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Paraenses ornamentam cartazes e imagens de Nossa Senhora como forma de cultivar a fé

A relações públicas Carolina Costa passou a pintar imagens a pedido da mãe e o ofício acabou virando uma forma de conexão familiar.

FOTO: WAGNER SANTANA
A relações públicas Carolina Costa passou a pintar imagens a pedido da mãe e o ofício acabou virando uma forma de conexão familiar. FOTO: WAGNER SANTANA

Texto: Aline Rodrigues

O clima do Círio está por toda parte: são enfeites nas ruas, o cheiro da maniçoba que toma conta dos lares paraenses, shows em homenagem à “Rainha da Amazônia”. Enfim, o clima festivo do “Natal dos paraenses”. Mas os devotos de Nossa Senhora de Nazaré também buscam sua própria maneira de prestar suas homenagens e entrar ainda mais nesse clima da quadra nazarena, através da arte e da criatividade. A relações públicas Carolina Costa está entre eles. Há três anos resolveu pintar imagens de Nossa Senhora por conta de um desejo da mãe, Antônia Assumpção. A iniciativa acabou virando tradição.

“Ela sonhava em me ver pintando e customizando a imagem de Nossa Senhora, pois só achava [imagens] do tipo tradicional. E ela queria uma morena, com outro manto, mais estilizada”, explica Carolina, que com a nova missão acredita ter ficado mais próxima da “Nazinha”.

“Cada imagem, cada inspiração é uma emoção e agradecimento pela saúde, pelo dom, por fortalecer a minha fé e da minha família, e por ver a minha mãe cada dia mais feliz e realizada, a cada imagem de Nossa Senhora que eu pinto. Hoje, esse ‘dom’, que era apenas para consumo interno, já cresceu e faz com que outras pessoas aflorem ainda mais a sua fé, suas memórias, sua gratidão e seu afeto”, conta ela, que passou a receber encomendas das imagens.

Unindo as famílias por Maria

Para a relações públicas, o ano foi diferenciado, pois junto com a pintura das imagens veio mais união familiar. “A família se uniu ainda mais, reunimos esforços. Uma pinta, outra faz o acabamento, a outra faz a embalagem, para que todas as pessoas que receberem as imagens se emocionem!”, conta Carolina.

Já a advogada Paula Peniche costuma fazer que os filhos Pedro e Amanda participem de todas as etapas do Círio e não só no momento da grande procissão. “Envolvo eles em tudo, especialmente o Pedro, que está fazendo catequese esse ano, gosto que participe mais dessa parte religiosa. Até mesmo os cantos, escutamos no carro. Em casa a gente ensaia até uma coreografia, eu e a minha filha, para eles sentirem esse clima”, disse ela, que também faz as comidas típicas, docinhos e customizações nesse período.

“Como a Amanda tem quatro anos, este ano resolvemos customizar o cartaz. Fomos no armarinho, ela que escolheu o que colocar, coisas peroladas. Já tinha acabado o rosa, mas mesmo assim a gente pegou. Fizemos, colocamos músicas do YouTube. Eu costumo mesmo me envolver. Aqui a gente sente o Círio de todas as formas, participa das procissões na escola, visita às igrejas, faz as comidas, ornamenta a casa, colocamos cartaz na porta e dentro de casa, tudo junto com eles, para eles sentirem o clima e para passar essa tradição adiante”, conta Paula.

A filha Amanda Sousa Peniche, segundo a mãe, adorou participar, pois nunca tinha enfeitado o cartaz. “Ela sempre via por aí e pedia para tirar foto. Quando ela viu o daqui do prédio, pediu para fazer. A nossa vizinha deu os cartazes. Como mãe, foi [uma experiência] extraordinária, porque é uma tradição que está continuando e também uma memória afetiva do Círio, que para mim é família. Na época que eu era criança, a nossa ajuda era mais arrumar a casa e eu ajudava a minha mãe. Quando fizemos o cartaz, preparei um lanche no final para o lançamento do cartaz do Círio aqui de casa”, diz Paula.

A artesã Marlene Ribeiro faz cerca de cem cartazes customizados a cada Círio e tem orgulho de dizer que eles viajam o Brasil e até o mundo como lembranças da festa religiosa FOTO: ACERVO PESSOAL

Foi vendo uma professora ensinando uma senhora a decorar o cartaz oficial do Círio que a artesã Marlene Ribeiro Araújo ficou curiosa e começou a fazer o mesmo. As vizinhas viram, gostaram e começaram a encomendar. Hoje ela faz mais de 100 cartazes customizados a cada nova edição da festa religiosa.

“Tenho cartazes no Ceará, Rio de Janeiro e até fora do Brasil. A doutora Elcione [a deputada federal Elcione Barbalho] tem um mural no gabinete dela em Brasília com os meus cartazes, que ela sempre ganha de uma senhora que encomenda comigo. Às vezes, quando vejo um cartaz na porta de alguém, não acredito que eu tenha feito. Sempre peço ajuda para nossa Mãezinha e Ela sempre está por perto me orientando, converso com Ela quando estou fazendo os cartazes”, conta Marlene, que fica emocionada com cada trabalho em que tem muita dedicação e um contato maior com Maria.

“Fico muito emocionada com cada trabalho, e com a alegria das pessoas ao recebê-los. Nossa Senhora sempre fez parte da minha vida, tenho muita fé e faço meu trabalho com amor e devoção à nossa Mãezinha do céu. Não tem como explicar a emoção de ter a nossa Mãezinha sempre aqui pertinho. Passo o dia inteiro com Ela, conversando. É um privilégio muito grande, só tenho a agradecer”, conta ela, que tem o seu cartaz em casa ornamentado e participa de outros momentos em homenagem à padroeira dos paraenses.

“Vi na decoração dos cartazes uma maneira de catequese através da minha arte, pois consigo chegar bem longe com a imagem de nossa Mãezinha. O Círio é muito especial para todos nós. Também fazemos a peregrinação aqui no conjunto [onde mora], de casa em casa”, finaliza.