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Belém recebe etapa final do Cine Caeté com exibição na Casa das Artes

Filmes produzidos pelas crianças nas oficinas de audiovisual em Ajuruteua e Eldorado também serão exibidos FOTOS: MARIA EDUARDA FERREIRA / DIVULGAÇÃO
Filmes produzidos pelas crianças nas oficinas de audiovisual em Ajuruteua e Eldorado também serão exibidos FOTOS: MARIA EDUARDA FERREIRA / DIVULGAÇÃO

Depois de passar pela Vila dos Pescadores da praia de Ajuruteua, em Bragança, e pelo Assentamento 17 de Abril, em Eldorado dos Carajás, a Mostra Cine Caeté realiza sua última etapa de circulação na Casa das Artes, em Belém, fruto do Prêmio Mergulho, da Fundação Cultural do Pará. A programação de filmes e bate-papos com os diretores no pós-exibição ocorre nesta sexta, 20, e sábado, 21, sempre às 19h, com entrada franca.

“Fazendo um apanhado dos dois locais que a gente executou a mostra, óbvio que ainda é muito tímido o público quanto a este tipo de cinema independente, autoral, porém o que atrai mais é a representatividade das comunidades”, comenta San Marcelo, coordenador artístico do Cine Caeté e cofundador da Sapucaia Filmes, realizadora do projeto, com direção executiva de Cecília Nascimento.

Entre os filmes na mostra está, por exemplo, “Mangues Mundus”, de Cícero Pedrosa Neto e San Marcelo, que conta a trajetória de Marly Lúcia da Silva na defesa dos mangues na Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu, onde está localizada a Vila dos Pescadores de Ajuruteua; e o filme “A Mãe de Todas as Lutas”, de Susanna Lira, com direção de fotografia de Cícero Pedrosa Neto, que mostra a luta pela terra através da história de Maria Zelzuita, sobrevivente do massacre de Eldorado dos Carajás.

“Então há essa representatividade, uma intimidade do público com os filmes exibidos e locais escolhidos [para a circulação da Mostra]. E a gente espera que na Casa das Artes o público venha em peso, até porque Belém, por ser uma capital, tem um público que curte mais esse tipo de cinema alternativo, autoral e feito no Pará, inclusive fora da Região Metropolitana de Belém”, comenta San Marcelo.

Hoje, 20, estão concentradas as exibições dos filmes voltados para a luta pelo território tendo as mulheres à frente, como os dois já citados e o curta “A pandemia e os conflitos no território Jambuaçu, no Pará”, também de Cícero Pedrosa Neto e San Marcelo. Depois ocorre o bate-papo “Mulheres e a Defesa do Território, Luta e Visibilidade dos Conflitos”, com a participação dos diretores dos filmes e mediação de Patrícia Reis, presidente do Instituto Nova Amazônia, que trabalha diretamente com questões socioambientais, principalmente voltadas para o protagonismo feminino.

Já no sábado, 21, ocorre a exibição de filmes com temática indígena e de conhecimento ancestral. São eles: “Katu, nós somos o povo Ka’apor”, de Alessandro Campos, e “Andiroba”, de Luiz Saraiva, Jessica Leite e Paulo Oeiras. Também serão exibidos pela primeira vez dois filmes produzidos durante oficinas audiovisuais oferecidas pelo Cine Caeté nas duas comunidades visitadas anteriormente – Ajuruteua e Eldorado dos Carajás. Após, haverá o bate-papo “Narrativas Afro-indígenas no Cinema” com os diretores dos filmes, mediado por Larissa Farias, pesquisadora de temáticas indígenas.

PEQUENOS REALIZADORES

Sobre os filmes produzidos durante a circulação do Cine Caeté, o coordenador comenta que foi surpreendente a participação das crianças. “A gente esperou fazer oficina para um público mais diverso, abriu sem especificar idade, porém, quando chegou nas comunidades, o público quase 100% era de crianças, que não sabiam ler nem escrever ainda, em fase de alfabetização, então tivemos que readequar nossa proposta a esse público”, conta San Marcelo.

Os organizadores passaram então a adotar um processo mais lúdico, indo para a contação de histórias. “A gente partiu das perspectivas de planos mais comuns no audiovisual, e um roteiro visual. Pulamos a etapa de escrita e fomos para uma espécie de storyboard. Cada cena que eles imaginavam filmar, eles desenhavam, porque a ideia era que eles construíssem isso”, depois as imagens eram captadas, explica San Marcelo.

Filmes produzidos pelas crianças nas oficinas de audiovisual em Ajuruteua e Eldorado também serão exibidos FOTOS: MARIA EDUARDA FERREIRA / DIVULGAÇÃO

Os filmes têm temáticas voltadas para realidade de cada uma das comunidades visitadas. “Em Eldorado, o filme teve a temática da própria escola das crianças, que homenageia um integrante do MST, Osiel Lopes Pereira, que morreu no massacre de Eldorado dos Carajás. As crianças, após uma conversa mediada sobre o movimento, a história do assentamento, resolveram mostrar a escola e falar desse herói da luta pela terra. Já na praia de Ajuruteua, o filme é voltado para a pesca, o mangue, a realidade deles”, detalha San Marcelo.

“Tem essa pegada documental, geográfica, com essa intenção de registrar a realidade daquela comunidade pela perspectiva das crianças. E a gente fica feliz por ter esse resultado, não se pode esperar grande narrativa porque são crianças, mas é surpreendente o quanto se consegue ter percepção de espaço, de enquadramento, de captura de imagem para mostrar o que eles querem. Às vezes as coisas nem precisam ter lógica, basta fazer sentido, e acho que é isso, eu entendo que o cinema precisa provocar, dar intenções, provocar sensações, emoções, e nem sempre chegar com ideias fechadas”, conclui.

PARTICIPE

Mostra Cine Caeté
Quando: Sexta, 20, e sábado, 21, sempre às 19h.
Onde: Casa das Artes (Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos, 236, ao lado da Basílica – Nazaré)
Quanto: Gratuito