Aline Rodrigues
O comediante Luciano Farinha, que faz vídeos de humor no Youtube desde 2013, quando criou o Canal Papa Chibé, acredita também que a cena local está crescendo bastante e a expectativa é que continue em ascensão.
“Já estou desde 2015 fazendo shows e costumo dar espaço para os novos. Muita gente começa e para, mas quem realmente quer fazer stand up, segue com a gente nos palcos. Levando em consideração os outros movimentos artísticos, ainda somos poucos, mas é uma arte nova, que algumas vezes não é bem compreendida”, avalia Farinha, que já se apresentou com vários comediantes reconhecidos, como Murilo Couto, Thiago Ventura, Kedny Silva, Nil Agra, Xanda Dias, entre outros, criou vários grupos de comédia e hoje faz parte do Papa Chibé Comedy Show, e com a marca do canal Papa Chibé ainda produz vários outros artistas.
O momento é bom, com aceitação dos nomes locais, garantem humoristas como Epaminondas, que recentemente se apresentou também no Theatro da Paz, com sessão esgotada.
“Está cada vez mais crescendo [a cena]. Há quatro anos, raramente tinha show em Belém com comediantes locais. Começamos a produzir novamente e a cena foi ‘esquentando’ de novo. Hoje acontece até mais de um show por noite em locais diferentes, com comediantes diferentes. Quanto mais gente fazendo é melhor”, opina.
Na conta de Luciano Farinha, unindo os veteranos e os novos comediantes, o mercado paraense tem pelo menos uns 40 profissionais na ativa, mas a expectativa e a torcida é para que esse número também cresça. Ele, pessoalmente, tem contribuído para isso não só agregando novos nomes aos shows, mas recentemente também ministrou até oficina de comédia stand up.
“Belém tem bastante público, o que falta ainda é os comediantes regionais serem mais reconhecidos. Quando vem comediante de fora, o público aparece, lota os teatros, e muitas vezes conhece os comediantes locais através desses shows, porque geralmente alguém abre o show, um ou dois comediantes. Depois o pessoal vem falar com a gente: ‘olha, não sabia que tinha comediante bom por aqui’. Então, com certeza, público tem, só nos resta conseguir chegar a eles com a informação de onde e quando estamos fazendo os shows por aqui”, pontua Luciano Farinha.
“Mesmo que o público de stand up em Belém esteja em ascensão ainda, mesmo com a pequena parcela de pessoas que consomem nosso trabalho, Belém é um mercado muito bom para a cena, tanto que quando famosos vêm de fora, conseguem fazer no mínimo duas sessões em lugares gigantescos”, acrescenta Natto Almeida, que desde de 2019 vem atuando como humorista em Belém.
Para Ronaldo Sandres, da produtora Sem Cenário, que tem trazido várias atrações para shows em Belém, o público paraense gosta muito de stand-up. Tanto que a produtora fez este ano apresentações de mais de 15 artistas, entre locais e nacionais.
“E todos com os teatros esgotados. Teve até três sessões que a gente chegou a fazer, teve outros com ingressos esgotados duas semanas antes do evento. Os humoristas de mais destaque daqui são o pessoal do Showpitel, o Epaminondas, o João The Rocha, a Natto Almeida. Buscamos sempre ajudar esses artistas, colocando em contato com artistas de fora e empresários, e sempre deixar eles abrirem o show de quem vem de fora. Assim já começa a fazer uma divulgação. Fizemos assim com o Showpitel, para ficar mais conhecido. Tanto é que, ano passado, a gente fez o aniversário dele no Theatro da Paz pela primeira vez e eles colocaram 1,5 mil pessoas, em duas sessões”, festeja Sandres.
A grande dificuldade enfrentada por esses profissionais da comédia para engrenar no mercado paraense é a falta de espaços dedicados à essa arte, avaliam os humoristas.
“A falta de espaços dedicados à comédia dificulta bastante a cena do stand up progredir no geral. Normalmente estamos fazendo em bares, onde praticamente disputamos espaço com os músicos da noite. Os teatros em Belém são caros e pouco acessíveis aos comediantes. Isso dificulta também a entrada de novos comediantes que estão por aí em algum lugar, mas não sabem onde tem show e não têm muito acesso aos comediantes que estão na cena no momento”, destaca Luciano Farinha.
Saber trabalhar com a internet é essencial, dizem humoristas
Diante das dificuldades da falta de espaços que abracem a arte do humor e seus profissionais, o artista ainda precisa se destacar no mercado entre tantos nomes. Logo, é preciso estudar, inovar e buscar sempre apresentar o melhor para o público, aponta quem já está no caminho profissional.
“O stand up requer uma dedicação especial, e se você quer realmente fazer, tem que estudar a arte. Temos que escrever textos, organizar o roteiro dos shows, muitas vezes nós mesmos que somos os produtores. O que define tudo isso mesmo é dedicação”, destaca Luciano Farinha.
Para ajudar nesse destaque do trabalho, os humoristas lançam mão das redes sociais para chegar mais próximo do público, mostrar o seu trabalho e tentar ganhar público.
“A internet é o nosso principal meio de divulgação agora. Muita gente chega nos shows e nos diz que viu vídeos ou cartaz do show em alguma rede social, ou que enviaram em grupos. Postar alguns trechos dos shows ou fazer um vídeo de humor para chamar atenção e fazer as pessoas ficarem com vontade de assistir ao show ao vivo é meio que necessário no momento que vivemos, onde praticamente todo mundo está conectado em alguma rede social em algum lugar”, reflete Farinha.
Epaminondas concorda: “Hoje em dia nós dependemos demais das redes sociais, pois são nossas vitrines para divulgar nosso trabalho. É cíclico: tu posta conteúdo que te gera seguidor, que vira espectador do teu show, e assim sucessivamente. Saber gerenciar isso te torna cada vez mais engajado”, dá a dica.
“Mas nada supera a experiência de estar no show, ao vivo, ver o comediante no palco, interagindo, conhecendo pessoas que gostam de comédia e talvez, se não fosse dessa forma, nunca se conheceriam na vida”, completa Luciano Farinha.