Psica leva Jorge Ben Jor e Alcione para o Mangueirão

Texto: Wal Sarges

Com seis dias dedicados a uma programação diversa, um dos grandes festivais de Belém, o Psica, se destaca trazendo este ano artistas consagrados na cena brasileira. Entre eles, Jorge Ben Jor, Alcione, Majur, Odair José e Azymuth, e promove diálogos entre a MPB e a cultura popular com as participações de mestres do carimbó e de aparelhagens tradicionais paraenses.

Iniciado na terça, 12, com os artista selecionados pela Aposta Psica, o Festival Psica segue nesta sexta-feira, 15, em quatro palcos na Cidade Velha, e no sábado, 16, e domingo, 17, no Estádio do Mangueirão.

Nesta sexta-feira, 15, o festival chega até as ruas, de forma gratuita, realizando um desejo antigo de seus idealizadores, comenta o produtor cultural Jeft Dias, que organiza o evento ao lado do irmão Gerson Dias.

“A gente vai fazer uma ocupação de parte da Cidade Velha, isso é inédito. É a primeira vez e a gente está muito ansioso por esse momento, porque sempre foi um sonho meu e do meu irmão de fazer uma ocupação na rua mesmo, de levar os palcos do festival para a rua”, comemora.

Serão quatro palcos: um próximo ao Píer da Casa das Onze Janelas, um em frente à Igreja de Santo Alexandre, um na Praça do Carmo e outro na Praça do Relógio. Duas das grandes aparelhagens da cidade, Rubi e Mega Príncipe Negro, estarão na Praça do Relógio, abraçando seu público.

“É um lugar que já foi palco de gravação de DVD da Joelma, de show da Maria Mendonça e, agora, vai receber uma programação do Psica com as aparelhagens. A gente está muito ansioso para isso acontecer, com as aparelhagens, e por trás, o Ver-o-Peso e o Mercado de Ferro. Acredito que vai ser algo muito bonito, a gente está muito feliz com essa programação”, diz Jeft Dias.

Tem ainda a participação especialíssima de Mateus Aleluia, músico, cantor, compositor e pesquisador, remanescente da formação original d’Os Tincoãs, banda surgida nos anos 1960, no Recôncavo Baiano, de influência afro-brasileira, incluindo a sonoridade vinda do candomblé e do samba de roda. Aos 80 anos, ele permanece produzindo em carreira solo com sonoridade única.

E Jeft lembra que há ainda mais: “É um dia gratuito, vai ter Kaê Guajajara, um espetáculo lindo com a Amazônia Jazz Band, junto com a Orquestra Som de Pau Oco, convidando mestres e mestras do carimbó. São mais de 50 pessoas no palco, vai ser um espetáculo incrível mesmo. Tem ainda Flor de Mururé e Fé no Batuque”, detalha.

MANGUEIRÃO

Pela primeira vez ocupando os gramados do Mangueirão, o Psica vai celebrar a cultura periférica com grandes atrações da cultura preta da Amazônia e do Brasil. Jorge Ben Jor, Alcione e MC Tha, Viviane Batidão e Gaby Amarantos, as aparelhagens Tudão Crocodilo e Búfalo do Marajó são estrelas confirmadas nos dois dias pagos do evento.

Também dispostos em quatro palcos, dois deles simultâneos, novos nomes da música nacional completam o line up, como FBC, Rachel Reis, Jaloo, Gang do Eletro, Majur, Don L e Nego Gallo, Odair José e Azymuth, Slipmami, Suraras dos Tapajós, entre outros.

“O sentimento é do trabalho e de realização. A gente sempre trabalhou, sempre derramou sangue, suor e lágrimas para que esse festival existisse e fosse levantado todos os anos, e está indo para sua décima primeira edição. Ele está crescendo hoje graças a muito sacrifício e trabalho. Este ano é o primeiro ano que a gente consegue tantos patrocinadores. Então é aquela coroação de um trabalho que a gente já vem executando desde 2012 na base da agonia e do sacrifício. Pra gente é muito gratificante ver o Psica tomando essas proporções, sendo um festival de destaque nacional”, celebra Jeft Dias.

Gang do Eletro retorna no festival

Um dos grandes destaques desta edição é o retorno da Gang do Eletro, que depois de muito tempo em pausa, faz seu primeiro show com sua formação original, com Keila (vocal), Marcos Maderito (vocal), Waldo Squash (DJ e vocal) e Will Love (vocal). O quarteto espera emocionar seus fãs neste show fazendo um repertório que lembra o auge do tecnobrega com músicas marcantes, assim como pretende mostrar uma nova cara do grupo.

É o que afirma Marcos Maderito: “Vamos fazer um show incrível, com grande performance e uma nova cara. A nossa ideia é fazer uma circulação com a banda no país. A nossa participação no Psica marca uma nova fase da banda. Já estamos planejando um novo EP da Gang de Tecnobrega, um revival numa onda mais atual. Não queremos perder a essência da banda. Temos uma química, nós quatro. Sempre que nos cruzamos, sabemos o momento certo de fazer nossas produções”.

Outra atração paraense que fez sucesso no início dos anos 2000 e que retorna no festival, em show exclusivo, é a La Pupuña, festejando 20 anos da banda.

RAP DO SUL

O rapper gaúcho Zudizilla traz ao Psica a turnê de “Zulu: Quarta Parede (Vol. 3)”, que inclui músicas de seus três discos, e promete intensidade em seu primeiro show no Pará. “É a primeira vez no Pará, até já senti o calor do Norte em participações em shows, mas nunca com o meu projeto. Sei que tenho uma base de adeptos no Pará e entendo também como uma oportunidade de chegar e atingir outras mentes e corações”, diz ele, destacando que o rap paraense ocupa um lugar especial na cena nacional e se revelando fã de artistas paraenses.

“O rap paraense tem a possibilidade de se manter fiel aos seus princípios, sem perder sua perspectiva de crescimento, já que o mercado e sua expansão tem permitido que sonhemos mais. Não acho que o Pará precise se dobrar às dinâmicas de som do mercado, dá para ver que a galera percebe muito bem as dinâmicas do Sudeste para se sobressair numa questão (babaca) de números que sabemos que ajuda quando um artista precisa circular. Conheci Kratos na curadoria de um festival e gosto muito, e sou extremamente fã da Nic Dias”, diz Zudizilla, para quem a cultura das aparelhagens, representada no Psica 2023, é uma das mais genuínas formas de música eletrônica do Brasil e dialoga diretamente com o rap. “A ideia da aparelhagem me lembra muito soundsystem que foi o início do rap”.

FESTIVAL PSICA 2023