Dr. Responde

Como ingerir álcool com segurança no calor extremo

O Pará adotou a Lei Seca nas eleições municipais no primeiro turno neste domingo, 6.
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DANIELLE CASTRO

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Consumir bebidas alcoólicas em busca de bem-estar durante as ondas de calor pode não ser uma boa ideia. O que muitos consideram um alívio para as altas temperaturas pode, na verdade, provocar uma desidratação ainda mais intensa.

Especialistas afirmam que a ingestão de álcool pode também agravar a situação de quem tem problemas cardiovasculares, neurológicos ou psiquiátricos. A recomendação durante as altas temperaturas é pegar leve no consumo alcoólico, não beber ou moderar bem, reforçando todas as rodadas com boas doses de água para compensar as perdas.

O farmacêutico bioquímico Rafael Appel Flores, diretor científico da empresa Dr. Fisiologia e pós doutor em neuroendocrinologia pela Universidade de São Paulo (USP), destaca que no calor é fundamental pensar no metabolismo das substâncias antes de ingeri-las.

O álcool consumido em dias quentes inibe a produção de um hormônio antidiurético chamado vasopressina (ou ADH), o que amplifica a desidratação e coloca em risco o organismo já prejudicado pela temperatura.

“Esse é um hormônio produzido em uma região do cérebro chamada hipotálamo e que é secretado pela glândula hipófise. O álcool inibe a ação desse hormônio e uma das ações do ADH é justamente nos rins, aumentando a reabsorção de água na hora que vai ocorrer a filtração do sangue e a formação da urina”, diz Flores.

Na prática isso significa que vamos urinar mais vezes do que precisaríamos só porque ingerimos álcool. “O rim começa a eliminar mais água na urina. Daí vem o efeito diurético que o álcool tem, por isso as pessoas tendem a ir mais no banheiro, por exemplo, quando tomam cerveja”, afirma o pesquisador.

E a perda de líquido que seria fácil de repor em um dia de temperatura amena, somatiza com a necessidade de equilibrar a temperatura.
“No calor o corpo naturalmente perde água através do suor para manter a temperatura corporal. Então, a gente já desidrata quando está em períodos muito quentes”, diz Flores.

Pessoas que têm problemas cardiovasculares também precisam ficar atentas, por uma tendência de mais variações na pressão sanguínea devido às altas temperaturas. “Se a pessoa ingere bebida alcoólica, isso pode potencializar essa carga no sistema cardiovascular e prejudicar ainda mais o controle da pressão”, avalia.

O especialista diz que o álcool, em geral, não é benéfico para a saúde humana, mas que isso não implica em deixar de consumir totalmente a substância. “O recomendável é sempre consumir moderadamente e que, entre um copo ou outro de cerveja, por exemplo, você tome água para que, consequentemente, não tenha um efeito tão prejudicial no seu corpo.”

A desidratação, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma grande preocupação diante do aquecimento global, uma vez que a água compõe 70% do organismo humano. Fundamental para as reações metabólicas, a água do nosso corpo contém eletrólitos e sais minerais que fazem o organismo funcionar e emitir informações importantes para a sobrevivência.

O corpo desregulado por falta de água pode apresentar sintomas como hipertermia (corpo muito aquecido), exaustão, confusão mental, ânsia e vômito, cãibras, alterações cardiovasculares e até falência de rins e órgãos, com chances aumentadas de mortalidade do paciente.

“Pacientes que não têm função renal podem induzir função renal por conta da desidratação, é um problema sério”, diz Natan Chehter, geriatra membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e do Hospital Estadual Mário Covas.

O médico reforça que idosos são um grupo particularmente sensível à falta de água no organismo e que o consumo de álcool piora uma condição já agravada pelo calor intenso.

“A desidratação tem consequências muito sérias. Um idoso pode ter alteração de estado mental, pode ter confusão, sonolência excessiva, ou ao contrário, pode passar por um período de agitação. Pacientes que já têm alguma doença, seja ela neurológica ou psiquiátrica, podem ter descompensação desses problemas”, afirma Chehter.