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Muita embalagem, pouco conteúdo

Em um mundo marcado pelos traumas da pandemia, das guerras, do uso da inteligência artificial sem ética e dos discursos de ódio na internet, narrativas com temas apocalípticos são um prato cheio para filmes, já que a cultura costuma ser um retrato da sociedade na qual ela está inserida. Porém, de boas intenções, assim como o inferno, o cinema e o streaming também estão cheios.

Essa semana estreou “O Mundo Depois de Nós” (2023) na Netflix, baseado no livro “Leave The World Behind”, do autor Rumaan Alam. O problema é que o diretor, Sam Esmail, mirou em M. Night Shyamalan e seu “Batem à Porta”, na construção de um thriller de suspense sobre o fim do mundo em uma perspectiva local, mas se perde em uma construção estética voltada mais para o deslumbramento do diretor com o próprio trabalho do que exatamente com a ambição narrativa.

A grande questão é que Esmail parece entender que a urgência da história está mais na trilha sonora irritante, cenários mutáveis e planos sequências distorcidos do que na relação dos personagens com si próprios enquanto o ambiente definha. Aí, o diretor (que também é roteirista) não sabe o que fazer com o fiapo de história que cria, aproveitando para inserir diálogos risíveis e situações-chaves que não terão função nenhuma mais adiante na história. Afinal, que tipo de catástrofe estamos testemunhando? É ambiental, social ou tecnológica? No fim, é tudo e nada ao mesmo tempo.

É claro que não precisamos explicar tudo que ocorre em uma história para esta gerar certo fascínio no público, mas jogar elementos na cara do espectador e depois descartá-los não ajuda muito a entender ou, pelo menos, se envolver com a dinâmica proposta. E aí temos um final nem um pouco condizente com tudo que foi jogado por mais de duas horas até ali. “O Mundo Depois de Nós” se vale do ótimo elenco que tem em mãos, mas peca por não dar função para parte dele. Pelo menos a estrela Julia Roberts se sai bem como a executiva protetora da família, mas com tendências racistas.

E temos, novamente, mais um filme polêmico e vazio feito pelos algoritmos da Netflix para agradar seu público padrão, além de gerar polêmicas e debates nas redes sociais. E é só isso mesmo.

SESSÃO HISTÓRICA

Em conjunto com o professor Sávio Stoco, da UFPA, especialista na obra do cineasta Silvino Santos, e com a correalização da Cinemateca Brasileira (SP), a Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) fará uma exibição especial, em Belém, do documentário “Amazonas, Maior Rio do Mundo”, dirigido por Silvino. Será dia 19, às 19h, no Museu da Imagem e do Som (MIS), com entrada franca. O filme, datado de 1918, foi considerado perdido por décadas, e retorna como relíquia do cinema nacional.

Só Julia Roberts salva “O Mundo Depois de Nós” de ser uma catástrofe literal. FOTO: divulgação