Dr. Responde

Caso Faustão: Entenda como funciona a fila do transplante no Brasil

O transplante de órgãos é indicado para pacientes com doenças graves, agudas ou crônicas, que não dispõem mais de outra forma de tratamento. Foto: Agência Pará
O transplante de órgãos é indicado para pacientes com doenças graves, agudas ou crônicas, que não dispõem mais de outra forma de tratamento. Foto: Agência Pará
Na semana passada, os fãs do apresentador Fausto Silva, o Faustão, foram surpreendidos pela notícia de que ele precisa de um transplante de coração, pois vem sofrendo de insuficiência cardíaca desde 2020 e agora só um novo coração pode devolver a saúde e a qualidade de vida a ele.
O transplante de órgãos é indicado para pacientes com doenças graves, agudas ou crônicas, que não dispõem mais de outra forma de tratamento. Por isso, o apresentador foi incluído na fila de transplantes regida pela Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo.  Mas afinal, como funciona essa fila de transplante?
Os esclarecimentos sobre esse assunto foram dados pela coordenadora da Central Estadual de Transplantes da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), Ierecê Miranda.
Sobre a posição em que o paciente vai ficar na fila do transplante de coração, Ierecê Miranda disse que uma vez indicado ao transplante, o paciente entra em uma lista única de espera regulada por um conjunto de critérios específicos para a distribuição dos órgãos doados a esses potenciais receptores cadastrados na fila.
Faustão foi internado com insuficiência cardíaca. Crédito: Renato Pizzutto/Band
Segundo Ierecê Miranda, não importa se o paciente é usuário do Sistema Único de Saúde (SUS), de planos de saúde ou se paga diretamente por um atendimento. “A fila do transplante é única e a inscrição do receptor independe do tipo de assistência que recebe, e, da mesma forma, o paciente será transplantado, quando for selecionado, de acordo com os critérios estabelecidos em lei e pelas normas brasileiras mediante a disponibilidade de um órgão doado”. explicou.
A inscrição do paciente na fila do transplante é feita pela equipe médica de transplante que insere todas as informações dos receptores no Sistema Informatizado de Gerenciamento (SIG), que é gerenciado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e as informações dos doadores de órgãos são inseridas no mesmo Sistema pela Central Estadual de Transplante.
Sistema sem interferência
O SIG funciona de forma automatizada. Os pacientes candidatos a receber um órgão estão com seus dados nesse sistema e quando tem uma doação, os dados do doador são inseridos e o próprio sistema gera uma seleção de receptores específica a partir da correlação das características antropométricas, imunológicas, clínicas e sorológicas do doador falecido e a lista de receptores, utilizando os critérios específicos a cada tipo de órgão, para a ordenação dos potenciais receptores. “Então não há interferência de ninguém, pois o paciente só vai ser transplantado se for selecionado neste sistema, afirmou.
A fila do transplante é ordenada de forma cronológica, mas o transplante exige compatibilidades como por exemplo: do tipo sanguíneo (exigido em todas as modalidades de transplante e órgãos), peso e altura (importante para órgãos como o fígado e o coração), o painel de reatividade a anticorpos HLA (importante no transplante cardíaco), a compatibilidade genética (importante no transplante renal). “Além disso, tem a gravidade do paciente, que é um outro critério importante”, ressaltou Ierecê Miranda.
Para Ierecê Miranda, a fila garante transparência, justiça e equidade do sistema, pois as oportunidades são distribuídas igualmente a todos os pacientes da fila. “O Sistema Nacional de Transplantes é regido por uma lei e regulamento técnico que normatiza todas as atividades que envolvem a doação, a captação e o transplante de órgãos, garantindo à população a seriedade do Sistema. Mas os pacientes que aguardam na fila só irão conseguir transplantar se aumentarem as doações de órgãos”, alertou a coordenadora da CET.
Transplante de coração é próxima meta no Pará
Atualmente, há serviços de transplante nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pernambuco, Paraná, Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraíba, Espírito Santos, Alagoas e Rio Grande do Norte.
O Pará realizou há muitos anos vários transplantes de coração, no entanto, na época, não houve força política e habilitação dos estabelecimentos de saúde para realizar e faturar o procedimento pelo SUS, mas hoje, vive-se um novo momento.
De acordo com Ierecê Miranda, o Sistema Estadual de Transplante avançou muito nos últimos três anos. De 2000 a 2021 apenas os transplantes de rim e córneas eram realizados no Pará. Em 2022, começou o transplante de fígado e em 2023 o transplante de medula óssea.
De 2000 a 2021 apenas os transplantes de rim e córneas eram realizados no Pará. Foto: Agência Pará
“O transplante cardíaco é a próxima meta do governo do Estado, mas antes de avançar para essa modalidade de transplante é necessário aumentar as doações de órgãos no Pará”, enfatizou.
Pela inexistência desse tipo de transplante no estado, não há uma fila de espera para essa modalidade. Assim, os pacientes do Pará que necessitam de transplante são encaminhados para outros estados. “Este ano, foi encaminhado um paciente para transplante cardíaco em São Paulo” informou.
Quanto à captação, a CET capta todos os órgãos. Os que não dispõem de serviço de transplante aqui são encaminhados para atender pacientes em outros estados. “No caso do coração, são captadas apenas as válvulas cardíacas para transplante (tecido cardíaco) porque o órgão precisa ser transplantado no máximo até quatro horas após ser captado, o que impossibilita o transporte para outros estados”, explicou a coordenadora.
De acordo com informações publicadas pela imprensa, Faustão está internado, desde o dia 5 de agosto, no Hospital Israelita Albert Einstein, onde vem recebendo tratamento intensivo, incluindo diálise e medicamentos para ajudar na força de bombeamento do coração.
Perante esse caso, Ierecê Miranda nos leva a uma reflexão. “Independentemente da condição social, raça, cor, todos nós podemos adoecer e como é o caso do transplante, precisar do outro para viver. Hoje pode ser um desconhecido que esteja na fila do transplante, amanhã pode ser um vizinho, alguém da família ou você mesmo. Então é importante falar sobre doação de órgãos em casa, com a família e expressar o desejo de ser doador e deixar a vida continuar mesmo após a morte”, concluiu.