Mais do que uma atividade econômica que é fortemente impactada pelas mudanças climáticas, o setor agropecuário pode ser também a solução para que os países consigam alcançar suas metas de redução de gases de efeito estufa (GEE). Foi essa a posição levada pelo setor do agro brasileiro à 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP29), realizada entre os dias 11 e 22 de novembro em Baku, capital do Azerbaijão.
Para o coordenador de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias, essa visão estratégica do agro para a busca de soluções contra as mudanças climáticas, inclusive, não é uma exclusividade do Brasil, mas de vários países que já incluem o setor agropecuário em suas ações de promoção de redução das emissões.
Neste sentido, Nelson avalia a participação do setor agropecuário brasileiro nas conferências do clima como uma grande oportunidade, sobretudo porque no Brasil já se pratica uma agricultura que se desenvolveu amplamente nos últimos anos, baseada em uma melhor produção e produtividade, e ainda em uma maior eficiência do uso dos recursos naturais.
“É o que nos permite ter, dentro da propriedade privada, uma componente florestal bastante representativa, cumprindo o Código Florestal e até excedente ao Código Florestal, e de outro lado investindo em uma agricultura de baixa emissão de carbono que é exemplo para o mundo. A gente produz com uma agricultura adaptada, eficiente, que produz uma quantidade maior de alimentos, garantindo a segurança alimentar, no entanto com uma eficiência bem melhor. A nossa taxa de conversão, de uso da atividade, de redução das emissões, a gente produz muito mais, emitindo muito menos quantidade de gases de efeito estufa”.
O agro na COP 29
Dentro da pauta discutida durante a COP29, Nelson destaca que alguns pontos são especialmente relevantes para o agro brasileiro. Grande foco de atenção nesta edição da conferência do clima da ONU, a questão do financiamento climático é um desses pontos chave.
“A gente entende que o Brasil é um país em desenvolvimento que tem um potencial muito grande de absorver as ações de mitigação, não só para cumprimento das metas próprias, mas também das metas de qualquer outro país parceiro que queira reduzir suas emissões. Então, a gente tem no financiamento o principal instrumento do meio de implementação dessas metas. O que acontece é que esse financiamento foi ignorado pelos países que teriam a responsabilidade de financiar a transição, essas ações de redução de emissões que não se consolidaram”, avalia.
“Então, como o setor agropecuário é um investimento e uma solução para o alcance dessas metas, a gente entende que o financiamento é um tema que deve ser a solução para que a gente alcance esses meios de implementação para que a gente consiga alcançar o objetivo do Acordo de Paris”.
Outro ponto destacado pela CNA é o grupo de trabalho de Sharm el-Sheikh, instituído na COP 27, no Egito, em 2022, e que aborda questões ligadas à Agricultura e Segurança Alimentar. “Estamos no segundo ano de um planejamento do qual alguns pontos são importantes para a gente, como a questão, principalmente, do portal online de Sharm el-Sheikh, que vai trabalhar essas questões internas de oferta, procura, financiamento dessas atividades agropecuárias”, destacou Nelson Ananias, ao informar que o portal já foi lançado e já está acessível ao público.
“Tem também a questão dos workshops que vão tratar dos temas necessários para que se consolide essa questão do agro como solução do alcance da redução das mudanças climáticas e, por fim, os relatórios. Então, também para nós é importante que o setor agropecuário mantenha ou consolide aquilo que foi demandado dele no início do trabalho em Sharme el Shake”.
Em relação ao tema da adaptação, a posição do agronegócio brasileiro é de que o Brasil se consolide como um grande exemplo de adoção de práticas sustentáveis no agro e de ações de adaptação e mitigação.
“O Brasil é um grande player, um grande exemplo de adaptação mundial, principalmente através da agricultura. Se a gente não consegue mitigar as ações das mudanças climáticas, a adaptação surge – e hoje nas negociações está alcançando o mesmo peso da mitigação – como solução na redução da emissão de gases efeito estufa. Então, o Brasil tem que entrar na discussão de adaptação, levando em consideração o seu potencial e o seu grande conhecimento em medidas de adaptação, principalmente no setor do agro”, defende o coordenador de Sustentabilidade da CNA.
“Por fim, a gente fala da transição justa, que é um tema que também foi lançado na última COP, mas que também não andou muito porque falta o conceito. É uma discussão em caminho ainda, mas que para nós é importante que essa transição junto reconheça também o Brasil como um país que precisa se desenvolver, que tem uma série de carências e que deve ser incentivado a aderir a esse protocolo e que essas ações de transição justa compreendam a realidade do Brasil e que possam ajudar nessa transição do Brasil para um país produtor menos emissor”.
PORTAL
Previsto durante a 27ª Conferência das Partes pelo Grupo de Trabalho de Sharm el-Sheikh sobre a implementação da ação climática na agricultura e na segurança alimentar, o portal on-line de Sharm el-Sheikh traz informações sobre projetos, iniciativas e políticas para aumentar as oportunidades de implementação da ação climática para tratar de questões relacionadas à agricultura e à segurança alimentar. O portal já está no ar e pode ser acessado através do endereço https://unfccc.int/topics/land-use/workstreams/agriculture/sharm-el-sheikh-online-portal.