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Elevados de Belém viram galerias a céu aberto

Belém tem ganhado cores em diversas vias públicas centrais, compondo uma galeria de arte a céu aberto, com painéis em grafite. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Belém tem ganhado cores em diversas vias públicas centrais, compondo uma galeria de arte a céu aberto, com painéis em grafite. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Wal Sarges

Belém tem ganhado cores em diversas vias públicas centrais, compondo uma galeria de arte a céu aberto, com painéis em grafite. Os traços remetem à riqueza da arte amazônica, dando visibilidade ao trabalho de artistas visuais, além de embelezar a cidade. As obras podem ser contempladas nos elevados Carlos Marighella, localizado na avenida Doutor Freitas, e Gunnar Vingren, na avenida Júlio César.

A proposta é um desdobramento do projeto “Cores do Pará”, que está em sua terceira edição. A iniciativa é do produtor cultural André Monteiro e tem a coordenação artística de And Santtos, que fez a curadoria. A seleção reuniu pessoas que passaram pelo projeto em edições anteriores, realizadas em outros municípios paraenses, e artistas atuantes na área há anos. Participam os artistas Dannoelly Cardoso, Vitor Matos, Edpaulo Cardoso Moraes, Bianca da Silva (Parawara), ORDEP, Nilo Nilo, Green Matinta e Marcelo Alho.

Com atuação em artes visuais há 15 anos, Théo Lima une sua essência a uma linguagem contemporânea em seus desenhos. A concepção veio desde quando ele decidiu estudar desenho no Núcleo de Oficinas Curro Velho. Formado em biblioteconomia, sua paixão é o grafite, onde encontrou uma maneira de se expressar de forma autêntica.

Oriundo de uma família de ceramistas do Paracuri, bairro do distrito de Icoaraci, onde passou a infância, Théo passou por várias influências, desde os traços com influências marajoaras e tapajônicas à cultura maracá, representada em conteúdos iconográficos, grafismos e simbolismos de peças cerâmicas encontradas nos sítios arqueológicos do Amapá.

“A minha pesquisa se baseia na antropologia visual, num trabalho com cuias e cerâmicas, e há algum tempo trouxe isso para o grafite. Busco fazer um resgate dessas minhas influências, mantendo um equilíbrio entre as artes plásticas e o artesanato. O grafite é uma forma de expressão da minha alma; é o que eu carrego dentro do meu coração”, define.

Depois de participar de um projeto no município de São Caetano de Odivelas com o artista visual And Santtos, Théo foi convidado para atuar neste “Cores do Pará”. Desde então, seu trabalho ganhou notoriedade, além de ter aumentado suas encomendas.

“Trazer o nosso trabalho para a área metropolitana de Belém tem um impacto muito grande tanto para nós, enquanto artistas, quanto para quem está vendo de fora. Para mim, foi uma experiência incrível e até agora estou refletindo muito sobre esse trabalho. Foram os primeiros elevados a serem grafitados com essa linguagem amazônica, que traz uma atmosfera dos nossos povos ancestrais, então, para mim o convite do And foi muito positivo. Deu visibilidade ao meu trabalho e aumentou o número de seguidores nas minhas redes sociais”, comemora ele, que já recebeu outras propostas de trabalho envolvendo a produção de pintura em cuias, em Salinópolis, após a repercussão dos painéis.

No elevado da Júlio César, Théo conta que fez uma interação com outros artistas culminando em um painel com elementos como urnas funerárias e vasos. Depois, em outra interação coletiva, no cruzamento das avenidas Dr. Feitas e Almirante Barroso, pintou uma das colunas do elevado inspirado em fragmentos marajoaras. “Tento trazer isso para uma linguagem contemporânea, sem afastar a essência ancestral dos traços”, descreve.

No elevado da Júlio César, Théo conta que fez uma interação com outros artistas culminando em um painel com elementos como urnas funerárias e vasos. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Curador da ação, o artista visual And Santtos diz que almejava há algum tempo trazer essas pinturas para Belém como resultado do projeto. “Pensando na Amazônia como porta-voz para o mundo, neste momento em que os olhos se voltam para a região, com a realização de eventos pela COP 30, a gente começou a abordar vários elementos, como a fauna, a flora e cultura. Buscamos enfatizar temas como os bois de máscaras de São Caetano de Odivelas, o carimbó, o grafismo indígena, que está sempre presente para falar dos povos tradicionais, além da cerâmica e os traços tapajônicos. Todo esse universo amazônico está presente nos painéis grafitados”, diz.

And Santtos ressalta a importância da valorização da arte amazônica.

“A arte é um instrumento transformador da sociedade. A gente vibra, comemorando com os artistas e a população, ao ver os nossos lugares repletos de arte. A nossa preocupação no projeto é dar essa visibilidade para os artistas. A gente sabe que não é fácil viver de arte. Cada um teve sua peculiaridade dentro do conceito amazônico, cada um se expressou dentro de sua linguagem, ficamos muito felizes que pudemos agregar vários artistas e alunos, e assim promover ainda mais a cultura do estado e a nossa arte”, ressalta o artista. Ano passado foram percorridas mais de dez cidades com o projeto, com ações de arte-educação da Ilha do Marajó ao sul do Pará.

O coordenador do “Cores do Pará”, André Monteiro, também compartilha da emoção de And Santtos. “Ao longo dos anos, o projeto vem realizando capacitação artística em vários municípios do estado. Sempre que ele começa num município ou em uma comunidade, a gente abre inscrições para uma turma de 30 alunos, que passa por um processo teórico de artes visuais e depois por um processo prático. Após essas fases, a turma é convidada a fazer pinturas em seus próprios municípios e comunidades, deixando as pessoas certificadas e as cidades mais coloridas. Esse é o foco do projeto, capacitar e deixar as pessoas capacitadas para trabalhar em artes visuais em seus lugares.”