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Exposição “Esmolação”, sobre a Marujada, chega ao Pará em novembro

Em Salvador, e demais cidades que visitou, a expografia ganhou elementos únicos. FOTO: alexandre baena/divulgação
Em Salvador, e demais cidades que visitou, a expografia ganhou elementos únicos. FOTO: alexandre baena/divulgação

Texto: Wal Sarges

Retratar uma conexão com o divino através dos registros da Marujada de 2022, no município de Bragança. Essa é a proposta do fotógrafo Alexandre Baena, que está em circulação pelas cinco regiões do Brasil, apresentando um recorte dessa manifestação que ocorre há 225 anos. Dia 10 de novembro, a exposição “Esmolação: imagens da Marujada de Bragança pelo Brasil” chega ao Museu de Arte Sacra, em Belém, e, no mês seguinte, à famosa Pérola do Caeté, onde tudo começou.

São 14 imagens no total, sendo oito que seguem a cronologia na procissão – a esmolação é o primeiro ato da Marujada – e seis mostram marujos e marujas. “Todos esses registros foram feitos durante a procissão de 2022, sempre buscando o momento em que transcendem o local, se unindo ao divino. Realizar esta exposição, em comemoração aos 410 anos do município de Bragança, no ano em que a Marujada completa 225 anos, é uma felicidade sem tamanho, uma honra e um orgulho de levar as imagens pelo Brasil afora”, afirma Alexandre, que também atua como curador da mostra.

“O nosso povo vai ter a oportunidade de ver o que é a esmolação e conhecer de perto a exposição que está percorrendo o Brasil. É a conclusão de um ciclo. Cruzarmos o Brasil e encerrar todo esse processo em Belém e em Bragança é não só a conclusão de um ciclo, mas a valorização desse público que consome não só cultura, mas consome a religiosidade, a cultura e a valoriza. Estamos salvaguardando a tradição e valorizando devotos, valorizando os marujos e as marujas, pois eles são realmente o ponto focal”, celebra Alexandre.

Marujas e marujos são so protagonistas da exposição, que busca o momento em que a festa alcança o divino. FOTO: alexandre baena

Além disso, o fotógrafo ressalta sua felicidade pela aceitação que a mostra recebeu do público em sua passagem pelas cinco regiões do país. “Na Bahia, tivemos a participação de Hermano Fabrício Oliveira Guanais, que é superintendente do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]. Ele foi responsável por dar início ao processo de reconhecimento da Marujada de Bragança como Patrimônio Imaterial no Brasil e encontrá-lo na Bahia foi uma feliz surpresa”, destaca.

“O projeto começou em abril, mês em que começa a esmolação. Por isso também essa referência ao nome. É quando as comitivas saem para visitar as casas dos devotos, percorrendo o campo, a praia e a colônia. Elas saem recolhendo não só donativos, mas também registros de graças alcançadas por São Benedito. Quando a gente pega as imagens de Bragança e sai numa itinerância nacional, começando por São Paulo, indo para Brasília, depois para a Bahia e ainda, o Paraná, a gente está levando a devoção de São Benedito pelas cinco regiões do Brasil e não só apresentando, mas também convidando essas pessoas para virem até Bragança no Pará e conhecerem a Marujada e toda essa festividade, que é uma das mais representativas do nosso turismo religioso”, considera Alexandre.

A primeira vez que o fotógrafo fez uma imersão na Marujada, há alguns anos, ele conta que se surpreendeu com a forma que marujos e marujas tratam São Benedito. “É como se fosse um amigo, uma pessoa próxima, personalizando a divindade, colocando ela na cozinha, como confidente, colocando ela como parte. Foi o que prendeu minha atenção e não tinha como encerrar esse ciclo se não fosse entre marujos e marujas”, relata.

São Benedito é um santo superforte, acredita o fotógrafo. “Eu digo que a gente só fazia os ajustes, mas os nortes eram dados por ele. Eu já sou devoto, mas eu me apaixonei pela maneira como povo bragantino lida com São Benedito e com a Marujada porque eles têm um orgulho, uma paixão e um fervor religioso que não tem como não se envolver. E quando vê, você já está numa imersão. Eu fiz um documentário chamado ‘Entre Marujas e Marujos’ há alguns anos junto com a pesquisadora Graziela Ribeiro, sendo exibido fora do Brasil. Todos os outros dezembros, sempre estou lá, fotografando ou fazendo imersão”, diz ele.

Marujas e marujos são so protagonistas da exposição, que busca o momento em que a festa alcança o divino. FOTO: alexandre baena

Imagem viajou pela primeira vez pelo Brasil

Para fazer a curadoria e até mesmo durante a produção das imagens, ele conta que buscou não só imagens que remetessem à festividade em si, mas procurou devotos, marujos e marujas que refletissem essa conexão com o divino. “Então, tinham aqueles momentos de êxtase, em que realmente elas pareciam estar em outro plano. E isso gerou um resultado visual superinteressante. E foi incrível que cada exposição acabou tendo um formato diferente, cada exposição foi única”, considera.

No Museu de Arte Sacra de São Paulo, por exemplo, foi montada toda uma estrutura, com a presença da imagem de São Benedito, que sai na procissão, tendo sido transportada pela primeira vez para fora do Pará. “A estimativa é que mais de 20 mil pessoas circularam diretamente na exposição, o que para a gente foi fantástico. A exposição foi integrada ao Circuito Cultural do metrô, então foram inserções diárias das imagens nas telas dentro do metrô, gerando projeção ao nosso estado e à nossa festa”, relata o fotógrafo, dizendo que a receptividade que teve em São Paulo se repetiu nos outros estados.

Esta foi a primeira vez que a Imagem saiu do Pará FOTO: Alexandre Baena

Em Brasília, a exposição foi montada no Espaço Cultural do Senado, com as presenças do governador do estado do Pará, Helder Barbalho, do senador Jader Barbalho e do ministro das Cidades Jader Filho, representando o presidente Lula. “Aquele momento, inclusive, foi muito pontual porque nós fizemos a doação de uma tela intitulada ‘Devoção Bragantina’ para o acervo do Senado. Temos agora uma imagem de um fotógrafo paraense dentro do Senado. É interessante pontuar também que o acervo da esmolação vai ficar como parte permanente de alguns espaços por onde a exposição passou, como o Museu de Arte Sacra de São Paulo, o Museu de Arte Sacra da Bahia e o Museu da Presidência da República”.

Toda esta circulação, claro, foi “um desafio gigantesco”, conta Alexandre. “Isso seria impossível sem a participação do governador do estado, Helder Barbalho, da participação do senador Jader Barbalho, da Secretaria de Turismo, da Secretaria de Cultura e da prefeitura de Bragança. Foram pessoas que compraram a ideia, viabilizaram este projeto, ver a nossa cultura sendo recebida em cada região e a maneira como eles nos observavam e até ampliavam as propostas que nós apresentávamos, isso reforçava em nós o sentimento, não só de que nós estávamos sendo bem recebidos, mas também de que estávamos sendo vistos, reconhecidos e valorizados”, agradece.