Pará

Mesmo com avanços, capacitismo é entrave para a inclusão de PCD’s

Gisele cita, por exemplo, obstáculos que existem ainda no transporte, principalmente no hidroviário FOTO: REPRODUÇÃO
Gisele cita, por exemplo, obstáculos que existem ainda no transporte, principalmente no hidroviário FOTO: REPRODUÇÃO

Cintia Magno

Mais de 18 milhões de pessoas com deficiência vivem no Brasil, o equivalente a 8,9% de toda a população brasileira a partir de dois anos de idade. Os números, apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2022, demonstram a representatividade dessa parcela da população no país. Mas apesar dos avanços já conquistados rumo a uma sociedade mais inclusiva, o capacitismo ainda é um entrave a ser enfrentado.

Presidente da Comissão PCD do Instituto Brasileiro de Direito da Família no Pará (IBDFAM/PA), a advogada Gisele Costa considera que o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado anualmente no dia 03 de dezembro, não deixa de ser, também, um dia de luta. “A gente luta todos os dias pela inclusão, e o que eu sempre digo é que sem acessibilidade não há inclusão. Então, não adianta a gente pensar a inclusão sem pensar na acessibilidade”.

Gisele considera que, no âmbito do Estado do Pará, já foi possível vivenciar avanços importantes rumo à inclusão, sobretudo no que se refere às políticas públicas voltadas às pessoas autistas. Mas ainda existem algumas barreiras que precisam ser superadas. “O Governo do Estado está fazendo uma série de políticas para as pessoas autistas, criando vários centros de referência, então isso é um avanço”, pontua. “As pessoas com deficiência estão na sociedade. Há 30 anos as pessoas com deficiência não saíam de casa, era aquele movimento de luta ainda, mas hoje não. Então, tivemos esses avanços ao longo desses 30 anos, mas a gente ainda precisa avançar porque a gente sempre quer algo melhor. A gente não quer o mínimo, a gente quer o máximo”.

Nesse sentido, a advogada considera que ainda é preciso retirar obstáculos, por exemplo, nas embarcações. “A gente recebe várias denúncias por falta de passagem, é a pessoa com deficiência que chega e dizem que não tem mais passagem, mas quando a pessoa olha não nenhuma pessoa com deficiência dentro do barco”, considera.

“Nós temos dificuldades ainda educacionais, a gente precisa contratar profissionais de apoio escolar. Eu estou sabendo que o Governo do Estado vai fazer um processo seletivo de contratação de profissionais de apoio escolar para os nossos educandos com deficiência, então, isso já vai ajudar muito porque não adianta a gente pensar em políticas públicas de trabalho, emprego e renda se a gente não tiver a base educacional. Então, a gente precisa ter essa Educação Básica, do ensino fundamental, do ensino médio, do ensino infantil para que as nossas crianças tenham essa base para poderem chegar realmente numa graduação, mas, para isso, também é preciso pensar nas escolas particulares”.

CAPACITISMO

Em paralelo a essas e outras medidas, Gisele reforça, ainda, a necessidade de se combater o capacitismo não apenas nas empresas, mas em toda a sociedade. “Nós ainda temos um grande problema, que é o capacitismo. Nós recebemos uma vez uma denúncia de uma pessoa surda que tinha doutorado, mas quando ela foi buscar um emprego numa empresa particular, eles ofereceram um emprego de serviços gerais para ela. E porque isso acontece? Porque ela é uma pessoa surda, então, isso é o capacitismo”, exemplifica.

“Ainda tem empresas que pregam o capacitismo, de achar que a pessoa com deficiência não é capaz de trabalhar, de ser um doutor, de gerir uma empresa. E aqui eu reforço, a gente não tem nada contra a função, o que a gente questiona é o capacitismo, é o fato de olhar aquela pessoa usuária de cadeira de rodas ou para aquela pessoa surda e achar que ela não pode ser diretora da minha empresa. Tem também o capacitismo dentro da própria deficiência, quando eu prefiro contratar uma pessoa monocular do que uma pessoa cega porque a pessoa monocular vai me dar menos despesa do que a pessoa cega, já que para receber a pessoa cega na minha empresa eu vou ter que adaptar os computadores da minha empresa. Então é nisso que a gente ainda precisa avançar e por isso o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência é um dia de luta”.