Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a doação de órgãos e tecidos, a Central Estadual de Transplantes (CET), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), dará início à mobilização pela campanha “Setembro Verde”, alusiva ao Dia Nacional da Doação de Órgãos (27 de setembro), que implicará numa agenda com palestras e orientações aos profissionais de saúde sobre o tema “Plante amor por onde for” durante todo este mês.
A coordenadora da CET, Ierecê Miranda, destaca que a iniciativa vem reforçar a importância do gesto de doação com mais informações que possam esclarecer e sensibilizar a sociedade em favor da solidariedade no intuito de elevar os índices de doação e transplantes de órgãos e tecidos no Pará.
“Para se tornar um doador de órgãos basta avisar a família. O desejo de ser doador, quando não informado aos familiares, representa um dos principais motivos para a recusa de doação de órgãos, assim como a falta de informação sobre o processo de doar os órgãos. Pela Lei Brasileira, a doação somente pode ocorrer mediante a autorização da família. Por isso é importante expressar, verbalizando este desejo em vida. Não é necessário deixar a vontade expressa em documentos ou cartórios”, acrescenta Ierecê Miranda.
Em 2023, até o mês de julho, foram realizados no Pará 301 transplantes de córnea, 43 transplantes de rim, 04 fígados e 10 de medula óssea. Ao todo, 1.568 pessoas no Pará estão em lista de espera aguardando por uma córnea (986), rim (578) e fígado (04).
No Pará, são realizados os transplantes de rim, fígado, tecidos oculares (córnea e esclera) e medula óssea. “São cinco hospitais autorizados para transplantar rim, dos quais 04 atendem SUS; 12 instituições de saúde que realizam transplante de córnea (4 atendem SUS), dois hospitais que transplantam medula óssea, sendo um pelo SUS, e um único hospital que faz transplante de fígado também pelo Sistema Único de Saúde. O transplante de fígado e o transplante de medula óssea iniciaram este ano pela rede pública no Pará”, informa Ierecê.
A CET acompanha esses hospitais e coordena e fiscaliza todo o processo de doação, captação e transplantes de órgãos no Estado, sendo estes processos complexos e dinâmicos, com múltiplas etapas envolvendo equipes multiprofissionais.
Atualmente, a Central conta com uma equipe de 16 profissionais, entre médicos, biomédicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, agentes administrativos e motorista, os quais garantem o funcionamento da CET durante 24 horas sem interrupções.
“Nossa equipe atua na recepção das notificações de óbitos de todos os hospitais do Estado, no suporte aos hospitais para diagnóstico de morte encefálica, na validação do potencial doador de órgãos e tecidos, no auxílio ao acolhimento e conversa com as famílias a respeito da doação de órgãos, na organização e coordenação da retirada desses órgãos e na seleção e distribuição dos órgãos”, explica Ierecê.
Segundo a coordenadora, o processo de escolha de quem receberá os órgãos e tecidos obedece a critérios, como tempo de espera na fila e compatibilidade como o doador. Estes critérios de seleção estão catalogados em sistema informatizado do Ministério da Saúde conforme a legislação brasileira. “O processo é sigiloso para garantir a segurança de dados de ambos doador e paciente que receberá o transplante, ressaltou.
Os técnicos da CET também realizam o transporte e a entrega dos órgãos e tecidos captados às equipes transplantadoras autorizadas. Todo o processo de registros e informações das doações e transplantes ocorre on-line com o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde.
Transplantada há 14 anos, Irlene Alves de Lima conseguiu a doação de um rim após 11 anos sendo submetida a vários tratamentos, como a hemodiálise. “Recebi um rim de um rapaz, cujos outros órgãos salvaram a vida de mais três pessoas além de mim. Isso que eu chamo de ato de amor, sabe?”, relata.
Irlene recomenda que as famílias não hesitem em doar os órgãos do ente falecido e quando houver possibilidade. “No meu caso passei a ter uma vida praticamente normal e vivo a dar meu testemunho para que mais ações de sensibilização aconteçam”, finaliza.
Aline Nogueira viveu um dos maiores temores de uma mãe: a morte de um filho. Pois foi o que aconteceu quando Geovane Gabriel, então com apenas 11 anos, veio a falecer após um acidente ocorrido em julho deste ano, em Belém. “Foi um momento difícil, porém com uma decisão da qual não me arrependo, pois meu filho nos deixou e ao mesmo salvou cinco crianças”, relata.
Um fígado, dois rins e duas córneas do corpo de Biel, como era chamado, foram captados para crianças que estavam na fila de espera em Belém e fora do Pará. “Tomamos essa atitude porque sabemos da importância de doar, até porque já perdemos uma vizinha em função dessa espera. O Biel era de repartir com outras crianças seus lanches e o que tinha na mão. Por isso tomei essa atitude”, finaliza Aline.