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Fotografia do Pará é destaque em Minas

Imagem da série "Efêmera Película", de Alberto Bitar, editor de fotografia do DIÁRIO. FOTO: ALBERTO BITAR/DIVULGAÇÃO
Imagem da série "Efêmera Película", de Alberto Bitar, editor de fotografia do DIÁRIO. FOTO: ALBERTO BITAR/DIVULGAÇÃO

TEXTO: WAL SARGES

A fotografia paraense é destaque na exposição “Um País que se chama Pará”, que está aberta para visitação em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ela reúne o trabalho de grandes fotógrafos do Pará, em um recorte que engloba produções desde a década de 1980. Depois, a mostra ainda será montada em São Paulo, mantendo a curadoria de Rosely Nakagawa, projeto expográfico de Flávio Franzosi e projeto de acessibilidade de Sílvia Arruda.

Integram a exposição, os fotógrafos Alberto Bitar, Octávio Cardoso, Irene Almeida e Wagner Almeida, que são fotojornalistas do DIÁRIO; além de Alexandre Sequeira, Betania Barbosa Marajó, Cláudia Leão, Dirceu Maués, Elza Lima, Emídio Contente, Flavya Mutran, Guy Veloso, Ionaldo Rodrigues, Jorane Castro, Mariano Klautau Filho, Miguel Chikaoka, Orlando Maneschy, Patrick Pardini, Paula Sampaio, Rafael da Luz, Suely Nascimento, Walda Marques e Yan Belém.

A curadora conta que tem uma ligação com a fotografia paraense desde 1985, quando foi organizada a Semana da Fotografia pelo Instituto Nacional da Fotografia da Funarte. Rosely, que já era curadora em São Paulo, diz que conhecia o trabalho do paraense Luiz Braga, mas foi naquela Semana que conheceu o trabalho de vários outros fotógrafos e assim manteve uma ligação com o Pará.

Depois desse contato, em 2004, a convidaram para fazer a curadoria de uma coleção da geração 1980/1990, para a Casa das Onze Janelas. Rosely conta que pôde conhecer de forma mais ampla a produção desse período e que chamou sua atenção a forma como estes artistas “têm tido uma projeção – pela importância, pela densidade, pela consistência e repercussão – não só no Brasil, mas também com várias produções internacionais”.

Imagem de Octavio Cardoso, editor do DIÁRIO. FOTO: OCTAVIO CARDOSO/DIVULGAÇÃO

Agora, provocada também por um paraense, o fotógrafo Guy Veloso, com quem trabalhou no livro “Penitentes”, veio a ideia de saber como estavam esses fotógrafos da geração 1980/1990, e conhecer os que vieram depois, a partir dos anos 2000. “Assim nasceu este projeto e com ele, a visão de que a fotografia paraense têm um desenho de território cultural, que define o Pará como um país, como uma cultura muito preservada e diferenciada do Brasil e do Sudeste”, diz a curadora.

Fotografias refletem relação com cultura paraense 

“Os fotógrafos que eu já conhecia são todos ligados à cultura paraense, tanto a cultura popular, de cores e festas que permanecem, quanto a uma cultura ancestral, que é a cultura amazônica, e que apesar de todas as ameaças, ainda é muito preservada, seja na comida, na cerâmica ou na língua, num território cultural muito forte e estruturado”, diz Rosely.

Os novos fotógrafos têm apresentado também, a partir de uma ligação com a fotografia analógica, uma visão crítica desse espaço. “Esse território que está extremamente urbanizado, com essa verticalização de Belém, que trouxe muita violência e disparidade social, é uma atualização de uma cultura recente que a gente não tinha na década de 1980/1990”, compara.

Essa disparidade social, complementa Rosely, já existia, mas não nessa dimensão. “Isso obriga muitos a não fotografar mais nas ruas e quando você vê o trabalho de alguém na cidade é sempre o retrato de muita violência, como é o trabalho do Wagner Almeida, por exemplo. Ou ainda é uma denúncia de uma deterioração urbana, como tem no trabalho do Yan Belém e do Rafael da Luz”, considera.

Wagner Almeida está com quatro imagens na mostra. A primeira é da série “Algemas”, de 2016, e as outras, da série “Paraíso dos Pássaros”, iniciada em 2020. As imagens descrevem um conflito entre as ideias de prisão e de liberdade. “Nas minhas fotografias está muito presente o cenário urbano. A gente está falando de um cenário urbano da Amazônia. Acho importante esta exposição tanto para os artistas quanto para a construção dessa documentação fotográfica paraense, que agora virou exposição. Quem sabe futuramente um livro ou catálogo para as próximas gerações”, projeta.

A curadora ainda destaca que a maior parte das fotos são em preto e branco. “Quando a gente fala de Pará e de Amazônia, com muita frequência vem essa imagem idealizada, da natureza e dos animais. Mas eu quis mostrar essa visão mais crítica que tem na fotografia. E no preto e branco ela fica mais contundente. Isso é amenizado pelas instalações que são muito coloridas e trazem um pouco dessa visão mais da cultura do interior, não só do interior do território, mas do interior das casas”, detalha.

“No trabalho da Suely Nascimento, por exemplo, ela traz a memória da casa da avó. O Alexandre Sequeira traz a memória de populações ribeirinhas mais no interior. O trabalho do Alberto Bittar também é um vídeo com cores e som em algumas viagens que ele faz para o interior, então tem aí uma diversidade. Esta exposição é muito rica por isso. Apesar das pessoas trabalharem sempre muito em conjunto, elas têm linguagens e abordagens desse mundo muito diferenciadas e muito características”, observa Rosely.

Alberto Bitar, que atua como editor de fotografia do DIÁRIO, conta que ficou feliz em participar da exposição com tantas pessoas que têm trabalhos que ele admira. “Também acho importante a possibilidade de poder mostrar e fazer circular fora de Belém imagens da ‘Efêmera Película’, série produzida em 1992, no início da minha trajetória na fotografia, além de um vídeo que ainda não foi mostrado em Belo Horizonte ou São Paulo”, acrescenta.

Exposição reúne diversidade e interseções de linguagens 

A exposição também atualiza a concepção sobre a produção fotográfica no Pará para quem está de fora. “Fizemos questão de mostrar a exposição fora do território. Belo Horizonte é também um polo efervescente em fotografia e depois dos festivais de ‘Foto em Pauta’, por exemplo, BH começou a entrar no mapa da produção fotográfica. Posteriormente, a mostra segue para São Paulo para que o público externo se atualize da produção paraense e porque a fotografia paraense é uma referência para os fotógrafos contemporâneos de São Paulo e o encontro com alguns deles, através de palestras e seminários, foi também uma meta do projeto”, diz Rosely.

Cada vez que há uma visita à exposição, a curadora conta que são apresentadas coisas surpreendentes. “O trabalho do Dirceu Maués, que agora está morando em Belo Horizonte, cresceu muito, ele já expôs em vários países e ao mesmo tempo, ele nunca deixou de trazer uma nova experiência. Ele trabalha com caixas de papelão, que são câmeras obscuras e aparentemente são precárias, mas são experiências visuais muito interessantes”, detalha.

Entre os novos fotógrafos a casos como Emídio Contente, que está quase fazendo cinema. “Hoje a fotografia é uma linguagem muito apropriada pelas artes visuais”. Outra técnica é a utilizada pela fotógrafa Irene Almeida, cujas imagens não passam por uma lente, fazendo a “grafia da luz direta no papel sensível”, descreve Rosely. Para a exposição, Irene registrou a flora de Belém