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Cid diz que Bolsonaro ordenou fraude em cartão de vacinação

x-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid relatou que o então ocupante do Planalto o mandou confeccionar falsos certificados de vacinação para ele e sua filha.
x-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid relatou que o então ocupante do Planalto o mandou confeccionar falsos certificados de vacinação para ele e sua filha.

A fraude nos cartões de vacinação do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e sua filha, Laura Bolsonaro, foi uma ordem do ex-presidente, segundo o tenente-coronel Mauro Cid em informação divulgada na noite desta segunda-feira, 23, pelo portal Uol.

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid relatou que o então ocupante do Planalto o mandou confeccionar falsos certificados de vacinação para ele e sua filha, de acordo com a reportagem assinada pelo colunista Aguirre Talento.

A investigação indica um esquema para alterar os dados do ex-presidente nos registros do Ministério da Saúde para permitir a emissão de um certificado atestando que Bolsonaro e a filha se vacinaram contra a covid-19 — o que nunca aconteceu, segundo o próprio Bolsonaro. Ele foi alvo de operação da Polícia Federal em 3 de maio por suspeita de ter falsificado os cartões de vacina.

Mauro Cid emitiu os certificados em 22 de dezembro de 2022. Segundo afirma a reportagem do Uol, o militar teria entregado os falsos comprovantes para Jair Bolsonaro em mãos, pouco depois. Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro, seu penúltimo dia de mandato presidencial, e seguiu para os Estados Unidos. Na época, o país exigia o comprovante de vacinação contra a covid-19 para permitir a entrada no país. A PF, agora, investiga se essa restrição foi o motivo para a emissão dos comprovantes falsos.

O relato de Mauro Cid contradiz a versão apresentada por Bolsonaro. Em 16 de maio, o ex-presidente afirmou em depoimento à PF nunca ter tomado conhecimento de uma fraude nos cartões de vacinação.

GOLPE
Essa não foi a primeira vez em que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro complicou a vida do ex-chefe. Em setembro deste ano, Mauro Cid disse em delação à Polícia Federal que, logo após a disputa do segundo turno do ano passado, o então presidente recebeu de um assessor uma minuta de decreto para convocar novas eleições, que incluía a prisão de adversários.

Não há informações se Cid entregou algum tipo de prova que confirme ou reforce o seu relato à PF.

De acordo com a reportagem do UOL, o assessor responsável pela entrega da minuta seria Filipe Martins. Segundo o relato de Cid mostrado na reportagem, Bolsonaro submeteu o teor do documento em conversa com militares de alta patente.

O delator, segue o UOL em sua reportagem, disse ainda que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, manifestou-se favoravelmente ao plano golpista durante as conversas de bastidores, mas não houve adesão do Alto Comando das Forças Armadas.

Cid, diz a reportagem, contou aos investigadores que testemunhou tanto a reunião em que Martins teria entregue o documento a Bolsonaro quanto a do então presidente com militares.

Procurado, Martins também não respondeu. Seu advogado, João Manssur, disse que não poderia se manifestar por não ter conhecimento do assunto e não estar constituído nos autos. A reportagem também entrou em contato com um assessor de Garnier, mas não houve resposta.

Considerando os episódios em que Cid está sob investigação no inquérito das milícias digitais, caso ele forneça elementos em sua delação premiada que impliquem Bolsonaro, o ex-presidente pode ser envolvido em crimes com penas altas e que podem resultar, inclusive, em prisão.

O enquadramento das condutas ainda pode ser alterado ao longo da apuração, assim como haver a conclusão de que não houve crime.

Entre as premissas da delação está a de que o investigado confesse as condutas praticadas e aponte quem contribui com as ações, além de apresentar elementos corroborando o que foi dito.

Para que Cid ou Bolsonaro eventualmente se tornem réus, é preciso oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, o que não ocorreu, e que a mesma seja recebida pelo Judiciário.

SIGILO
Tramitando em sigilo no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, o inquérito 4874, no qual ocorreu o acordo de delação, reúne a investigação sobre a venda de joias presenteadas por autoridades, suposta falsificação de cartão de vacina e as circunstâncias de minuta e diálogos de cunho golpista encontrados no celular de Cid. (Com Folhapress e Congresso em Foco)