Falecido no último dia 7 de agosto, o diretor William Friedkin deixou um legado de grandes filmes na história do cinema, mas nenhum foi tão representativo quanto sua obra máxima, e um dos maiores clássicos do terror, que tentou ser imitado por décadas, mas nunca igualado: “O Exorcista”, de 1973.
Ali, Friedkin criou um trabalho definitivo, focado em um roteiro que eleva a tensão pausadamente, foca nas dúvidas dos padres sobre a fé e também no sofrimento da mãe diante da filha possuída pelo demônio Pazuzu, que quando incorpora plenamente na menina, é capaz de apavorar a audiência. Isso graças ao trabalho de excelência na maquiagem, efeitos especiais e trilha sonora, além é claro da composição dos atores, principalmente a pequena Linda Blair, que aparece aterrorizante em cena. Friedkin dirige perfeitamente, com enquadramentos precisos e um trabalho de luz e sombras magnífico.
A partir daí, muitos tentaram replicar o trabalho, estabelecendo um subgênero de possessão demoníaca que nos delegou uma gama de obras ruins, com um ou outro trabalho apenas do mediano para o bom. Entre eles, o atual “O Exorcista do Papa”, que entrou esse mês no catálogo do HBO Max após passar com relativo sucesso pelos cinemas.
Aqui, temos uma adaptação livre de um livro do padre Gabrielle Amorth, chefe de exorcismo do Vaticano, que teria diversos casos reais de possessão, enquanto outros eram enviados para tratamento mental. Curiosamente, Friedkin já havia feito um documentário sobre Amorth, morto em 2020, mas apelou para informações “meio” verdadeiras para conseguir terminar o trabalho (como inserir voz de um jogo de videogame para simular os sons da possuída).
Não espere nenhuma ousadia do roteiro em “O Exorcista do Papa”. É o feijão com arroz já visto milhares de vezes, com uma família atormentada pelo capeta após comprar uma igreja abandonada, e sobra para o filho incorporar o cramunhão, enquanto o padre Amorth (interpretado por Russell Crowe, com cara de quem se divertiu à beça enquanto passeava na Itália), busca pistas para descobrir a origem do coisa-ruim e o que ele quer exatamente.
Com efeitos especiais bem feitos, boas atuações do elenco e alguns sustos, “O Exorcista do Papa” é diversão inofensiva para quem gosta de ver gente sofrendo com o tinhoso na pele e tem sofrido com alguns exemplares trash recentes. Pelo menos aqui, o diretor Julius Avery (do bom “Operação Overlord”) tem alguma noção do que está fazendo. Avery pode ter criado, talvez involuntariamente, uma nova franquia de terror e faz jus a Friedkin, que mesmo morto continuará a influenciar uma geração de cineastas e espectadores na tela grande por muito tempo.