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Gerson Nogueira: 'Tribunal da santa inquisição'

Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Tribunal da santa inquisição

Quando um projeto esportivo não resulta em vitória vem sempre o imediato e nem sempre republicano debate na zona do apedrejamento. Surgem os conhecidos engenheiros de obra pronta, ávidos em apontar o dedo indicador em direção a supostos culpados pelo resultado frustrante. Esporte tão amado, o futebol é também campo fértil para os inimigos do humor e apóstolos da rabugice.

O cenário começou a se desenhar na noite de domingo, após a derrota do PSC para o Amazonas, no Mangueirão. O tiroteio das acusações começou ainda no próprio estádio, com direito a socos, pontapés e tabefes no meio das arquibancadas e setores vip do estádio lotado por 50 mil torcedores.

O muro das lamentações se estendeu de imediato à internet, onde as redes sociais costumam ecoar comentários e palpites, expondo toda sorte de preconceitos e recalques, ressentimentos e mágoas.

Registre-se: houve gente que se empenhou em enumerar com equilíbrio e ponderação os erros cometidos pela equipe alviceleste na partida decisiva. Críticas construtivas e merecidas. O time de Hélio dos Anjos realmente atuou mal, bem abaixo das outras apresentações no quadrangular.

Ocorre que, aqui e ali, surgiram ataques virulentos a dirigentes, comissão técnica e até a setores da imprensa esportiva. É como se tudo já estivesse irremediavelmente perdido e que os ditos responsáveis pelo fiasco devessem ser julgados e condenados em praça pública.

É preciso ir devagar com o andor. O período é mariano, corações e mentes estão sob o torpor da expectativa pela grande festa religiosa do povo paraense em louvor à Nossa Senhora de Nazaré, o que naturalmente recomenda um espírito de placidez e tolerância.

Há um claro exagero no julgamento, quase um linchamento. O time mudou radicalmente, para melhor, depois da chegada de Hélio dos Anjos. Não é brilhante, mas é aguerrido e competitivo, tanto que segue liderando.

A conquista do acesso foi postergada, mas o campeonato ainda não acabou. A grande decisão será no próximo sábado, às 18h, no estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. Se evitar o oba-oba exagerado, que claramente contaminou a equipe, o Papão tem tudo para se dar bem.

Carrega vantagens expressivas e mantém excelentes chances: joga por três resultados – vitória, empate e até derrota, por um gol de diferença. Outra: com Hélio no comando, só perdeu uma vez (contra o Brusque) por mais de um gol. Na ocasião, o técnico mal havia chegado.

E tem ainda o histórico na Série C, que respalda a opinião dos supersticiosos. Nos últimos dois acessos, o PSC se classificou jogando em cidades interioranas, Macaé e Juiz de Fora (na fronteira Minas-Rio).

Dos apedrejados pela fúria de alguns a crítica mais descabida é a de que a mídia esportiva iludiu o torcedor. Bobagem. Em sua imensa sabedoria, a torcida tem plena consciência dos limites do time, mas abraçou a causa ao perceber a excelente caminhada no quadrangular.

Não há mais bobo em futebol, já disse aquele outro. É um erro subestimar o torcedor. O que a mídia fez foi amplificar o otimismo em torno das chances de acesso. Se essa mesma imprensa atuasse de maneira contrária, criticando tudo e todos, seria acusada de derrotismo ou, pior ainda, de torcer contra. Mídia não entra em campo, por isso não ganha e nem perde jogo.

Portanto, se o Papão conquistar o acesso, os méritos pertencem aos atletas, à comissão técnica, à diretoria e à torcida, não necessariamente nessa ordem. Caso isso não ocorra, como nos anos recentes, as responsabilidades ficam com as situações e circunstâncias de um jogo que é pleno de possibilidades e extremamente sujeito às forças aleatórias.

Não tomem o futebol por uma ciência exata, coisa que ele não é, nem nunca foi. O resto é o velho exercício de procurar pelo em ovo.

 

Botafogo se livra das invencionices de Bruno Lage

Quem contava com a retomada da saga vitoriosa, quebrou a cara. Perante mais de 40 mil torcedores, o Botafogo encarou o Goiás com as indecisões e receios de um time em crise de identidade. É como se o time do primeiro turno tivesse cedido lugar para um outro, irreconhecível e de pegada completamente diferente.

O Botafogo, que bateu recordes de vitórias e pontos na era dos pontos corridos, era um grupo sempre disposto a atacar os adversários, abrir espaços e tentar o gol sempre que possível.

Nos jogos em casa, o “tapetinho” do Nilton Santos foi sempre um aliado precioso, ajudando a equipe a conquistar 11 vitórias consecutivas. Veio a virada de turno e as notícias ruins passaram a pautar o dia a dia do clube. A lesão de Tiquinho Soares, a eliminação da Sul-Americana e a derrota (com sérios erros de arbitragem) para o rival Flamengo.

O caldo entornou, três derrotas se acumularam desde então. Anteontem, contra o Goiás, o primeiro tempo foi terrível. Não parecia um duelo entre o líder e um ocupante da zona de rebaixamento.

Bruno Lage, o técnico português que veio substituir Luís Castro, começou a cravar erros em série no returno. Diante do Goiás, extrapolou. Barrou sem explicação o artilheiro e maior jogador do campeonato, Tiquinho Soares. Manteve Tchê Tchê, o melhor médio do campeonato, na ala direita. E inventou Gabriel Pires na meia.

O desastre só não se consumou porque o barrado Tiquinho saiu do banco de reservas para anotar um golaço e impedir a derrota que se esboçava. Não deu para virar, mas o time do 2º tempo foi mais arrojado e confiante.

Lage, vaiado pela torcida desde o jogo contra os rubro-negros, mostrou-se inflexível na ideia de marcar sua passagem com um trabalho autoral. Burrice pura. Ele não foi contratado para deixar sua marca. Veio para dar sequência a uma trajetória vitoriosa, que colocou o Botafogo como favorito destacado para a conquista do título.

Caso não fosse contido a tempo pela SAF (leia-se John Textor) e pela pressão dos jogadores, Lage iria continuar a boicotar a caminhada do Botafogo em busca do título. A notícia de sua demissão mostra que a cúpula está antenada com os desejos da torcida alvinegra.