EDER TRASKINI
CUIABÁ, MT (UOL/FOLHAPRESS) – Rodrygo não teve medo algum ao caminhar do círculo central do estádio Cidade da Educação, em Doha (Qatar), até a marca do pênalti. O jovem atacante tinha convertido as últimas cinco cobranças e seu pensamento era um só: marcar e seguir em frente na Copa do Mundo. Mas não foi o que aconteceu.
A cobrança do então camisa 21 foi a meia altura e levemente à esquerda de Livakovic, que defendeu sem dificuldade. Aquela imagem, aquele momento, jamais sairiam da cabeça de Rodrygo.
O dicionário define trauma como uma agressão ou experiência psicológica muito violenta. O atacante não esconde que viveu as horas e dias mais difíceis da carreira após a eliminação do Brasil para a Croácia, mas não parou por aí.
Até hoje, dez meses depois, o episódio ainda atinge a mente de Rodrygo de forma constante. E para lidar com isso, o atacante revelou ao UOL que tem feito terapia.
“Eu tinha uma imagem sobre psicólogo que só pessoa doida faz, ou alguma coisa assim. Eu tinha essa imagem até eu começar a fazer e ver que não, que isso pode salvar a vida de muitas pessoas. Me ajudou muito. Eu não via tantos problemas na minha vida, mas como eu comecei a conversar e ver que poderia melhorar em muitas coisas fazendo isso, foi algo que me ajudou bastante. Não foi exatamente depois do pênalti, demorou um pouco ainda. Comecei depois de um tempo e consecutivamente foi me ajudando a superar isso do pênalti também”, disse o atacante
“É uma coisa que penso até hoje, sempre vem na minha cabeça, mas é algo que tenho que ir superando dia após dia e creio que estou bem. Você sempre lembra, não tem como. Vai martelar na sua cabeça. Ainda mais porque eu tinha batido todos os outros muito bem, tinha feito, por que logo nesse deu errado?”
A dificuldade de lidar com uma situação que não é corriqueira em sua vida é sempre maior. No caso de Rodrygo, falhar em um momento decisivo definitivamente não é normal. Mesmo com apenas 22 anos, o ‘rayo’ soma 15 gols na maior competição de clubes do mundo, a Champions League, sendo que dez deles foram para decidir o resultado a favor do Real.
O jovem astro brasileiro está a apenas cinco gols de igualar a marca de Romário na competição e entrar no top-10 dos maiores artilheiros brasileiros no torneio. Sobre o seu poder de decisão, Rodrygo vê como algo natural:
“Acho que é natural, mas me preparo normalmente durante os treinos. Treino finalização, estou sempre concentrado porque a bola pode cair nos pés a qualquer momento. É concentração e colocar na cabeça: vou resolver. Quando a bola vem, você está pronto”.
VERSATILIDADE E PROTAGONISMO
Se no Real Madrid o atacante já alcançou o posto de um dos protagonistas da equipe, na seleção ele começa a ter um tamanho semelhante com o novo comandante Fernando Diniz. Foi do ‘rayo’ o primeiro gol da era do ‘Dinizismo’ na seleção.
O crescimento em importância no time brasileiro neste novo ciclo de Copa do Mundo é visto como natural para o atacante:
“A gente ainda tem o Neymar como principal jogador e vamos sempre respeitar isso, mas é normal eu, Vini, Bruno, todos os mais jovens termos cada vez mais protagonismo. Talvez na Copa passada não tivemos tanto e nessa já podemos ter, na próxima ainda mais
Rodrygo jogou pelo lado esquerdo na primeira data Fifa diante da ausência de Vini Jr, e agora com a volta do companheiro será o titular do lado direito. Na Copa do Mundo do Qatar, atuou também centralizado. A discussão de posicionamento é algo que acompanha a carreira do atacante desde seu início no Santos”.
Ainda na base, Rodrygo atuava somente do lado esquerdo. Porém, quando subiu ao profissional se deparou com um Bruno Henrique, hoje no Flamengo, como dono do setor. Para entrar no time, o jovem foi se adaptando a jogar pelo lado direito e teve ajuda até o excêntrico Jorge Sampaoli.
“Sou muito grato a ele. Logo na primeira conversa ele falou que só iriamos falar espanhol para me ajudar e isso me ajudou na chegada ao Real, muitas coisas de treino também que seriam iguais na Europa eu já fiz com ele. Sou sempre grato. Claro, ficava bravo com ele quando ficava no banco, mas é normal, faz parte, todo jogador fica bravo. Mas eu entendia também e acho que ele me ajudou bastante” contou.
Mesmo sendo bastante utilizado em todas as posições do meio, Rodrygo ainda não vê a discussão como página virada e confessa que sempre tem de responder a perguntas sobre sua preferência.
“Ainda me questionam, sempre me fazem essa pergunta. Eu tive que ir me adaptando. Na época de Santos tinha o Bruno Henrique que já era bem respeitado ali, já era um grande jogador e ele gostava mais de jogar pela esquerda. Na base sempre joguei pela esquerda, mas falaram que precisava me adaptar, que tinha qualidade para jogar na direita. Sempre me perguntavam onde eu preferia jogar e até hoje perguntam. Na direita, na esquerda ou de meia são minhas preferidas, às vezes me colocam de centroavante, já falei que não gosto muito, não quero jogar, mas se precisar para ajudar a equipe, estou aqui.”
Agora, com Diniz e em busca do protagonismo, Rodrygo tem uma vantagem: sabendo jogar nas três funções, ele sai na frente no estilo ‘Dinizista’ onde ninguém guarda posição. E se não se movimentar em campo…
Dá para ouvir (os gritos de Diniz da beira do gramado), é bom que ele já faz bastante gestos também, então, se a gente não escuta é só olhar para ele que já está chamando para vir para outro lado. Ele disse que quer aproveitar ao máximo todas as minhas capacidades, tentar jogar em uma posição em que eu esteja sempre tocando na bola, podendo combinar com o Neymar e os jogadores com mais qualidade.