Desespero da velha cartolagem
Há uma coisa que o futebol brasileiro assimilou que tem grande importância no aspecto administrativo dos clubes: o surgimento da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) como modelo de gestão pressiona positivamente as velhas estruturas de poder, que ficam com espaço de ação cada vez mais reduzido. A imensa margem de manobra que existia antes pode virar pó com o novo sistema.
Ninguém abre mão pacificamente de tanto poder. Clubes tradicionais como Botafogo, Cruzeiro, Bahia e Vasco já estão sob a égide da SAF. O Atlético-MG não tem SAF, mas é como se tivesse, pois o clube está nas mãos de um grupo de investidores e é administrado como empresa.
Começam a surgir sinais de descontentamento entre os antigos donos de clubes, dirigentes que se eternizavam nos cargos diretivos. Curiosamente, o primeiro grito partiu de setores de um clube que segue administrado no modelo tradicional: o Corinthians.
Quem saiu disparando ataques direcionados ao Botafogo foi o polêmico ex-presidente corintiano Andrés Sánchez, que dedica seu tempo a duelar nos bastidores do clube e a dar pitacos em programas de TV da capital paulista.
Foi justamente numa mesa-redonda que Sánchez soltou marimbondos contra o atual líder do Campeonato Brasileiro. Disse, sem ninguém perguntar –reforçando a ideia de que a fala foi cuidadosamente planejada – que a SAF do Botafogo “é uma mentira”, argumentando que o proprietário do clube, John Textor, teria contraído dívidas e os salários estariam atrasados.
As afirmações não têm fundo de verdade. Sánchez é conhecido por isso, mas suas bravatas não teriam maior consequência se não significasse uma admissão de temor do êxito do modelo. Como representante do velho sistema, Sanchez tem motivos de sobra para bombardear a SAF.
Em meio aos ataques gratuitos ao Botafogo, ele deu sinais de sua principal preocupação. Garantiu que o Corinthians jamais adotará a SAF, também sem nenhuma base concreta para afirmar isso. Todos os grandes clubes estão avaliando, mesmo discretamente, a ideia como fator de sobrevivência.
Apesar de muito criticada, a do Vasco não foi citada por Sanchez. Malandro, ele não citou a de Ronaldo no Cruzeiro, com quem tem negócios. Não foi por acaso que escolheu a do Botafogo, que lidera o Brasileiro e mostra mais solidez que as outras. Não se pode afirmar que o modelo é perfeito, está em fase de introdução no país, mas mostra boas perspectivas.
O pesadelo de gente como Sánchez é que um eventual título botafoguense possa desencadear uma corrida à SAF na Primeira Divisão brasileira. Cenário que obviamente não agrada a dirigentes retrógrados e autoritários como ele e um punhado de outros menos estridentes.
Quando a Jovem Guarda bicolor terá chances na Série C?
Juninho, meia-atacante que veio da Tuna e já mostrou qualidades com a camisa do PSC, foi completamente esquecido depois da chegada de Hélio dos Anjos ao clube. Adepto de métodos pouco ortodoxos na gestão de elencos, o treinador é conhecido pela preferência que nutre por jogadores mais experientes e cascudos.
É uma tendência normal. A Série C é um campeonato que naturalmente leva a escolhas de atletas mais rodados. Quase todos os times têm quatro ou cinco veteranos no elenco. Alguns mais, como o Remo, que tem oito.
Ocorre que algumas situações de jogo permitem o aproveitamento de atletas mais jovens, capazes de imprimir velocidade e habilidade como forma de superar a marcação adversária. A única concessão que Hélio fez à garotada bicolor foi no segundo tempo do jogo com o Náutico.
Na ocasião, ele lançou Roger e a iniciativa resultou proveitosa. O garoto aproveitou um cruzamento na área para encher o pé e marcar o quarto gol do Papão. O que parecia ser um caminho aberto para futuras chances aos mais jovens não teve sequência no jogo seguinte, diante do Pouso Alegre.
Roger voltou a entrar, na vaga de Ronaldo Mendes, aos 28 minutos do segundo tempo. Juninho podia ter sido aproveitado quando João Vieira foi substituído por Nenê Bonilha ou quando Robinho saiu já nos minutos finais para a entrada de Arthur.
Há uma nova oportunidade pela frente. Contra o Confiança, no próximo sábado, com o time já classificado, nada impede que o treinador lance mão de uma equipe alternativa e mesclada. Seria um bom momento para avaliar o potencial de Juninho, cujas habilidades poderiam dar ao meio-campo uma leveza que até hoje não foi notada.
Ao mesmo tempo, Hélio poderia observar se o jovem meia-atacante tem condições de funcionar como uma alternativa viável para as dificuldades normais do quadrangular decisivo. A conferir.
Árbitro dá pênalti e mostra mais coragem que os analistas
Um pênalti claro marcado em favor do Vila Nova, ontem à noite, pela Série B, motivou uma tremenda pressão dos jogadores do Criciúma sobre o árbitro Bruno Mota Corrêa. O lance foi óbvio e claro. A coragem do apitador, que enfrentou as reclamações e revisou o lance no VAR, contrasta com a covardia dos comentaristas do jogo.
Caseiros e aparentemente preocupados com a torcida do Tigre, insistiram no argumento de que o lance era de difícil interpretação. Lorota.
Tudo isso com imagens mostrando que o atacante do Vila Nova foi derrubado por trás, uma falta visível a todos. Depois de muita catimba, o goleiro Gustavo defendeu o pênalti cobrado por Guilherme Paredes, mas ficou a certeza de que nem sempre os árbitros são os vilões.