PAULO EDUARDO DIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército investiga três possibilidades para o sumiço de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), localizado em Barueri, na Grande SP, segundo o Ministério Público Militar. A apuração tenta responder se as armas foram furtadas, se foram desviadas ou, ainda, se houve erro em alguma conferência anterior que resultou em discrepância na contagem do armamento.
O promotor de Justiça Militar Luís Antonio Grigoletto afirma que recebeu a informação do comandante da 2ª Região Militar, general Pedro Celso Coelho Montenegro, em telefonema na noite da última sexta (13). Procurado nesta segunda (16), o Exército disse que a investigação está em curso e sob sigilo.
O Ministério Público Militar ainda não foi acionado formalmente para atuar na apuração do Exército. As investigações devem ser concluídas em 40 dias, mas o prazo pode ser prorrogado para mais diligências. O Ministério Público só pode entrar no caso após solicitação formal do oficial encarregado do Inquérito Policial Militar.
De acordo com Grigoletto, Montenegro disse que, durante conferência realizada na última terça (10) no AGSP, foi constatada a falta de armamento que havia sido recolhido à unidade para manutenção. Ainda segundo o general, no momento em que falavam ao telefone, na sexta, não havia certeza de que se tratava de furto, desvio ou erro em contagem anterior. As informações constam em nota enviada à Folha pela Procuradoria-Geral de Justiça Militar.
Cerca de 480 militares, entre praças e soldados, estão aquartelados na unidade desde o dia 10, quando foi notado o furto de 13 metralhadoras .50 (antiaéreas) e oito de calibre 7,62. Em pleno funcionamento, as metralhadoras .50 podem derrubar aeronaves.
Na tarde de domingo (15), familiares foram autorizados a visitar os militares e levaram alimentos e roupas para os retidos.
Na saída do quartel, parentes disseram que há jovens com o estado emocional abalado no local. Alguns teriam chorado na presença dos pais, relataram.
Os familiares também foram autorizados a remover carros e motos de propriedade dos militares que estavam estacionados na parte externa do quartel. Antes, porém, os veículos passaram por vistoria.
Em nota divulgada no sábado (14), o Comando Militar do Sudeste disse que a tropa está aquartelada “para poder contribuir para as ações necessárias no curso da investigação”.
“Os militares estão sendo ouvidos para que possamos identificar dados relevantes para a investigação”, afirmou o órgão.
No texto, o Exército diz ainda que, assim que foi notada a discrepância no controle das armas, providências administrativas foram tomadas imediatamente com o objetivo de apurar as circunstâncias do sumiço. A nota não diz, porém, se há algum suspeito.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse lamentar o caso e afirmou que a investigação vai evitar “consequências catastróficas”.
“Nós da segurança de São Paulo não vamos medir esforços para auxiliar nas buscas do armamento e evitar as consequências catastróficas que isso pode gerar a favor do crime e contra segurança da população”, declarou o secretário da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
ARMAS ‘INSERVÍVEIS’
O Exército afirma que os armamentos são inservíveis -ou seja, não têm utilidade- e que o Arsenal de Guerra é uma unidade técnica de manutenção.
“[A unidade] É responsável também para iniciar o processo de desfazimento e destruição dos armamentos que tenham sua reparação inviabilizada”, diz a nota.
Para Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, o furto ou sumiço das armas é “absurdamente preocupante” em qualquer situação.
“Mesmo que as armas não estivessem em condições imediatas de disparo, por falta de uma peça ou falha mecânica, o desvio é absurdamente preocupante, pois o crime dispõe de armeiros com condições de prestar manutenção nessas armas e produzir em máquinas modernas peças faltantes ou mesmo ‘canibalizar’ uma arma para consertar outras”, afirma.