TEXTO: WAL SARGES
O cantor lírico Edelmiro Soares se apresenta nesta quarta-feira, 9, às 21h30, no bar Municipal, em Belém, com o recital-show “Nego Bruno”, em que faz uma homenagem ao escritor Bruno de Menezes. A noite contará com as participações das cantoras Roberta Brito, Núbia de Freitas e Olivia Melo.
“A Núbia de Freitas é quem faz a abertura da noite. Ela é uma cantora cega que eu já dirigi. A Olivia Melo, que é uma cantora da noite maravilhosa, é filha de um grande violonista de sete cordas, chamado Vaíco, um ‘chorão’ inveterado que me incentivou muito quando comecei, há mais de 40 anos”, destaca Edelmiro.
No piano e arranjos, Tynnoko Costa é quem acompanha o artista no palco e assina a direção do espetáculo, que conta ainda com Nazaco Gomes na percussão. O evento tem ainda a participação do músico Diego Xavier, que escreveu com Carla Cabral uma música para Edelmiro, chamada “Águas de Oxalá”.
O cantor diz que pretende gravar o evento em audiovisual para inscrever em editais futuros. “Seria muito bom contar com o apoio de alguma empresa interessada em fazer a gravação desse material, que é o nosso desejo, para inscrevê-lo em editais ligados à arte e literatura.”
Comemoração dupla no show
A apresentação representa uma comemoração dupla porque celebra idade nova de Edelmiro Soares, que completará 65 anos, dos quais 45 foram dedicados à carreira artística. Cantor lírico por formação, o artista atua ainda como professor de música. “‘Nego Bruno’ acabou se tornando um recital-show depois de mergulhar na obra de Bruno de Menezes, em espetáculos em que eu fui convidado para participar no ano passado. Um deles era o espetáculo ‘Batuques’ e desde essa apresentação aprofundei a minha pesquisa sobre o escritor e algumas coisas sobre negritude. Bruno de Menezes faria 130 anos de nascimento este ano e eu faço 65 anos, a metade, então achei muito pertinente cuidar desse mote e criei esse personagem, que é o Nego Bruno, em alusão a ele”, explica o cantor.
Ele destaca suas descobertas quando se debruçou sobre a obra do escritor. “Bruno de Menezes é muito conhecido pela questão do folclore ou pelos livros que retratam a negritude afro-ameríndia, mas ele tem textos bastantes interessantes no sentido de renovação da arte brasileira e não só da literatura. Inicio este espetáculo com um texto dele chamado ‘Arte Nova’. Daí em diante, serão vários textos com canções de gêneros e estilos de compositores diversos, entremeando com essas poesias dele. Ao mesmo tempo em que tem uns sambas, tem umas congadas e ainda coisas dançantes e reflexões. Peguei ainda algumas coisas de Waldemar Henrique que compôs junto com Bruno de Menezes, coloquei ainda chorinho, Chico Sena com ‘Flor do Grão-Pará’, e Vital Lima com ‘Pastores da Noite’. São cinco textos a cada bloco, com três ou quatro peças musicais”, descreve.
Artista fez pesquisa densa sobre Bruno de Menezes
A paixão pela obra de Bruno de Menezes é antiga, garante Edelmiro. “Eu já conheço a obra do Bruno de Menezes desde criança porque em Igarapé-Miri, a minha professora de Português já colocava para gente a literatura paraense. Quando vim para Belém, e comecei a estudar música, estudei piano com a professora Lenora Menezes, que é filha do Bruno. Daí o interesse pela obra dele se tornou mais evidente ainda”.
O Bruno era um cara inquieto com as questões da arte estática, acrescenta Edelmiro Soares. “No texto ‘Arte Nova’ ele já falava sobre um dos temas da Semana de 1922, que aconteceu no Sudeste, mas aqui, o Bruno de Menezes já trazia essas questões nesse texto e em alguns outros. Sem contar a inquietação dele sobre a questão da afro-culturalidade, o racismo estrutural que a gente ainda vive hoje, que aparece no texto maravilhoso chamado ‘Mãe Preta’, que retrata as mães de leite no Brasil”, destaca.
Outros textos foram incluídos por Edelmiro no espetáculo. “Ele [Bruno] frequentava muito a escola de samba Quem São Eles, no Umarizal, e nessa vertente folclórica, tem um texto dele que se chama ‘São João do Folclore e Manjericos’, que vou dar em cena e é muito bonito, sobre as mudanças do folclore que o inquietavam, que são pontos em comum entre nós dois. Ele tem ainda um poema chamado ‘Soneto de Aniversário’ que é a minha cara e eu adoro. Outro é o ‘Luar de Agosto’. Eu gosto muito de ter mergulhado no Bruno e ter criado essa personagem Nego Bruno”, orgulha-se.
Parcerias garantiram retorno ao palco
Após um hiato de quase uma década, Edelmiro Soares diz que se sente grato por todo apoio que recebeu para este recital. “Neste retorno, estou tendo um apoio imenso de várias pessoas. Uma delas é a Milene Guedes, que é aluna da Escola de Teatro e Dança e abraçou o projeto, fazendo a produção executiva, a luz e a cenografia. E o Tynnoko Costa, que é mais que um amigo, é meu diretor musical, arranjador e quem criou uma linguagem musical para este espetáculo que a gente vem desenvolvendo e inovando a cada apresentação, na música e na poesia.”
O cantor está com a agenda do recital confirmada também para o dia 20 deste mês, no Espaço São José Liberto, e nos dias 8 e 9 de setembro, no Espaço Afro-Cultural Arauara, no Conjunto Maguari, ambos em Belém.
PRESTIGIE
“Nego Bruno” – recital-show com Edelmiro Soares
Quando: Hoje, 9, às 21h.
Onde: Bar Municipal (R. Municipalidade, 1643 – Umarizal)
Quanto: R$30 ( ingressos individuais); R$120 (mesa 4 lugares).
PIX: chave: [email protected] (a reserva da mesa será feita mediante envio de comprovante).
Outras datas: Dia 20/08 (Espaço São José Liberto – Jurunas) e dias 08/09 e 09/09 (Espaço Afro-Cultural Arauara – Conjunto Maguari)