Depois de meses pesquisando sobre a história da planta amazônica Guaraná, de nome científico Paullinia Cupana, a artista Barbara Müller lançou sua coleção de joias e quadros “Pelos olhos da Floresta – Olho de guaraná” na galeria de arte Kamara Kó. O interesse pela planta começou ao se perguntar sobre a raridade do encontro com a planta em si, apesar de ter nascido na região amazônica. Ao acessar as memórias da infância, o xarope de guaraná era muito presente, entre outros produtos, normalmente industrializados.
Sempre chamou atenção aquela planta/olho, mas nunca tinha visto pessoalmente, até que se deparou com a planta nas dunas de salinas quando criança e teve sua imaginação instigada. Após adulta, voltou a encontrar o fruto também em salinas. Após conversar com a pesquisadora do Goeldi Ima Vieria, soube que aquele solo não era propício ao guaraná e ao disponibilizar de registros fotográficos descobriu que era uma planta da mesma família mas
não da mesma espécie. Só foi possível de encontrar a planta original pela primeira vez durante esse projeto, após muitas andanças encontrou em uma casa particular pertencente ao Roberto Porpino na ilha do mosqueiro, e assim pode desenvolver experimentos que deram origem a criação de 8 joias e 1 quadro.
A cultura do guaraná vem das aldeias indígenas de Sateré Mawé em Manaus e na fronteira com o Pará, onde tradicionalmente passa por um minucioso processo até chegar na fase de ser lixado, com a língua do pirarucu ou com pedra para ser comercializado no estado de pó. Durante a busca da coleção, Nil, que possui cultivo de guaraná em Santarém foi um dos colaboradores com informações preciosas, além do Dr Emê ex funcionário da embrapa, e as
vendedoras de guaraná da praça Brasil.
O guaraná possui propriedades incríveis para a saúde, tem o poder de dar energia, longevidade, além de ter cosmologias preciosas. Ainda assim se tornou mais popular no Brasil o olho grego do que o próprio olho de guaraná enquanto amuleto. “Apesar de ser uma das poucas plantas da nossa cultura que tem origem genuinamente amazônica, surpreende que ela seja explorada na moda e nas grandes indústrias de fora, e muito pouco por nós em seu valor simbólico. Exceto na gastronomia, independente de ser matéria-prima nativa ou industrializada, o guaraná indiscutivelmente está presente nas práticas culinárias do estado, muito presente nas ruas, em Belém tem por exemplo na praça Brasil” diz Barbara.
Com desejo de ter uma joia amuleto que tivesse relação com nossas raízes, com a brasilidade e com os mistérios da região norte e da Amazônia que essa coleção nasce, e o desejo de se reconectar com a forma de olhar da floresta. A exposição terá o processo criativo compartilhado, além de um editorial fotográfico e da exibição de um mini doc que registrou o processo até virar produto.
Este projeto foi possível através do prêmio FCP de incentivo a Arte e a Cultura 2023 com apoio do Governo do Estado do Pará.