Carol Menezes
Os três best-sellers do jornalista paraense e biógrafo Ullisses Campbell sobre os homicídios cometidos por Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Flordelis estão sendo relançados nas livrarias de todo o Brasil em forma de box/trilogia. A coleção “Mulheres Assassinas”, lançamento da Matrix Editora, compila os livros “Suzane – Assassina e Manipuladora” (2020), “Elize – A Mulher que Esquartejou o Marido” (2021) e “Flordelis – A Pastora do Diabo” (2022) em edições revisadas e ampliadas.
Houve lançamento oficial em São Paulo na última sexta, 22, haverá uma no Rio de Janeiro no dia 5 de outubro, e também há previsões para Brasília (DF) e Belém (PA), mas ainda sem data marcada. Em paralelo, o autor já trabalha em outras duas obras, com lançamentos previstos para 2024 e 2025: uma sobre os crimes do paulista Francisco de Assis Pereira, que ficou conhecido como “Maníaco do parque”, o primeiro da série “Homens assassinos”, e outro sobre Suzane, detalhando sua infância, adolescência, e os perfis de seus pais.
Neste novo formato, são ainda mais detalhes em mais de mil páginas e 221 fotos, muitas delas inéditas. O box proporciona um mergulho nas histórias de perversidade e crimes que ultrapassaram os limites da imaginação e na mente das assassinas mais famosas do Brasil. As obras vão além dos homicídios em si, explorando as complexidades psicológicas, os antecedentes e as motivações por trás de cada ato criminoso.
Em entrevista ao DIÁRIO, Ulisses conta que o formato é, na verdade, o resultado de uma demanda de mercado: com o lançamento do livro sobre Flordelis, o públicou passou a pedir pela possibilidade de uma caixa ou de um box para colecionar as três obras. “Só que aí quando a editora me propôs fazer o box eu vi que não fazia sentido lançar com os livros antigos, porque essas pessoas biografadas estão vivas, e aconteceu muita coisa com elas, na vida delas. Então eu propus a atualização dos três, então todos têm informações novas”, detalha o jornalista.
Entre os novos detalhes dos homicídios e informações recentes sobre a vida das três condenadas, dentro e fora da prisão estão, por exemplo, a tentativa de Elize de ganhar a vida como motorista de aplicativo, Flordelis querendo se casar dentro da cadeia e Suzane na faculdade, além do ateliê de costura que ela montou e a gestação do primeiro filho. O resultado é uma trilogia que mescla elementos de jornalismo investigativo e “True Crime” que se tornou fenômeno de vendas.
“Nem foi muito desafiador atualizar, porque eu já tinha todos os contatos, fontes, documentos, eu continuei acompanhando os processos de execução penal mesmo depois dos livros lançados. Logo depois que eu lancei o livro da Flordelis eu comecei a atualizar o da Elize Matsunaga, depois o da Suzane. O mais difícil é acompanhar a vida delas porque elas aprontam muito fora a cadeia”, admite Ullisses, citando ainda que Elize forjou um atestado de antecedentes criminais para trabalhar em um condomínio de luxo, enquanto que Suzane ainda mudou de faculdade, engravidou e está no centro de uma disputa judicial envolvendo a guarda de três crianças, são filhas de seu atual namorado, que é também o pai da filha que ela espera.
“Essa é a parte difícil porque estão vivas, têm vida em movimento, está acontecendo coisas o tempo todo. A Flordelis, apesar de ter matado o marido recentemente, já estava pedindo para se casar com outro cara… O difícil é acompanhar esse ritmo de vida”, revela. Ele afirma que mexer novamente nessas obras não o fez repensar sobre a possibilidade de escrever sobre mais mulheres assassinas, até porque seu foco agora é na trilogia “Homens assassinos”, que será inaugurada pelo “Maníaco do parque.
“E paralelamente eu estou fazendo outro livro, que é complementar ao livro da Suzane, contando como foi sua infância e adolescência e mais o perfil dos pais dela, que não tem no livro de 2020. E nele também já vai ter a Suzane mãe, porque a gravidez dela vingou. Os lançamentos serão em 2024 e 2025”, antecipa.
Trabalho braçal e mental – Ullisses conta que nas três obras a parte mais lenta e trabalhosa esteve sempre relacionada a pesquisa dos processos – só o de Flordelis tem 12 mil páginas, e o de Elize, oito mil. É dessa apuração que saíram as marcações de entrevistas com personagens, especialistas, advogados, psicólogos, peritos. “Eu diria que é a parte braçal. Depois vem a parte de escrever, que também é trabalhosa, mas é uma parte que dá mais uma canseira mental do que essa anterior, em que eu preciso ficar indo de fórum em fórum, que são longe um do outro – o da Suzane é em Angatuba, o da Elize é em Taubaté, o da Flordelis eu tive que passar oito meses no Rio de Janeiro. A pesquisa não acaba nunca, nem quando livro termina, justamente porque estão vivas. A pesquisa continua”, garante.
Por se tratar de biografias não-autorizadas, o autor buscou pessoas que conviveram com as biografadas para contar sobre elas. “Essas histórias paralelas têm várias funções nos livros, e a principal delas é mostrar o universo no qual elas estão inseridas. Se eu quiser saber em que universo a pessoa está vivendo eu tenho que entrevistar quem está em volta dela, não é só a pessoa, sabe? As pessoas com quem a gente convive podem dizer muito sobre quem somos”, justifica.
No livro de Suzane, aparecem amigas dela, que também são assassinas e consideradas mais perigosas que ela inclusive, porque assassinaram filhos, tem acusações relacionadas a pedofilia. Para a obra sobre Elize Matsunaga, Ullisses incluiu histórias de garotas de programa para que o leitor pudesse ver como é a dinâmica das mulheres que trabalham com o sexo, e como isso está ligado diretamente à construção da personalidade da Elize.
“Ela mesma diz que se tornou uma mulher muito fria, a ponto de esquartejar o marido, por conta do distanciamento emocional que ela criou quando era prostituta. A Flordelis é a mesma coisa: para mostrar em que universo religioso ela foi criada, como as pessoas cometiam crimes se aproveitando do púlpito, da batina, então eu precisava mostrar. A outra função é permitir um respiro ao leitor, que eu acho que também gostaria de ouvir falar de outras pessoas e não somente das biografadas”, avalia. Ele conta que as histórias paralelas inclusas no livro sobre a herdeira dos Richthofen fizeram tanto sucesso entre os leitores a ponto de ele receber proposta de uma editora para publicar um livro só com histórias de criminosos anônimos.
- E elas? – Por ser um livro-reportagem, o jornalista entrou em contato com Suzane, Elize e Flordelis para ouvi-las, mesmo as obras sendo biografias não-autorizadas, mas nenhuma delas quis falar.
“Na verdade, a Suzane ajudou indiretamente; ela não quis participar do livro mas ajudava checando informações por meio de uma assessora de imprensa com quem eu checava algumas coisas que eram muito comprometedoras, principalmente envolvendo a vida pessoal. A Elize quando eu a procurei ela não podia mais dar entrevista porque tinha assinado um contrato com a Netflix para o documentário ‘Era uma vez um crime’. Mas ainda assim, quando ela soube que eu faria o livro, me mandou uma carta, e essa carta está publicada na íntegra no livro. No texto ela se dirige à filha pedindo perdão e diz que quer explicar para a menina porque ela teve de matar o pai dela. Quando a Flordelis soube que eu estava fazendo uma atualização do livro, pediu para ser ouvida, e aí eu fiz uma entrevista com ela, e essa entrevista consta no livro também. Ela continua se dizendo que é inocente e conta que aceitou a pena imposta pela Justiça como se fosse uma provação de Deus, que ela vai cumprir com dignidade, apesar de querer um novo julgamento, de querer cumprir a pena em casa, porque ela diz que sofre de arritmia cardíaca. Ao mesmo tempo ela pede para se casar com o namorado de 23 anos para poder ter direito às visitas íntimas, ou seja… das três, a Flordelis é a mais conflituosa”, relata.
- Santos ou lendas? – Ainda não há contrato assinado com editora, nem pesquisa iniciada e muito menos previsão de lançamento, mas o projeto “Santos de Cemitérios” já é um projeto que passeia na cabeça do autor. E tudo começou em Belém, quando já era repórter e fez uma matéria desmistificando a história de Josefina Conte, a “Moça do taxi”. Ele ouviu parentes, incluindo uma irmã dela ainda viva à época, e que contou que nunca bateu nenhum motorista de taxi na casa dela.
“Essa matéria repercutiu muito à época. Eu falei sobre a ideia do projeto em um podcast e as pessoas começaram a me procurar de todos os lugares do Brasil dizendo que na cidade delas têm esses mortos famosos, que fazem milagres. Eu fui em um cemitério no Rio de Janeiro que eu não lembro o nome, e nele havia um túmulo que tinha muita vela. Aí me falaram que era uma criança que tinha sido morta e virou uma espécie de santo de cemitério, para quem as pessoas faziam promessa, mas não havia nenhuma investigação, milagre, processo de canonização. Aqui em São Paulo tem o ‘Menino da pipoca’, que morreu engasgado com pipoca. Mas eu acho que isso é tudo lenda, sabe? Acho que o livro vai contar a verdadeira história, porque eu vi, a partir da Josefina, que são lendas urbanas mesmo, que as pessoas vão criando no imaginário”, finaliza Campbell.