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Filho de Joe Biden vira réu sob acusação de mentir ao comprar arma

Biden vai voltar para sua casa no estado de Delaware e fazer isolamento social enquanto continua trabalhando, disse o governo.
FOTO: Alan Santos / PR

FERNANDA PERRIN

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O filho de Joe Biden, Hunter, tornou-se réu nesta quinta (14) sob acusação de mentir ao comprar uma arma em 2018. Segundo a investigação, ele não informou que tinha problemas com uso de drogas, como manda a legislação.

A acusação foi apresentada por David Weiss, conselheiro especial do Departamento de Justiça, dois dias após o líder republicano da Câmara dos Deputados pedir a abertura de processo de impeachment contra o presidente americano. O caso também envolve Hunter —republicanos investigam negócios suspeitos do filho com empresas estrangeiras e o papel do pai nessas relações.

É a primeira vez que o filho de um presidente no cargo é alvo de uma acusação criminal.

Segundo a Procuradoria, Hunter comprou um revólver Colt Cobra 38SPL em Delaware em outubro de 2018. Ao preencher o formulário exigido por lei, ele afirmou que não usava e que não era viciado em drogas ilegais. No entanto, é público o problema do filho mais novo do presidente com o uso de crack. Em uma autobiografia “Beautiful Things” (coisas lindas), lançada em 2021, ele descreve seus problemas com o vício.

Mentir em um formulário desse tipo e possuir uma arma sendo um usuário de drogas ilícitas são crimes federais. Um júri federal em Delaware autorizou a denúncia por três crimes, dois relacionados às declarações falsas e um pela posse ilegal de arma.

A pena pode chegar a 25 anos, se ele for condenado pelos três crimes. Há também previsão de multa, que pode chegar a até US$ 750 mil (R$ 3,6 milhões na cotação atual). No entanto, é comum que condenados por esses crimes recebam sentenças muito mais amenas ou nem sequer sejam presos.

Os problemas do filho de 53 anos com a Justiça são uma das principais preocupações de Biden em sua disputa pela reeleição. A oposição, e sobretudo seu provável rival, Donald Trump, usam as investigações contra Hunter para acusar o presidente e sua família de corrupção.

A Casa Branca nega qualquer envolvimento do presidente nos problemas do filho e diz que as investigações ocorrem de forma autônoma e independente.

Weiss, o conselheiro especial que formalizou as acusações, comanda outra investigação que tem Hunter como alvo, nesse caso pelo crime de evasão fiscal. Uma nova denúncia pode ser apresentada ainda neste mês. O procurador foi nomeado para o Departamento de Justiça por Trump e recebeu o status de conselheiro especial no mês passado com o objetivo de obter mais autonomia nas investigações e blindar o governo contra acusações de interferência.

O status é o mesmo de Jack Smith, que lidera dois casos contra o ex-presidente republicano —a posse ilegal de documentos secretos e a tentativa de reverter a derrota nas eleições.

A acusação apresentada contra Hunter nesta quinta ocorre após o fracasso de uma tentativa de acordo com a Procuradoria em julho. As negociações caminhavam para o filho do presidente se declarar culpado pelo contravenções fiscais. Em troca, ele não seria denunciado no caso envolvendo a compra da arma. Outras condições do acordo eram dois anos sem novos problemas com a Justiça e a submissão a exames toxicológicos.

A juíza que supervisiona o caso, Maryellen Noreika, no entanto, considerou os termos do acordo “confusos” e “atípicos”. Mesmo com a apresentação da denúncia nesta quinta, um novo acordo entre as partes ainda é possível para evitar um julgamento. Para analistas, a tendência é que esse ainda seja o desfecho, porque o caso montado pela Procuradoria tem muitas fragilidades.

Em primeiro lugar, Hunter teve a posse da arma por cerca de 11 dias apenas e, ao que se sabe, não é mais um usuário de drogas. Esses dois fatores, normalmente, são suficientes para procuradores desistirem de tornar alguém réu.

Outro problema é provar o vício em drogas. “Claro, é mais fácil se você for alguém que escreveu uma autobiografia [sobre o vício], mas ele poderia dizer: ‘Olha, eu estava só exagerando, estava escrevendo um livro, queria ganhar dinheiro, estava mentindo'”, disse a ex-procuradora federal Jennifer Rodgers à CNN.

Há ainda questionamentos quanto à proibição de posse de armas por usuários de droga. Para críticos do veto, ele é inconstitucional porque violaria a Segunda Emenda da Carta, sobre a qual se baseiam os argumentos pró-armas.

Reflexo disso, as primeiras reações de republicanos à notícia de que Hunter tornou-se réu oscilaram entre céticas e críticas.

“Essa acusação por posse de arma é o único crime que Hunter Biden cometeu que não implica o corrupto Joe Biden”, disse Trump em seu perfil na rede Truth Social. “Os democratas, com todas as suas caças às bruxas horríveis, muito injustas e em grande parte ilegais, começaram um processo que é muito perigoso para o nosso país. Eles abriram a proverbial Caixa de Pandora, e é possível que os EUA nunca mais sejam os mesmos. MUITO TRISTE!!!”

O presidente da Comissão de Supervisão da Câmara, James Comer, chamou a ação de “um primeiro passo muito pequeno”. O deputado Matt Gaetz, por sua vez, um dos membros da ala mais radical do partido, comparou a acusação apresentada a denunciar o assassino em série Jeffrey Dahmer por jogar lixo na rua.