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Exposição conta a história do grupo Cena Aberta 

A exposição é uma homenagem em especial à memória do dramaturgo Luís Otávio Barata e do cantor e ator Walter Bandeira FOTO: Acervo Cena Aberta
A exposição é uma homenagem em especial à memória do dramaturgo Luís Otávio Barata e do cantor e ator Walter Bandeira FOTO: Acervo Cena Aberta

AGÊNCIA BELÉM

O Cena Aberta fez história em Belém do Pará. Foram 23 espetáculos produzidos entre 1976 e 1991, os quais foram retratados nesta exposição, montada a partir do acervo fotográfico, jornalístico e de documentação do grupo. A exposição foi organizada durante 16 anos por Luiz Otávio Barata, um dos fundadores do Cena Aberta.

Além de fotografias, a exposição conta com vídeos de entrevistas com atores e depoimento de pesquisadores. O projeto é uma realização do Instituto Maré Cheia (Imaré), com apoio da Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel).

ESTÉTICA INOVADORA

O grupo surge em um Brasil sob a Ditadura Militar, fundado também por Margareth Refkalefsky, Zélia Amador de Deus e Walter Bandeira. Influenciado por textos da dramaturgia brasileira e de clássicos da dramaturgia mundial, como Jean Genet, Santo Agostinho, Friedrich Nietzsche e Flávio de Carvalho, o Cena Aberta foi um dos primeiros grupos a inovar também na estética espacial de suas encenações.

“O Quarto de Empregada”, encenado no Theatro da Paz, em 1976, por exemplo, não separava palco e plateia, que era convidada a vir para o palco, junto com os atores e tudo se passava no mesmo espaço. Também invertia papéis, em busca de romper preconceitos. O espetáculo conta a história de duas amigas, uma preta, interpretada pela atriz Margaret Refkalefsky, que é uma mulher branca, e outra branca, interpretada por Zélia Amador de Deus, que é uma mulher preta.

TRILOGIA

O último espetáculo do Cena Aberta foi “A Mulher Dilacerada”, que estreou em 1991. A montagem trazia como protagonista Margaret Refkalefsky e tinha direção de Cezar Machado para o texto cujo nome original é “Mulher Desiludida”, de Simone de Beauvoir, publicado em 1967.

Antes disso, porém, o grupo produziu, entre 1987 e 1991, os espetáculos  mais conhecidos e polêmicos da trajetória. “Posição pela Carne” e “Em Nome do Amor”, que ficaram conhecidas como a Trilogia da Paixão, pois traziam temas da sexualidade ainda não discutidos abertamente como hoje, como as questões de gênero.

“Genet, O Palhaço de Deus”, baseado na obra do escritor francês Jean Genet, teve um processo coletivo, mas dirigido por Luís Otávio Barata, que selecionava textos e os distribuía aos atores que se dividiam em grupos e apresentavam sua versão das cenas. “Posição Pela Carne” foi criado a partir do texto de Antonin Artaud, chamado “Heliogábalo ou o Anarquista Coroado”.

O terceiro e último espetáculo dessa trilogia foi “Em nome do amor”, inspirado nos textos Apócrifos do Novo Testamento, também conhecidos como “evangelhos apócrifos”, uma coletânea de textos, alguns dos quais anônimos, escritos nos primeiros séculos do cristianismo, mas vetados pela igreja católica.

HOMENAGEM

Além de homenagem e reconhecimento ao grupo como um todo, o projeto também enaltece as contribuições de dois grandes artistas paraenses. O dramaturgo, escritor, jornalista e diretor Luís Otávio Barata, que faleceu em 2006, em São Paulo, deixando o acervo que agora impulsiona o projeto; e Walter Bandeira, cantor, radialista e ator de teatro, que faleceu em 2009. O legado do grupo segue influenciando gerações e também servindo como material de pesquisa para teses e dissertações sobre teatro, questões de gênero e dramaturgia no Pará.

VISITE

Exposição “Teatro Cena Aberta – Memória da Cena Paraense”
Abertura: Hoje, 23, às 19h.
Onde: Teatro Popular Nazareno Tourinho (Praça do Carmo, 48, Cidade Velha).
Quanto: Entrada franca.