Campeonato inesquecível – e ruim
O nível do futebol brasileiro ficou cruelmente exposto na Série A deste ano, vencida pelo Palmeiras do paraense Rony. O vice-campeão Grêmio teve no veterano Luis Suárez seu grande destaque, eleito o craque da competição. Mesmo em fase decadente, com joelhos estropiados, Luizito brilhou e quase levou seu time ao título nacional. Essa situação surpreendente diz mais sobre o Campeonato Brasileiro do que sobre o goleador em fim de carreira.
Um campeonato que começou com outra espantosa novidade. A partir da terceira rodada, o Botafogo assumiu a liderança, passou a acumular pontos e emendar vitórias. Chegou a botar 15 pontos de vantagem na reta final do turno. Ninguém conseguia acompanhar o ritmo do Alvinegro.
É bem verdade que muitas equipes de ponta estavam preocupadas com outras competições – Libertadores e Copa Sul-Americana. Mas nem isso explicava a sensacional caminhada botafoguense. A troca de técnico, com a saída de Luís Castro, foi contornada com a chegada de Cláudio Caçapa, que manteve a pegada vitoriosa.
A incredulidade reinava. Ninguém entendia como o time medíocre do Campeonato Carioca tinha se transfigurado a ponto de tomar a liderança do Brasileiro e não permitir qualquer aproximação.
Enquanto isso, o Flamengo patinava sob o comando de Jorge Sampaoli. Sem conseguir ser competitivo, começou a perder jogos seguidos e mergulhou em crise, que proporcionou até briga nos vestiários. O artilheiro Pedro foi esmurrado pelo auxiliar técnico.
O Atlético-MG aparecia nas últimas posições. Felipão vivia fustigado pelas críticas. O que melhor se saía, distante do Botafogo, era o Palmeiras. O Grêmio, recém-saído da Série B, tinha em Luis Suárez a grande estrela, mas o time mantinha-se longe das primeiras colocações.
De maneira geral, o nível era fraco, com exceção de bons jogos realizados pelo Botafogo de Tiquinho Soares, artilheiro do primeiro turno, e seus companheiros Eduardo, Tchê Tchê, Adryelson e Lucas Perri. Os dois últimos se saíram tão bem que foram convocados para a Seleção.
Quando o turno acabou ninguém em sã consciência duvidava mais do Botafogo, que passou a ser visto como o futuro campeão. Talvez essa confiança excessiva tenha atrapalhado o time apenas regular e objetivo agora comandado pelo português Bruno Lage.
Com ele, o “tapetinho” do estádio Nilton Santos perdeu sua invencibilidade, justamente contra o rival Flamengo. Esse tropeço foi o primeiro sinal da derrocada que viria a seguir. Ainda assim, o time se mantinha 10 pontos à frente do Palmeiras quando Lage foi demitido.
Lúcio Flávio assumiu e o Botafogo mergulhou de vez ladeira abaixo. Houve nova troca de comando, e quando Tiago Nunes assumiu na 33ª rodada a liderança escapou. Para isso, contribuiu muito a derrota de virada para o Palmeiras, repetida depois diante do Grêmio de Luizito.
Reparem que estamos falando de um campeonato diferente de tudo até a 33ª rodada. O Botafogo era o grande protagonista, mas caiu de rendimento e foi incapaz de obter novas vitórias. Aí, o Palmeiras finalmente deu as caras. Mesmo sem brilho, conquistou o bicampeonato.
O nível técnico foi sofrível, com os times oscilando muito. O Grêmio, vice-campeão, teve a quarta pior defesa. O campeão chegou aos 70 pontos, mas esteve ameaçado até a penúltima rodada, o que acrescentou certa emoção à disputa final.
No fim das contas, o Brasileiro vai ficar marcado pelo futebol aquém do esperado e por um curioso desfecho: vencido pelo Palmeiras e perdido pelo Botafogo.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h, na RBATV. Giuseppe Tommaso e este escriba baionense participam dos debates. Em pauta, os preparativos da dupla Re-Pa para a temporada de 2024. A edição é de Lino Machado.
STJD decide: toda homofobia será castigada
No feriado de Conceição e Iemanjá, o torcedor do PSC foi surpreendido com uma notícia impactante: o técnico Hélio dos Anjos foi condenado pelo Pleno do STJD a cumprir suspensão de nove partidas, enquadrado por ofensas graves e homofobia. Significa que o treinador desfalcará o Papão à beira do gramado nos jogos iniciais da Copa do Brasil e da Série B.
Os incidentes ocorreram na partida Paysandu x Volta Redonda, na Série. Punido inicialmente com multa de R$ 1 mil e nove partidas de suspensão, o treinador teve a multa majorada para R$ 20 mil e mantida a pena inicial.
O recurso do clube foi julgado e a decisão proferida por unanimidade, não cabendo mais recurso. O setor jurídico do clube se movimenta para pedir a transformação da pena em serviços sociais ou comunitários, embora seja pouco provável que essa iniciativa seja acatada.
Na súmula, o árbitro narrou que aos 45 minutos do 2º tempo expulsou Hélio de maneira direta porque após o quarto árbitro levantar a placa de acréscimos, o técnico proferiu aos gritos as seguintes palavras: “vai tomar no c* c******, só 5 minutos” e “tá de sacanagem, veio aqui roubar nós”.
Não satisfeito, após o apito final, o técnico invadiu o campo e foi atrás do assistente Bruno Muller, xingando-o com termos homofóbicos. “O STJD não pode ser complacente com práticas discriminatórias, pois já passou da hora de adotarmos medidas enérgicas com penas relevantes e com caráter pedagógico na tentativa de cessar esse tipo de comportamento odioso, lastimável e inconcebível”, afirmou o auditor Maurício Fonseca.
E acrescentou: “Em certa medida, o mundo do futebol precisa encontrar-se com práticas de educação em direitos humanos. A educação em direitos humanos poderá atuar na mudança de corações e mentes que hoje destilam preconceitos que levam até a morte. Essas práticas devem alcançar atletas, comissão técnica, sócios, funcionários, patrocinadores e a torcida”.
Que a lição seja aprendida.