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Crítica: Sede Assassina

O diretor Damián Szifron ganhou o mundo em 2014, com o ótimo “Relatos Selvagens”, um filme com pequenas histórias independentes que têm em comum enredos que mostram como a maldade humana pode aflorar em momentos absolutamente banais do dia a dia, gerando sentimentos dúbios e atos absolutamente trágicos ou chocantes.

Quase uma década depois, Szifron retorna aos circuitos com o não tão competente, mas ainda intrigante “Sede Assassina” (2023), que teve uma passagem quase nula pelos cinemas, foi ignorado pelo público e já está disponível no streaming do Prime Vídeo, onde merece ser descoberto enquanto exercício de cinema.

Primeiro por ser um thriller competente, bem realizado e que incorpora elementos caros ao trabalho anterior de Szifron, como a paranoia e a arquitetura do mal.

Dessa vez, temos um thriller intrigante em uma paisagem tipicamente americana. Aqui, Eleanor (Shailene Woodley, aproveitando para dar mais estofo à carreira depois de se tornar uma musa adolescente com a saga Divergente) é uma policial comum que se vê no meio de uma caça a um assassino cruel após este matar a tiros 28 pessoas em pleno Ano-Novo. Mesmo sendo depressiva, ela é recrutada pelo agente do FBI Lammark (Ben Mendelsohn, competente como sempre) por ser perspicaz e atenta aos detalhes da investigação.

Szifron cria um exemplar do gênero policial adulto e competente, ao incluir a cidade de Baltimore praticamente como um personagem, com suas luzes sempre brilhantes e clima frio, como o sentimento de uma população e autoridades que quase ignoram o caos causado pelo serial killer.

Com uma direção e uma fotografia bem amarradas, o diretor trabalha com precisão temas como a espetacularização da violência e a banalização do mal, seja pela motivação do assassino ou pela maneira como os comandantes lidam com toda a situação, centrando parte das cenas nos bastidores da investigação.

Há uma referência, citada inclusive, de “Tubarão”, que nem o banho de sangue é capaz de sensibilizar quem toma as decisões, em ambiente onde a aparência é maior que a competência. Mesmo assim, o roteiro peca pelo tratamento raso dado aos personagens, à exceção da dupla principal, e pela resolução quase abrupta diante de um terceiro ato corrido, que contrasta com a construção cuidadosa da trama conseguida até ali.

Mas nada que comprometa o trabalho maduro de Szifron atrás das câmeras e a composição de Woodley e Mendelsohn, que dão tridimensionalidade aos seus personagens. Enfim, um filme a ser redescoberto em casa. Já está disponível no Prime Vídeo.

Shailene Woodley caça assassino cruel pelas ruas dos EUA
FOTO: divulgação