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Quero chegar aos 150 anos para namorar mais minha mulher, diz Cid Moreira

Cid Moreira, que morreu nesta quinta-feira aos 97 anos, apresentou cerca de 8.000 edições do Jornal Nacional.. Foto: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Cid Moreira, que morreu nesta quinta-feira aos 97 anos, apresentou cerca de 8.000 edições do Jornal Nacional.. Foto: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

LEONARDO VOLPATO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É curiosa a sensação de falar ao telefone com Cid Moreira. Seu vozeirão é tão familiar que às vezes tira um pouco a concentração do repórter, que tem como assunto principal da entrevista os 96 anos do apresentador, aniversariante desta sexta (29).

Cid já vai contando que não pretende festejar. “Não costumo comemorar. Não gosto de bolo. Já recebi festa surpresa e não gostei”, diz. Em poucos anos, no entanto, isso deve mudar. A esposa, Fátima, já avisou que não vai deixar passar em branco o centenário do marido. Vai ter festão, sim.

Apaixonado, Cid conta que, por ela, aceita quebrar o protocolo e a própria timidez. “Tenho planos para chegar aos 150 anos, quero mais um tempo para curtir a vida e para namorar a minha mulher.” Casado há 23 anos, o apresentador se diz realizado por receber a ajuda dela nas sessões de diálise em casa, seus rins têm apenas 15% do funcionamento, e também para gravar comerciais e vídeos para as redes sociais, que rendem a ele uma graninha extra.

Por falar em dinheiro, em 2021, os filhos Roger e Rodrigo entraram com uma ação na Justiça para pedir a interdição do pai e cogitaram ter uma parcela da futura herança. O processo, em segredo de Justiça, foi vencido por Cid. Para o apresentador, isso já faz parte do passado, mas ainda machuca. “Eu trabalho desde os oito anos e vem alguém que não quer trabalhar exigir coisas.” Veja a entrevista completa abaixo.
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Pergunta – Como o senhor se sente ao celebrar 96 anos?
Cid Moreira – Não costumo comemorar aniversários, não gosto. Fico meio mal, é o temperamento de cada um. Eu não gosto de bolo nem de parabéns. Já recebi festa surpresa e não gostei.

P. – Qual balanço faz da sua vida?
C.M. – Tudo o que fiz até hoje deu certo. No rádio, no cinema, em documentários, na TV, tudo. No rádio, bem no começo da minha carreira, tive a chance de apresentar grandes astros nacionais e internacionais. Mesmo tremendo na base, eu fui trabalhar. Faço isso desde os meus oito anos.

P. – Preparado para comemorar 100 anos?
C.M. – Tenho planos para chegar aos 150 anos, quero mais um tempo para curtir a vida e para namorar a minha mulher. Não quero decepcioná-la.

P. – Como está a sua saúde atualmente?
C.M. – Eu estou fazendo diálise devido a um problema nos rins [descoberto antes da pandemia; seus rins funcionam apenas 15%], mas está tudo sob controle. Esses dias peguei uma alergia pela casa nova, tenho dormido meio mal. Mas tomo remédios todos os dias, vou ao médico, tomo antialérgico, recebo sempre uma fisioterapeuta. Além disso, fiz um estúdio dentro de casa e fico produzindo para o YouTube, para o Instagram, faço pintura. Essas coisas me ajudam.

P. – Faz exercícios físicos, algum passatempo para a cabeça?
C.M. – Tenho aparelhos em casa, mas apenas o suficiente para fortalecer a musculatura. Faço um pouco de pilates, de esteira e mexo bem no computador, isso eu sou craque. Também jogo tranca todo fim de semana e joguei tênis até os 89 anos.

P. – Como é a sua rotina profissional em casa?
C.M. – Além de ler trechos da Bíblia em vídeo nas redes sociais, estou gravando poemas de autores de domínio público para o YouTube no meu canal. Entra três vezes por semana. Às quartas fazemos receitas, coloco entrevistas com pessoas ou minhas mesmo e também tenho gravado propagandas para o Instagram.

P. – Esses trabalhos garantem uma renda boa?
C.M. – Dá um dinheiro bom. O negócio é o seguinte: eu entrei no Instagram forçado, pois eu soube que havia mais de dez pessoas se inscrevendo e usando meu nome e as coisas do Cid Moreira. Achavam que era eu. Então, fiz uma conta oficial. Agora estou com 1 milhão de seguidores. Estou gravando comerciais para o Instagram. Se alguém quiser me contratar… Na época da Globo, metade dos comerciais tinham minha voz, mas depois ela exigiu exclusividade e eu parei de fazer.

P. – Tem vontade de parar para descansar?
C.M. – Quando perguntam se vou me aposentar, respondo que vou trabalhar enquanto eu estiver respirando e tiver voz.

P. – O senhor ainda possui um contrato vitalício com a Globo. Rende um valor bom?
C.M. – Fiz 55 anos de Globo e a relação é ótima. Dá para sobreviver, pagar nossas contas, me dá uma vida confortável. Vivo bem hoje.

P. – Fale um pouco sobre sua relação com Fátima Sampaio.
C.M. – São 23 anos de casados. Dá certo porque tudo o que eu quero, ela faz. Ela tem bom humor o tempo inteiro.

P. – Curiosidades do Cid: É vegano? Qual sua religião?
C.M. – Sou cristão e lactovegetariano, ou seja, como algumas coisas lácteas, mas não consumo carne desde os meus 30 anos por questão de convicção. Não sinto falta de jeito nenhum. Meu coração está sempre bom, de três em três meses faço exames. Meus índices de sangue estão ótimos.

P. – O que acha do jornalismo hoje em dia e dos apresentadores atuais da TV?
C.M. – Acho que todos [os apresentadores da atualidade] são melhores do que eu. Tudo evolui. A vida é feita de fases. Às vezes uns ficam famosos, outros demoram mais. Eu quando fazia sucesso procurava fazer tudo bem e deu certo.

P. – Como anda a sua relação com seus filhos Roger e Rodrigo, que pediram sua interdição na Justiça?
C.M. – Está tudo resolvido, foi tudo arquivado por falta de provas. Os semelhantes se atraem e os contrários se repelem. Então houve uma discordância total. Você luta a vida inteira, trabalha, cumpre seus compromissos e é isso o que importa. Minha filosofia sempre foi assim: fazer o que é certo, doa a quem doer.

P. – Roger, seu filho adotivo, reclamou que você o teria deserdado.
C.M. – O filho adotivo tem pai e mãe, foi adotado aos 22 anos. É um assunto passado, não tem mágoa e faz parte da vida. Eu trabalho desde os oito anos e vem alguém que não quer trabalhar exigir coisas. Não posso aceitar isso. Deus sabe o que faz.