Coluna do Gerson: a Copa Verde e o silêncio da CBF

Coluna do Gerson: a Copa Verde e o silêncio da CBF

Sob a marca da lambança

Dos 24 clubes com vaga garantida na Copa Verde 2022 pelo menos cinco já sinalizaram que não irão participar da competição. O motivo é simples e bem conhecido: a CBF retardou tanto a confirmação do torneio que praticamente inviabilizou a presença da maioria dos times. A rigor, somente o PSC tem hoje condições de encarar a disputa.

Como a Série C ainda está em andamento, em sua fase de grupos, os bicolores terão um período mais curto de preparação, ao contrário de equipes que já encerraram participação no Brasileiro e desmontaram o elenco.

Manaus e Remo são os exemplos mais gritantes do estrago provocado pelos caprichos e omissões da CBF. Ao invés de assegurar ainda no primeiro semestre que a CV seria realizada, a entidade optou pelo silêncio, apesar das seguidas cobranças por parte dos dirigentes de clubes.

Quando finalmente definiu datas e forma de disputa, a CBF já encontrou boa parte dos clubes desmobilizados e sem elenco necessário para participar. A situação, a mais bizarra desde que a competição foi criada, pode resultar em debandada geral dos clubes.

Como o prazo para desistência termina amanhã, ao meio-dia, não haverá substituição de clubes, o que pode levar ao esvaziamento e até – hipótese mais remota – ao cancelamento da competição.

Um tremendo vexame, entre tantos outros já protagonizados pela CBF. Tudo poderia ter sido evitado apenas com a comunicação dos planos da entidade. Como normalmente a confederação não inclui a Copa Verde em seu calendário, ninguém estranhou a omissão a respeito do torneio.

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Imaginava-se que a disputa ficaria para o fim da temporada ou até para o início de 2023, como havia acontecido com a edição 2021, disputada no início de 2022. Diante do gesto de menosprezo e desrespeito por parte da CBF, os clubes têm razões de sobra para protestar.

O Manaus, através do presidente Giovanni Silva, sintetizou bem o problema: “É desleal participar de uma competição onde poucos clubes estão em atividade e a maioria, não. Tem de haver essa compreensão (…)”. 

“Não vou legitimar uma decisão que não foi feita com a presença dos clubes participantes”, queixou-se o dirigente do Manaus, observando que os responsáveis pela confirmação da Copa Verde “não tiveram compreensão com os clubes que encerraram o calendário”.

O Nova Venécia (ES) foi o segundo clube a anunciar publicamente sua desistência. Em seguida, vieram Grêmio Anápolis (GO) e Atlético Goianiense. 

Dos representantes paraenses, o PSC é o único que vai participar com força máxima, aproveitando o elenco da Série C. O time deve encerrar a participação no Brasileiro em 24 de setembro e terá mais de um mês de espera para a estreia na 2ª fase da CV, no dia 29 de outubro.

Tuna terá time mesclado, Remo ainda não decidiu

Pelo andar da carruagem, o Pará deve ter somente dois representantes na Copa Verde. De olho no grande atrativo, que é a garantia de entrada na 3ª fase da Copa do Brasil, com direito à bonificação de R$ 3 milhões, a Tuna segue treinando com elenco reduzido (23 jogadores) à espera da competição. Segundo o técnico Josué Teixeira, o time terá atletas do sub-17 e do sub-20, podendo adicionar jogadores mais experientes como reforços, além de remanescentes da Série D – Jayme, Alisson e Charles.

Já o Remo, atual campeão, vive situação mais incerta. Com quase todo o elenco liberado logo depois da eliminação na Série C, o clube não esperava que a pressão exercida pelas federações levasse a CBF a programar o torneio. Em entrevista, ontem, o presidente Fábio Bentes demonstrou revolta com a súbita mudança de planos, que apanhou o Remo completamente desfigurado.

A diretoria está discutindo os prós e contras da participação. “Nitidamente, não se pensou nos filiados aqui do Pará. A decisão tardia, de afogadilho, forçaria a montagem de elenco para um torneio de 20 dias. Isso atropelaria o nosso planejamento para 2023, com a contratação de novos jogadores por um período mínimo de três meses”, aponta Fábio.

A questão financeira terá um peso considerável na decisão que os azulinos irão tomar, provavelmente ainda hoje, a respeito da Copa Verde.

Jogar bonito e não vencer, o drama de Diniz

Quem vê o Fluminense jogar fica assombrado com a aproximação dos jogadores em campo e a facilidade para a troca de passes em velocidade. Em certos momentos, parece um time adaptado ao modelo das grandes ligas europeias. A correta utilização dos espaços curtos para empreender jogadas de alto nível é outro ponto a destacar.

O comandante é Fernando Diniz, que já experimentou em vários clubes o sistema de saídas rápidas e movimentação intensa. É um jogo cerebral e vistoso, vinculado às ideias do técnico que também é psicólogo por formação. Antes desta segunda passagem pelo Flu, seu trabalho teve maior repercussão no Audax, no Atlético-PR e no São Paulo.

Junto a isso, como é próprio do Brasil, passou a cultivar a fama do técnico que faz times jogarem bonito, mas que não ganham títulos. É verdade. Diniz anda precisando de um título para chamar de seu, consagrando uma filosofia de jogo que encanta a todos.

Ontem, diante do Corinthians pela Copa do Brasil, voltou a ser vítima dessa espécie de sina. O Tricolor jogou muito, envolveu o adversário, fez ampla variação de jogadas, marcou gols, mas acabou permitindo o empate no finalzinho.

O consolo é que Diniz é jovem, tem muito tempo pela frente para conquistar títulos importantes. Basta mirar no exemplo de mestre Telê Santana, que até triunfar no S. Paulo era criticado por treinar times que davam show, mas não levantavam taças.