Cintia Magno
Surgida ainda na década de 50, a Inteligência Artificial (IA) vem ganhando cada vez mais utilidade no dia a dia da vida moderna e, mais recentemente, voltou a ser destaque com o advento dos chatbots, cujo modelo mais conhecido é o ChatGPT.
Desde que a ferramenta começou a se popularizar no país, as análises se voltaram para o possível impacto que a tecnologia poderia oferecer para o desaparecimento ou substituição de algumas atividades desempenhadas por humanos, porém, o que o mercado já tem observado é que a ferramenta também representa um enorme potencial para o fortalecimento de algumas posições já existentes e até mesmo para o surgimento de novas profissões.
Um levantamento realizado pela recrutadora PageGroup aponta que algumas profissões estão surgindo com o avanço da Inteligência Artificial (IA). O gerente da divisão de Tecnologia do PageGroup, Mario Maffei, considera que os chatbots baseados em IA já são uma realidade que influencia a demanda do mercado de trabalho.
“Primeiro, é uma ferramenta que ajuda muito a automatizar e aprimorar tarefas, sobretudo as mais básicas. Então, alguma tarefa muito repetitiva, que demanda um profissional para realizar essa atividade, pode ser facilmente substituída pela ferramenta, pelo chatbot”, avalia.
“Agora, é natural que quando alguns postos de trabalho são substituídos por máquinas, outros postos de trabalho surjam para que haja esse gerenciamento das máquinas. A gente tem ouvido falar bastante, por exemplo, de regulamentação, da parte ética, a parte de proteção de dados. Imagina uma quantidade massiva de pessoas utilizando essas ferramentas e imputando cada vez mais dados sobre elas, isso vai gerar uma necessidade muito grande de controle, regulamentação e segurança de dados e de profissionais ligados a essas áreas”.
MERCADO
Diante de mudanças que seguem em curso, Mario Maffei considera que nem o Brasil e nem o resto do mundo estão totalmente preparados para esse novo cenário. O mercado está se desenvolvendo e se preparando à medida que a ferramenta também está se desenvolvendo. Nesse sentido, tanto para os profissionais, quanto para as empresas, o momento é de adaptação.
“Tudo vem em relação ao aprendizado. Se você está interessado, enquanto profissional, em aprender a usar a ferramenta, é muito bom. Vai ter bastante espaço para você, seja na sua carreira ou em carreiras novas que vão surgir”, considera o especialista.
“Assim como as empresas também precisam estar interessadas em ver que essa tecnologia é nova, assim como os governos no sentido da regulamentação, da disponibilidade da parte ética e compliance, e também as instituições de ensino precisam entender que isso é uma realidade que já está norteando a forma que a gente aprende e que a gente ensina”.
Maffei destaca que não é raro que algumas empresas ainda restrinjam ou proíbam tais ferramentas no dia a dia, porém, ele acredita que a medida é muito mais buscar entender tais tecnologias e posteriormente possibilitá-las ao uso dos seus profissionais, do que uma simples questão de medo do novo. Por isso, ele considera que é importante as empresas entenderem como a ferramenta pode ajudar no dia a dia dos profissionais que estão inseridos na corporação e, se possível, investir na capacitação desses profissionais, em um relacionamento com as instituições de ensino.
“A tendência é que se fale de inteligência artificial nas escolas, nas universidades. Então, é importante ter uma questão colaborativa também com as instituições de ensino. As empresas podem revisar processos, revisar gestão de negócios que podem ter relação com a inteligência artificial ou com o uso dos chatbots”.
Já para os profissionais, ele alerta que é preciso se aprofundar no tema, ter a curiosidade e o interesse de pesquisar a respeito, entender a funcionalidade e como a ferramenta pode ser utilizada.
“Muita gente acredita que o chatbot, ou o ChatGPT, é tipo um Google. Mas não é isso, ele tem funcionalidades diferentes, às vezes mais completas, às vezes não. Então, para os profissionais é preciso ter essa condição de interesse, de usar a ferramenta mesmo que de uma forma lúdica, e devagar ir entendendo como ela funciona”, acredita.
“A gente está nesse momento de virada de chave e o profissional que quer se manter com alta performance precisa entender que o novo não vem para acabar com empregos ou para substituir o ser humano. O novo, do ponto de vista da tecnologia, vem para implementar, para auxiliar. Então, quem tiver a cabeça orientada ao aprendizado, ao conhecimento não vai ser impactado negativamente pelo advento de novas tecnologias, pelo contrário, vai ser impactado positivamente, com o surgimento de novas vagas, com o surgimento de facilidades. A gente vê uma série de aplicações e uma série de segmentos e profissionais que podem ser impactados positivamente”.
PROFISSÕES
Considerando as demandas que já vêm sendo observadas e o histórico ligado à ferramenta, o gerente da divisão de Tecnologia do PageGroup, Mario Maffei, cita seis posições que podem ser impactadas positivamente ou mesmo que podem ser criadas a partir das necessidades demandadas pelo uso dos chatbots. Confira!
- Engenheiro ou Desenvolvedor de Machine Learning.
Mario Maffei aponta que o mercado vem acompanhando o surgimento de posições relacionadas a machine learning, ou aprendizado de máquina. Nesse sentido, a posição de engenheiro de machine learning ou desenvolvedor de machine learning é uma realidade que já está acontecendo. São profissionais responsáveis por ensinar a máquina no entendimento da sua utilização para outros temas, como para o tema de saúde, de transporte ou de logística, por exemplo. “Tem uma série de posições em que esse engenheiro de machine learning pode estar inserido, no contexto da Inteligência Artificial, com uma nova posição”.
- Cientista ou Analista de Dados.
Cientista ou Analista de dados também é uma posição que já existe, claro, mas que está se intensificando quando relacionada à parte de Inteligência Artificial (IA). A quantidade de dados que é imputada em ferramentas como chatbots é muito grande, portanto, há uma necessidade de gerenciar esses dados e devolvê-los de uma forma estruturada para o usuário que está usando a ferramenta de Inteligência Artificial. Nesse sentido, surge uma maior demanda pelo profissional que poderá fazer esse gerenciamento de dados.
- Posições relacionadas à Ética e Compliance.
Outro cenário identificado pela PageGroup é o de surgimento de posições relacionadas à ética e compliance no que se refere ao uso da ferramenta. “Como a gente fala de uso de dados, tem que ter toda uma regulamentação relacionada a esse uso. A gente já viu o surgimento, por exemplo, da Lei Geral de Proteção de Dados, então, a gente imagina que no futuro próximo vai surgir essa posição de alguém relacionado à parte de ética, à parte regulatória da Inteligência Artificial”, avalia Mario Maffei.
4 – Engenheiro de automação e robótica.
Outra posição que espera receber uma demanda crescente está relacionada à automação. São profissionais relacionados à robótica, como um engenheiro ou cientista de robótica, que possam atuar também voltados para projetar e desenvolver as ferramentas que controlam as inteligências artificiais.
5 – Gerente de projetos.
Espera-se que a utilização e gestão dessas ferramentas também mantenham um relacionamento muito grande, por exemplo, com a área de projetos. “A gente vê a possibilidade também do surgimento de um gerente de projetos, aquele profissional focado em temas Inteligência Artificial, olhando para ela a partir de novos projetos que podem englobar todas essas áreas anteriores, podem englobar o engenho de robótica, o especialista em Machine Learning, o Cientista de Dados”, aponta o especialista.
6 – Profissional de Segurança da Informação.
Outra possibilidade apontada pela recrutadora é o surgimento de um profissional que mantenha uma atuação voltada à segurança da informação ou cibersegurança especificamente dentro das estruturas de IA. Sua atenção estará voltada para identificar como torná-las seguras, evitando ataques cibernéticos e sequestros de dados, por exemplo.