Nildo Lima
Uma alegria que parece não ter fim. Assim têm sido os dias para o torcedor do Paysandu desde que o time assegurou seu retorno à Série B do Brasileiro, acabando com uma escrita que já durava cinco anos. A alegria da Fiel, no entanto, poderá ser bem maior no futuro. O presidente Maurício Ettinger, cujo mandato termina no final do ano que vem, ainda no calor da conquista do acesso, anunciou que a meta do clube é retornar ao Brasileirão já em 2025. Tal façanha representaria algo inédito para uma geração de torcedores que nunca viu o Papão na elite nacional. Para outros, mais vividos, seria a chance de reviver o Papão na elite nacional.
Há 18 anos que o Paysandu não disputa a Série A do Brasileiro. A última vez em que o clube esteve no campeonato foi em 2005, quando foi rebaixado à Série B, depois de quatro anos incluído no rol dos maiores clubes do futebol nacional (2002/03/04/05). De lá pra cá uma nova leva de torcedores bicolores surgiu, alimentando a esperança de ver o time do coração na principal divisão do Brasileiro. Um sonho cujo roteiro pode ter começado a ser escrito este ano, com a subida de divisão do time, o tornando vizinho da chamada Primeirona.
Saltar da Série C para a B e, no ano seguinte, para a Série A não é algo absurdo para os torcedores do Papão, sobretudo para os mais novos, que não escondem o desejo de ver o time na principal divisão do Nacional. “É um sonho possível”, diz o torcedor Luís Augusto Sampaio, de 20 anos. “O Brasileiro está cheio de exemplos de equipes que estavam lá embaixo e que chegaram à 1ª Divisão. A Chapecoense-SC é um caso”, argumenta o torcedor, que apenas leu e ouviu histórias sobre a participação do Papão na elite do Brasileiro. “Agora espero ver com meus próprios olhos”, diz.
Saudosistas da época em que o Papão disputou a Série A, os torcedores que acompanharam a última participação bicolor no campeonato, se dividem quanto à volta imediata do time à elite da competição. Para alguns deles, o Papão precisa passar algum tempo na Série B, criar “gordura”, como se diz e, só depois, mirar o retorno à Primeirona. “É preciso ter calma, montar toda uma boa estrutura durante o tempo de Série B para, depois, aí sim, pensar em Série A”, recomenda o aposentado Antônio Nogueira, de 72 anos.
Para outros veteranos torcedores, o Paysandu deve sonhar grande, como faz o presidente do clube, e já ir logo mirando a Série A. “Tem de aproveitar o embalo e a empolgação da torcida para voltar já em 2025 à Série A”, recomenda Luiz Solano Nunes Alcântara, de 58 anos. “Para se manter na 1ª Divisão basta ter um time de qualidade”, ressalta Solano.
Uma boa estrutura é fundamental
Embora torça, e muito, pela volta do Paysandu à Série A do Brasileiro, participação que ele acompanhou por em épocas passadas, o relojoeiro Elias Souza de Oliveira, de 65 anos, acredita que seria, no mínimo, precipitado pensar neste retorno para a temporada de 2025. “Se o acesso à 1ª Divisão for garantido no próximo ano, tudo bem, mas acho que o ideal é o Paysandu ficar, no mínimo, uns dois anos na Série B, se organizando e montando uma boa estrutura para regressar seguro ao Brasileirão”, recomenda o torcedor, morador da rua Raul Soares, no bairro da Marambaia, onde também tem sua oficina.
Elias tem como exemplo casos ocorridos com clubes que subiram num ano e foram rebaixados no seguinte. Um desses exemplos, citado pelo relojoeiro, ocorreu no próprio futebol do Pará recentemente. “Temos o espelho do nosso rival, que foi com muita sede ao pote e o que aconteceu? Passou só um ano na 2ª Divisão e caiu no outro”, aponta. Mas a volta do Papão à elite do futebol nacional, seja em 2025 ou daqui a dois anos, como recomenda o torcedor, vai fazer com que Elias retorne aos estádios, conforme revela.
“A minha ideia é assistir a alguns jogos da Série B, dependendo das partidas, mas pretendo voltar com força total mesmo é na Série A se Deus quiser”, promete Elias, saudoso de grandes apresentações feitas pelo Papão no Brasileirão. “Cansei de ganhar Palmeiras-SP, Corinthians-SP, São Paulo-SP e outros grandes aqui e lá fora”, afirma o relojoeiro, que atua no ramo há 42 anos e diz ser Paysandu desde que veio ao mundo. Voltando à questão do desejado retorno do Papão à Série A, o torcedor pede que a diretoria do clube se espelhe no caso do Fortaleza-CE.
“O Fortaleza esteve vários anos na Série C até que conseguiu subir. Depois, já na Série B, conseguiu se estruturar para disputar o Brasileirão e hoje está aí até para decidir o título da Copa Sul-Americana, ganhando muito dinheiro. Este é o exemplo que deve ser seguido pelo nosso Paysandu”, recomenda o torcedor bicolor.
Entre recordações e novos sonhos
Com apenas 30 anos de idade, o balconista Fábio Tenório da Silva sente certa nostalgia da participação do Paysandu na Série A do Brasileiro, que ele espera matar nos próximos anos, com a volta do Papão a 1ª Divisão do Nacional. Embora ainda fosse uma criança em 2005, quando o Papão participou pela última vez do Brasileirão, o torcedor acompanhou os jogos do time em bares, levado pelo pai, também torcedor do bicolor. Ele lembra de partidas memoráveis feitas pelo Papão e, também, dos principais jogadores da equipe naquele ano.
“Faz todo esse tempo que o Paysandu está fora da 1ª Divisão, mas ainda recordo de muita coisa. Para mim é como se tivesse sido ontem”, garante Fábio Tenório. “Recordo dos jogadores daquela época. Tinha o He-Man, que era o Rafael Moura, o Adrianinho, que era fera, o Vandick, que comia a bola, e o Zé Augusto, meu grande ídolo”, salienta. “Depois dos jogos, eu e meu pai, ouvíamos os programas ao vivo da Rádio Clube do Pará, para onde os jogadores que se destacavam nos jogos eram levados” lembra o torcedor.
A volta do Papão ao Brasileirão, de acordo com o torcedor, pode servir não só para ele e outros matarem a saudade, mas também inspirar os torcedores menores. “Seria uma motivação para a garotada que está começando a torcer”, ressalta. “Eu, por exemplo, tenho uma filha de nove anos, a Kissila Manoele, que é louca pelo Paysandu. Seria uma grande alegria ver a felicidade dela torcendo pelo Paysandu na 1ª Divisão”, que costuma levar aos jogos do Papão a outra filha, Khetelem Kiara, de sete anos. “Não levo a maior porque ela tem trauma de convivência com muitas pessoas juntas”, explica.
A meta é ver o Papão na elite pela 1ª vez
O torcedor Marcos Victor Almeida Auad tinha apenas seis anos de idade quando o Paysandu disputou pela última vez a Série A do Brasileiro. Na época, ele apenas ouvia muito dentro de casa falar sobre aquele que viria no futuro a se tornar sua grande paixão: o Paysandu. Pisar em estádio, na época, claro nem pensar, mesmo sendo o pai, Marcelo Auad, também torcedor bicolor. “Só passei a ir a jogo de futebol quando já estava com sete anos”, conta Marcos Victor, de 24 anos, que é formado em psicologia. A partir de suas incursões aos estádios, o sonho de ver o Papão na 1ª Divisão do futebol brasileiro passou a fazer parte da vida do torcedor, acordado ou dormindo.
“É um sonho que eu, que acompanhei o Paysandu nas Séries B e C, sei que a nossa torcida é merecedora de ter seu time na Série A, pela paixão e carinho que demonstra pelo clube. É algo bem diferente do que acontece com alguns clubes, que sequer merecem estar na 1ª divisão”, diz. Marcos Victor revela que costuma acompanhar o Brasileirão e aqui e ali pensa em ver o Papão disputando a competição. Mesmo com todo o desejo de ver o clube do coração na elite do Nacional, o que seria algo inédito em sua vida de torcedor, ele diz que o ideal é o clube se preparar bem para voltar à Série A em condições de igualdade com os demais participantes.
“Para ser realista, o Paysandu precisa se estruturar, ter o seu CT, por exemplo, para disputar a Série A. Do contrário, vai apenas dar um passeio na 1ª Divisão e depois voltar à Série inferior do Brasileiro”, ensina. Marcos Victor só espera que essa estrutura necessária se concretize o mais rápido possível para que o Papão possa chegar ao acesso transmitindo confiança ao seu torcedor. Ele dá como exemplo o Fortaleza-CE. “É algo que nós precisamos ter. O Fortaleza também veio lá de baixo, sofreu muito na Série C e hoje é muito difícil que ele seja rebaixado”, detalha.