Aos 30 anos, Neymar está em contagem regressiva. É assim que o craque encara a temporada em que disputará uma Copa do Mundo pela terceira vez na carreira. Ele já indicou que o Mundial a ser iniciado em novembro, no Qatar, deverá ser sua última tentativa de chegar ao topo com a Seleção Brasileira.
Nessa investida possivelmente derradeira pela taça maior, o jogador tem procurado demonstrar que adotou um comportamento diferente desde as férias, dando mais atenção à preparação física e psicológica. Apresentou-se com uma semana de antecedência para a pré-temporada e, no período de descanso, evitou expor nas redes sociais uma vida agitada, preferindo dar destaque a atividades ligadas ao futebol.
Dentro do possível, também tentou ficar longe de maiores polêmicas quando se discutia sua saída do Paris Saint-Germain. De acordo com a imprensa europeia, o adeus do brasileiro era um desejo do atacante Kylian Mbappé, que rejeitou acerto bem encaminhado com o Real Madrid e assinou um contrato gigantesco para permanecer no clube parisiense.
Os jornais franceses apontaram que o PSG listou Neymar como nome a ser negociado, justamente pela relação problemática com a estrela da companhia. A todo instante, como teve de fazer na sexta-feira (19), o técnico Christophe Galtier se vê obrigado a dizer, de maneira pouco convincente, que “não há um mal-estar entre os dois”.
O mais sonoro ruído recente ocorreu na rodada passada do Campeonato Francês, quando Mbappé desperdiçou uma cobrança de pênalti no duelo com o Montpellier. Surgiu nova oportunidade na marca penal, no mesmo jogo, e Neymar fez questão de se apresentar -e converter o tiro.
Em três jogos oficiais na temporada, o brasileiro já tem cinco gols. Fez dois na Supercopa da França, decidida em jogo único com goleada por 4 a 0 sobre o Nantes. Marcou mais um diante do Clermont, na abertura do Francês, com três assistências e homenagem a Jô Soares. E voltou a balançar a rede duas vezes diante do Montpellier.
Ainda que os adversários não estejam no mesmo nível do estrelado elenco do Paris, que ainda tem Lionel Messi, o desempenho do camisa 10 deixou boa impressão.
“Ele está cumprindo o que disse ao Tite que faria”, diz Juca Kfouri, colunista da Folha. “De todos os atletas do PSG, ele foi quem voltou melhor [das férias]. E ele bem é um baita jogador. Por enquanto, a perspectiva é a melhor possível”, acrescenta.
Juca questiona até que ponto as possíveis desavenças no elenco do PSG são reais. Mas acredita que Neymar tenha mais maturidade para lidar com elas do que Mbappé. “Ele é mais maduro. Se isso afetar alguém, vai afetar o mais jovem”, afirma, em referência aos 23 anos do francês.
A experiência, claro, vem acompanhada de uma idade mais avançada. Mas mesmo na parte física o paulista parece estar em posição melhor do que a ocupada antes da última Copa do Mundo. Em 2018, ele chegou à Rússia distante da melhor forma, pois havia passado por cirurgia em dedo do pé direito a três meses e meio da estreia.
O retorno aos gramados ocorreu só duas semanas antes da competição, em amistosos da seleção. No Mundial, fez dois gols, contra Costa Rico e México, e enfrentou muitas críticas por seu desempenho –cresceu a fama de “cai-cai” por causa das sucessivas quedas em campo.
Depois da Copa, as lesões continuaram a atormentá-lo. Na temporada 2021/22, fez apenas 28 jogos, com 13 gols e oito assistências. Um problema sério no tornozelo o deixou fora de ação por mais de dois meses. Em campo, a grande frustração foi a queda nas oitavas de final da Champions League, em virada do Real Madrid.Para o ex-jogador Casagrande, Neymar ainda não conseguiu voltar à sua melhor forma. Ele cita, sobretudo, o desempenho apresentado nas duas últimas edições do maior torneio da Europa.
“O Neymar vem mal na Champions nas últimas duas temporadas. Não fez nenhum gol na última edição. Machucou algumas vezes o mesmo pé. E já não tem o mesmo arranque que tinha quatro anos atrás. Não tem a mudança de direção em campo como tinha”, opina o colunista da Folha.
Mesmo com o bom início do atleta nos jogos pelo Francês, o ex-jogador espera o início da próxima edição da Champions para ver como o camisa 10 se comporta em grandes jogos. “Aí, sim, teremos um parâmetro da qualidade técnica dele em um torneio difícil.”
No Qatar, a expectativa é que os atletas se apresentem no auge da forma física. O torneio será disputado no meio da temporada europeia. Até lá, a maioria dos jogadores deve acumular, no máximo, entre ligas nacionais e continentais, 22 jogos.
“Esta Copa vai ser diferente das Copas anteriores do século 21”, diz Paulo Vinicius Coelho, também colunista da Folha. “Desta vez, os jogadores vão chegar no ápice. E será muito importante a dedicação nesse período [pré-Copa]. Se você tem dedicação, a chance de ter uma lesão é muito menor. E eu acho que o Neymar entendeu isso e tem chance de chegar à Copa num nível técnico e físico muito bom.”
O jornalista, porém, faz um alerta. Apesar de o nível técnico do Campeonato Francês não ser o mesmo, por exemplo, do visto no Inglês, os jogos na França costumam ser mais violentos. “É um campeonato que parece inofensivo, mas é perigoso em alguns momentos.”
Neste domingo (21), o PSG de Neymar enfrenta o Lille, às 15h45 (de Brasília), com transmissão na plataforma Star+.