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Exposição debate com arte o que queremos para Amazônia

Arte de Roberta Carvalho, integrante do Projeto Symbiosis FOTO: DIVULGAÇÃO
Arte de Roberta Carvalho, integrante do Projeto Symbiosis FOTO: DIVULGAÇÃO

TEXTO: ALINE RODRIGUES

Discutir o impacto de grandes projetos na Amazônia através da arte é o que se propõe a exposição “Amazônia Desvelada”, que reúne obras de mais de 15 artistas e é um convite à reflexão sobre a relação entre homem e natureza. A mostra abre hoje, 13, às 19h, na Associação Fotoativa, e fica aberta ao público até o dia 11 de outubro, com entrada gratuita.

“Essa exposição é fruto de uma pesquisa que desenvolvi no último ano sobre os impactos biopsicossociais na região amazônica e a exposição abre neste mês de setembro, um mês marcado por mobilizações na defesa da Amazônia em todo o país. É uma exposição que traz muito debate e discussão, mas também convida a todos à luta pela existência de uma Amazônia no futuro, é um chamado urgente”, falou Lucas Negrão, curador e idealizador da mostra.

A exposição é uma realização do Coletivo Pororoka com a Associação Fotoativa, e reúne artistas de origens e linguagens artísticas diferentes. O evento conta com fotografias, vídeos, pinturas, tapeçarias e as arpilleras, uma técnica de costura de retalhos criada no Chile e que desempenhou um importante papel contra a ditadura militar no país.

“São 12 artistas, entre coletivos e exibições individuais. O trabalho da Tapeçaria dos Povos da Terra Pela Amazônia, por exemplo, envolveu o MST e o Movimento dos Atingidos por Barragens. Foram 22 pessoas desses movimentos que integram a construção coletiva proposta pelas artistas Lenu e Leviana. Assim como o trabalho das Arpilleras do MAB, onde mulheres atingidas por barragens bordam suas realidades”, disse Lucas.

O fotógrafo e educador Miguel Chikaoka, que vive e trabalha em Belém desde 1980, onde fundou a Associação Fotoativa e a Agência Kamara Kó Fotografias, participa da exposição com três fotografias que mostram imagens de personagens e paisagens de uma Amazônia dos anos 1980/90.

Fotografia de Miguel Chikaoka, que participa com registros da Amazônia dos anos 1980 e 1990. FOTO: MIGUEL CHIKAOKA/DIVULGAÇÃO

“A exposição reúne obras de artistas que refletem sobre os processos de desenvolvimento criados para a região e um alerta-convite para a mobilização na preservação da Amazônia. Foi com esse espírito que aceitei participar da mesma”, falou Chikaoka, contando que suas obras transitam entre imagens, instalações e objetos de caráter conceitual, pautadas na experiência de religação dos sentidos.

POÉTICA

A indígena Márcia Kambeba, do povo Omágua/Kambeba, no Alto Solimões (AM), mora hoje em Belém e é mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas. Atualmente, cursa o doutorado em Linguística na UFPA, e também faz parte da exposição.

“Minha participação se dá através de poesia. Mandei uma poesia que trata sobre Amazônia. Meus poemas retratam a relação do homem com a natureza e a Amazônia com alma feminina que precisa ser respeitada. Então, eles colocaram minha poesia impressa em um pano para ser apresentada na abertura e tem alguém que vai recitar”, falou Kambeba, que é escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista.

Em sua luta na literatura e na música, aborda, sobretudo, a identidade dos povos indígenas, territorialidade e a questão da mulher nas aldeias. Em 2013, lançou o seu primeiro livro, “Ay Kakyri Tama”, que reúne textos poéticos e fotografias da vivência do seu povo dentro das cidades.

“Fiquei feliz com o convite, pois meu trabalho tem a missão de comunicar essa Amazônia plural, multi-étnica, mas violentada e retalhada por mineradoras, poluentes, ainda tem a violência contra seus povos, como por exemplo, os indígenas. Tudo isso eu tento apresentar nos meus livros”, contou ela.

Desmatamento, construção de hidrelétricas e o eminente projeto de exploração de petróleo na região são temas presentes na mostra. As obras também perpassam por assuntos como o genocídio de povos indígenas, a história de mulheres atingidas por barragens e as lutas dos movimentos sociais.

“Destaco nessa exposição a obra de Francisco Sidou, onde o artista criou uma Arte Generativa com Inteligência Artificial simulando um vazamento de petróleo no litoral da Amazônia Atlântica, e é possível visualizar inclusive a vulnerabilidade dos manguezais e dos caranguejos nessa situação. É um trabalho que alerta para uma discussão maior: o petróleo não é a solução para um mundo em crise climática; a preservação da Amazônia, sim”, destacou Negrão.

“Amazônia Desvelada” é um convite à reflexão e à construção de uma vida ecologicamente equilibrada e socialmente mais justa, entendendo que a relação entre indivíduo e meio ambiente é inseparável.

Visite

l Exposição Amazônia Desvelada

Abertura: Hoje, 13, às 19h.

Visitação: 14/09 a 11/10, de terça a sexta, de 14h às 18h , e aos sábados, de 9h às 13h.

Onde: Fotoativa – Praça Barão do Guajará, 19, Campina

Quanto: Entrada gratuita