando degustam a bebida quentinha, a história é outra, pois passam a sentir o sabor e garantem a semelhança com o café”, diz Jonis Lopes, 35 anos.

Para o feirante, essa é uma conquista de valorização dos produtos paraenses. “Esse item já deve ter ganhado outros estados, e a ideia é essa mesmo: mostrar que somos capazes de gerar novos produtos, com tecnologia e, principalmente, com segurança alimentar. Hoje estamos com poucas unidades, mas nos preparando para abastecer o mercado com o grão moído de café”, conclui Jonis.

José Cunha, 27, conta que a maioria dos clientes são de outras regiões. “Claro que temos os nossos nativos, mas a maioria de quem compra vem de outros estados, curiosos em conhecer tudo e todos os produtos que são relacionados ao açaí e acabam levando. Nós, graças a Deus, aproveitamos para tirar um dinheirinho a mais e com a regulamentação tudo pode melhorar”, considera o feirante.