Cintia Magno
Representantes de quase 200 países se reunirão, a partir do próximo dia 30 de novembro, para discutir compromissos para combater as mudanças do clima em todo o planeta. A 28ª edição da Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP28, ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e vem sendo apontada por especialistas como uma das conferências mais importantes desde o Acordo de Paris, na medida em que deverá concluir o primeiro Balanço Global do acordo, processo identificado pelo termo em inglês Global Stocktake (GST).
Desde que foram iniciadas, ainda em 1995, as Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC) se configuram como um local de negociação formal onde representantes de quase todos os países se fazem presentes para buscar soluções e estabelecerem acordos sobre as medidas que precisam ser adotadas para se combater as alterações climáticas e reduzir o aquecimento global.
Ao longo das quase três décadas em que a Organização das Nações Unidas (ONU) já vem reunindo não apenas chefes de estado, mas também a sociedade civil organizada nestas conferências, grandes marcos já foram vivenciados, como o surgimento do Protocolo de Kyoto em 1997 e que, naquela ocasião, estabeleceu metas de redução para gases de efeito estufa apenas para os países desenvolvidos; e o famoso Acordo de Paris, pacto global firmado em 2015 e ainda vigente, onde os países signatários concordaram em limitar o aquecimento global a 1,5°C em comparação com os níveis pré-industriais.
Neste ano, na COP28, os países signatários devem avaliar em que pontos foi possível avançar e o que ainda precisa ser mais bem trabalhado a nível global para se alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris.
Tendo como base esse primeiro Balanço Global do acordo, os países poderão rever seus compromissos e levar em consideração o seu desempenho quando forem apresentar suas novas metas na COP30, que tem o Brasil como país sede.
Com essa missão pela frente, o desafio que espera os representantes dos países membros não é pequeno. Às vésperas da COP28, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC) lançou um novo relatório que conclui que “os planos nacionais de ação climática continuam sendo insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5° C e para se cumprir os objetivos do Acordo de Paris”.
Portanto, o próprio relatório aponta que é necessário que mais medidas sejam adotadas, de maneira imediata, para reduzir ainda mais a trajetória das emissões mundiais e evitar os piores impactos das alterações climáticas. Nas palavras do Secretário Executivo das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, Simon Stiell, o relatório aponta que, no cenário atual, os países estão dando “passinhos de bebê” na redução de emissões.
No que depender do Brasil, segundo posicionamento apresentado pelo Governo Federal durante coletiva de imprensa realizada no Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) e transmitida de forma on-line, o comprometimento com a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1.5º C será defendido de forma bastante firme.
Durante o encontro sobre a COP28 com jornalistas, ocorrido no último dia 20 de novembro, o secretário nacional de clima, energia e meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Aranha Corrêa do Lago, destacou que o Brasil deverá defender a ciência como elemento essencial para guiar as negociações durante a COP28. “1,5° C é absolutamente o limite para que não tenhamos situações ainda mais dramáticas do que o que já está acontecendo nas mudanças do clima”.
O embaixador informou, ainda, que até o dia 20 de novembro a delegação do Brasil para a COP28 já reunia cerca de 2.400 inscritos, sendo cerca de 400 pessoas representantes do Governo, efetivamente. Segundo André Aranha Corrêa do Lago, o número de inscritos não significa que todos irão à COP, já que muitos acabam se inscrevendo para o caso de conseguirem viajar para o evento, mesmo que no momento da inscrição ainda não tenham essa confirmação.
ENTENDA
Conferência das Partes (COP)
A Conferência das Partes (COP) é o principal órgão de decisão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC). Anualmente, a COP reúne os representantes das 198 Partes que assinaram a Convenção-Quadro. A primeira reunião da COP foi realizada em Berlim, Alemanha, em março de 1995.
Partes
As partes são justamente os países signatários da UNFCCC, um tratado acordado em 1994 e que deu origem às conferências. Ao todo, 198 Partes são signatárias do tratado, o que equivale a 197 países e a União Europeia. Durante as conferências são realizadas complexas negociações entre governos, envolvendo autoridades de todos os países do mundo, bem como representantes da sociedade civil e da mídia global.
COP28
A COP28 será realizada entre os dias 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A previsão da presidência da conferência é de que mais de 70 mil pessoas participem das reuniões, incluindo chefes de Estado, funcionários governamentais, líderes da indústria internacional, representantes do setor privado, acadêmicos e pesquisadores e sociedade civil organizada.
Balanço Global
Seguindo o previsto no Acordo de Paris sobre o clima, a COP28 dos Emirados Árabes Unidos concluirá o primeiro balanço global (The Global Stocktake – GST), uma intensa avaliação sobre o progresso mundial em direção às promessas climáticas estabelecidas em Paris, permitindo a identificação de deficiências e o desenvolvimento colaborativo de soluções, tanto para o futuro imediato, como para além de 2030. Tal particularidade confere destaque à COP28, na medida em que, nela, os governos poderão tomar decisões em relação ao GST que podem ser aproveitadas para acelerar a ambição na sua próxima rodada de planos de ação climática, prevista para 2025.
Acordo de Paris
Adotado na 21ª edição da COP, o Acordo de Paris de 2015 foi um grande marco na ação climática multilateral liderada pela ONU. Entre as medidas estabelecidas, o acordo mobilizou a ação conjunta das partes em prosseguir os esforços para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até 2100 e para agir no sentido de se adaptar aos efeitos já existentes das alterações climáticas. Além do acordo em reação à temperatura, o documento também demanda que os países revejam os compromissos assumidos a cada cinco anos; que concedam financiamento aos países em desenvolvimento para atenuar as alterações climáticas, reforçar a resistência e aumentar a capacidade de adaptação aos impactos climáticos.
ESTRUTURA
As Conferências do Clima são organizadas em duas principais áreas chamadas Blue Zone (ou Zona Azul) e Green Zone (Zona Verde).
Zona Azul
A Zona Azul é gerenciada pela UNFCCC e só pode ser acessada por participantes credenciados pela ONU. Entre as pessoas que podem ter acesso à Blue Zone estão líderes mundiais, representantes de 198 Partes (países); observadores oficiais (agências da ONU; OIGs; ONGs); e meios de comunicação social. É neste espaço que ocorrem as negociações formais durante as duas semanas da conferência, bem como eventos da presidência e centenas de eventos paralelos, incluindo painéis de discussão, mesas redondas e eventos culturais.
Zona Verde
A Zona Verde, ou Green Zone, é gerenciada pelo país anfitrião da COP28, os Emirados Árabes Unidos (EAU), e é aberta a todos. Ela oferece uma plataforma para diferentes grupos, incluindo grupos da juventude, sociedade civil, ONGs, setor privado e povos originários, para que as suas vozes sejam ouvidas, promovendo o diálogo e a sensibilização para a ação climática. A Zona Verde terá uma programação com conteúdos selecionados, alinhados com dias temáticos, conferências, painéis de discussão, palestras, apresentações e mais. É onde também estará o Centro da Juventude – um local para os jovens debaterem, colaborarem e trabalharem em rede sobre soluções para as alterações climáticas.
Fonte: Com informações de COP28 UAE – United Nations Climate Change Conference.