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Zelenski volta a Washington para pedir mais armas e dinheiro e acaba frustrado

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltou a Washington nesta quinta-feira (21) em um clima muito menos hospitaleiro do que o encontrado em sua primeira passagem pela capital americana desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltou a Washington nesta quinta-feira (21) em um clima muito menos hospitaleiro do que o encontrado em sua primeira passagem pela capital americana desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.

FERNANDA PERRIN

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltou a Washington nesta quinta-feira (21) em um clima muito menos hospitaleiro do que o encontrado em sua primeira passagem pela capital americana desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Em dezembro passado, ele discursou no Capitólio a convite da então presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e voltou para o campo de batalha com a Rússia munido do Patriot, um sofisticado sistema de defesa antiaéreo, com mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.

Agora, porém, ele teve que responder a cobranças de seus anfitriões, apelar para congressistas liberarem mais dinheiro ao seu país, e tentar convencer o presidente americano, Joe Biden, a enviar mais armamentos mais potentes, sem sucesso.

O ucraniano chegou a pedir para discursar no Congresso novamente, mas o atual presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, recusou. “Não tínhamos tempo. Ele já falou para uma sessão conjunta”, afirmou o deputado a jornalistas nesta quinta.

Zelenski visitou a Casa Branca acompanhado pela mulher, Olena Zelenska. No encontro, Biden quis ouvir do ucraniano como está a situação no campo de batalha da guerra com a Rússia e qual é o caminho à frente. O fato é que a contraofensiva tão propagandeada por Kiev está longe de contemplar as expectativas de seus aliados no Ocidente, e o outono que se aproxima no país do Leste Europeu deve impor ainda mais restrições às ações militares ucranianas contra o país invasor.

Mesmo assim, Biden anunciou o envio de mais US$ 325 milhões à Ucrânia em um pacote de defesa aérea, valor muito baixo quando comparado aos bilhões já repassados pelos EUA a Kiev nesses quase 19 meses de guerra. O americano também concordou em fornecer tanques Abrams, concretizando uma promessa que se arrastava há meses e que, segundo analistas, pouca diferença fará na contraofensiva.

“Como eu deixei claro na ONU esta semana, e você estava lá, o mundo todo tem interesse em garantir que nenhuma nação, nenhum agressor, seja autorizado a tomar um território vizinho pela força”, disse Biden ao fim do encontro, citando seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas.

“A Rússia sozinha obstrui o caminho da paz. Ela poderia acabar com isso hoje, mas em vez disso está buscando mais armas do Irã e da Coreia do Norte que violam diversas resoluções do Conselho de Segurança da ONU que Moscou mesmo votou para estabelecer”, completou o americano.

Zelenski, que ao discursar no mesmo Conselho de Segurança voltou a pedir que o colegiado remova o poder de veto da Rússia, agradeceu pela ajuda americana e disse que o pacote anunciado é exatamente o que os soldados precisam. Resta saber o que de fato as novas ajudas farão nas frentes de batalha.

Durante a manhã, o ucraniano teve reuniões com deputados e senadores americanas. Ele também fez uma visita ao Pentágono, a sede da Defesa americana, onde se encontrou com o secretário Lloyd Austin.

O objetivo da visita foi convencer o Legislativo a autorizar o pedido feito pela Casa Branca para enviar mais US$ 24 bilhões em ajuda militar e humanitária à Ucrânia. Uma ala mais extremista dos republicanos tem criticado o apoio financeiro americano à guerra e afirmado que votará contra o pacote.

A divergência acontece em meio a uma briga entre o Executivo e o Legislativo em torno do financiamento do governo. O Congresso tem até o final do mês para aprovar a liberação de recursos para o ano fiscal de 2024 e evitar uma paralisação das contas.

McCarthy chegou a fazer um acordo com a Casa Branca por mais recursos, mas congressistas de seu próprio partido estão aproveitando a maioria apertada que o líder tem no plenário para impor mais cortes de gastos em troca de apoio ao projeto de lei, a ajuda bilionária a Kiev entra nesse pacote de cortes.

“Se nós não conseguirmos a ajuda, nós vamos perder a guerra”, disse Zelenski a senadores nesta quinta, de acordo com o líder democrata na Casa, Chuck Schumer. Apesar do apelo, os republicanos fracassaram mais uma vez nesta quinta em chegar a um acordo sobre as contas.

Desde a invasão russa, os EUA já forneceram cerca de US$ 47 bilhões em ajuda militar à Ucrânia, de acordo com o conselheiro especial de segurança da Casa Branca, Jake Sullivan. Considerando recursos voltados para fins humanitários e econômicos, a cifra chega a US$ 75 bilhões.

Outra meta que moveu Zelenski, mais ambiciosa, foi conseguir que Biden autorizasse o envio de um poderoso sistema de mísseis conhecido como ATACMS (sigla em inglês para sistemas de mísseis táticos do Exército). No entanto, falando a jornalistas no início da tarde, Sullivan já disse que isso está fora de cogitação.

“Hoje Biden está determinado a não prover ATACMS, mas isso não está fora da mesa de negociação no futuro”, afirmou a jornalistas. O temor americano é que o armamento acabe escalando o conflito, uma vez que se a Ucrânia usar os sistemas para atacar diretamente a Rússia, isso poderia ser o gatilho para uma resposta ainda mais agressiva —talvez até nuclear, como Vladimir Putin e vários membros do alto escalão de Moscou já ameaçaram diversas vezes.

A visita de Zelenski a Washington ocorre após sua passagem por Nova York, onde estreou como líder de um país em guerra na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Na quarta, ele teve uma reunião bilateral com o presidente Lula (PT), onde ambos conversaram sobre esforços para promover a paz e reforma do Conselho de Segurança da ONU.

Além do petista, ele também se encontrou em Nova York com líderes de África do Sul, Quênia, Israel, Albânia, Alemanha, Chile, Romênia e Bulgária. Houve reuniões ainda com investidores e diplomatas, incluindo Henry Kissinger, um dos mais célebres e controversos secretários de Estado que Washington já teve. Depois dos EUA, o ucraniano segue para Ottawa, no Canadá.