Sustentabilidade

Sustentabilidade também rima com solidariedade

Conscientizar a humanidade para esses assuntos é o primeiro passo para que se mude conceitos arraigados em uma cultura capitalista
Conscientizar a humanidade para esses assuntos é o primeiro passo para que se mude conceitos arraigados em uma cultura capitalista

Luiz Octávio Lucas

Com o advento da COP 30, a Conferência do Clima das Nações Unidas, tendo Belém como sede dos debates em 2025, é natural que a sociedade se interesse em temas como sustentabilidade, economia solidária, desafios das mudanças climáticas e redução das emissões de carbono e tudo mais que envolva o evento.

E não é para menos. Com cerca de dois anos para recebermos o encontro, que é considerado o maior e mais importante do mundo relacionado ao clima do planeta, conscientizar a humanidade para esses assuntos é o primeiro passo para que se mude conceitos arraigados em uma cultura capitalista que visa consumo e lucro a qualquer preço.

O professor João Cláudio Tupinambá Arroyo, economista autor de livros como “Amazônia: Desenvolvimento Sustentável em debate”, editado pelo Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) em 1997 e “Como lidar com uma Amazônia Sensível”, 2021, pela editora Unama, onde leciona, pontua que o debate é amplo e envolve uma palavra que não está no topo da nuvem de palavras que envolve a COP 30: solidariedade.

João Cláudio Tupinambá Arroyo, economista autor de livros como “Amazônia: Desenvolvimento Sustentável em debate”, editado pelo Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) em 1997 e “Como lidar com uma Amazônia Sensível”, 2021

“Como a sociedade pode se reestruturar para eliminar de uma vez a miséria? Se vivemos em sociedade, somos sócios, mas é uma contradição ser sócio-irmão e um come e o vizinho da casa ao lado não come”, exemplifica. “É algo tão banal e rotineiro, que é admitido como natural. É o avesso da constituição humana, de achar que o cara nasce para não querer trabalhar, mudar de vida. Isso não se comprova cientificamente. Começa na desigualdade da educação, da preparação da vida, e vai se desdobrar ao longo da trajetória de cada um”.

Arroyo pontua que é preciso ser solidário do ponto de vista econômico. “Isso não significa dar, mas se modificar. Não é dar uma cesta básica, mas desenvolver mecanismos para que a pessoa possa comer todo dia junto comigo, com a mesma dignidade”.

O docente da Universidade da Amazônia lembra que vivemos em uma sociedade que depois de 300 anos de capitalismo tem “dois terços da população no nível da pobreza para baixo. Metade da riqueza da humanidade está na mão de 1%. É uma lógica absurda que só vai levar ao colapso da sociedade”, avalia.

Arroyo garante que esse direcionamento como um debate necessário tem tudo a ver com a COP 30. “O cara recebe pra tirar madeira ilegal e vai devastar a floresta, matar indígena. A guerra não está só em Gaza. Está espalhada por todo o planeta. As bases da relação humana estão no conflito, riqueza e morte”, constata.

 

Modelo de desenvolvimento precisa ser inclusivo

Mas, afinal, qual a solução para a humanidade que o esperado encontro em Belém pode abordar? “É preciso se trabalhar um modo de vida includente em que todos os setores tenham uma vida digna. Se não construirmos isso e abrigarmos 99% da humanidade, a gente não vai ter chance de reverter a crise climática, que é produto da crise econômica. A forma como os seres humanos se relacionam reflete na forma como lidam com o meio ambiente”.

O professor Arroyo chama atenção até mesmo para o conceito de bioeconomia e dos nichos sustentáveis. “A economia é um sistema. É possível trabalhar com a ideia de nicho em aspectos muito específicos. Posso falar como estão falando na bioeconomia. Boi é bio, soja é bio. E não tem nada que devaste mais a Amazônia que boi e soja. Então o que é bioeconomia?”, questiona.

“Não se precisa de um caminhão para carregar essa produção? Não tem que ter uma formação técnica para orientar a formação? Esse termo nicho tem que ser muito contingenciado onde se aplica. A economia é um sistema. Não se tem como pensar em um modelo de desenvolvimento que não seja sistêmico. Tem que ser sustentável não só a agricultura, mas a indústria, a política”, sugere.

“Temos que trabalhar nessa cultura de produzir muito, o tempo todo, crescer infinitamente, temos que rever. As pessoas são a favor da mudança desde que não seja com elas. São a favor que não tenha miséria no mundo, que não se dê trabalho pra criança, desde que não mexa com elas”, cutuca.