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Cia Gente traz a Belém espetáculo que une dança e teatro

Pautado pela Estética do Desequilíbrio, espetáculo é resultante das pesquisas do dramaturgo e antropólogo Paulo Emílio Azevedo.
Pautado pela Estética do Desequilíbrio, espetáculo é resultante das pesquisas do dramaturgo e antropólogo Paulo Emílio Azevedo.

Wal Sarges

Belém recebe pela primeira vez o projeto “Brasil sem Ponto Final”, idealizado pelo dramaturgo e antropólogo Paulo Emílio Azevedo, que assina a direção e o roteiro do espetáculo “Fio do Meio/Vertigem”, que será apresentado neste sábado, 16, e no domingo, 17, às 10h, na Praça da República. Trata-se do ato n°2 do projeto, que circulará ainda em Manaus, no norte brasileiro.

Montado pela pela Cia Gente, do Rio se Janeiro, que é uma rede de criação, protagonismo e fomento a processos individuais/coletivos nas diversas áreas artísticas, o espetáculo “Fio do Meio/Vertigem” é formado com duas equipes diferentes, levando espetáculos diferentes para os mais variados lugares do país. “A gente trabalha com a linguagem da dança-teatro. Eu sou dramaturgo e professor de teatro. Meu trabalho é cruzar essas linguagens, porque acho que às vezes a palavra não consegue dizer tudo e outras, o corpo não consegue deixar tão claro o que quer dizer, então precisa da palavra. Então é um espetáculo que usa de duas ferramentas da comunicação humana e que a gente usa para tudo, que são o corpo e a palavra”, explica Paulo Emílio Azevedo.

O espetáculo é desenvolvido em dois atos, iniciando com “Fio do Meio”, que foi vencedor do prêmio Funarte de Circulação em Dança, seguido de “Vertigem”, que este ano representou o país no Festival D’avignon, na França. Juntos, eles formam o segundo ato do projeto “Brasil sem Ponto Final”, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e governo federal.

“‘Vertigem’ é uma obra muito rica e faz parte de uma pesquisa chamada Estética do Desiquilíbrio. No sentido da palavra, quer dizer ‘breve tontura’, pode ser entendida como uma forma de enxergar o mundo rodando. É essa dinâmica que a gente vê na ação entre os dois intérpretes em cena. Eu trabalho muito os sistemas circulares e eles estão sempre correndo muito, e isso é uma alusão à vertigem, mas é ainda um olhar um pouco tonto sobre o mundo, uma embriaguez cênica”, argumenta o diretor.

O espetáculo propõe ainda uma provocação sobre tantos corpos que são invisíveis na nossa sociedade. “Os elementos que unem vertigem são dois: a camisa e o giz escolar, que vão se transformando em cena. Em uma delas, os intérpretes estão com camisa de escola pública e uma cena poética com o giz que desenha o chão em uma alusão à escola. O giz que a professora usa na escola, numa relação lúdica. Mas tem o giz que vai desenhando um corpo que faz referência, por outro lado, a um corpo morto no chão, que pode ter sido na frente da escola. Então esse mesmo giz pode ter vários significados”, aponta Paulo Emílio Azevedo.

MOVIMENTO

Pedro Brum atua na dança há 14 anos, mais especificamente na modalidade breaking, e integra a companhia Gente desde 2015.

“Receber o convite para fazer esse espetáculo foi maravilhoso”, diz ele, que acompanhou todo o processo de concepção. “Estou muito feliz com essa oportunidade de levar este espetáculo para Belém e regiões que eu não conheço. Ele conta um pouco da minha história na companhia, na qual tem uma pesquisa bem interessante na área da política, no âmbito social, para além da dança urbana. Estou muito animado para conhecer e dançar em Belém e com ela”, conta.

Para o dançarino, “Vertigem” é uma travessia feita em 20 a 30 minutos de apresentação. “É carregar toda a história da Estética do Desequilíbrio, que é o conceito que molda praticamente quase todas as obras da companhia, pelo menos nesse ato dois. São dez anos ouvindo esse conceito do diretor, pesquisando sobre ele e se aprofundando dentro do que a gente consegue descobrir no nosso próprio corpo também. Com o desequilíbrio, as quedas, as corridas e o quanto que isso reflete um pouco da nossa história enquanto artista. ”