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Maria Gladys volta ao Rio e ao trabalho

Maria Gladys é avó da também atriz Mia Goth, estrela de filmes de terror. FOTO: divulgação
Maria Gladys é avó da também atriz Mia Goth, estrela de filmes de terror. FOTO: divulgação

Lucas Monteiro/Folhapress

Musa do cinema marginal dos anos 1960 e 1970, a atriz Maria Gladys, 83, está de volta ao Rio de Janeiro depois de passar quase dez anos isolada em Santa Rita de Jacutinga, zona rural de Minas Gerais. Em seu retorno à boemia carioca, ela conta, entre um gole e outro de cerveja, que não sabia que tinha virado meme na internet nos últimos meses.

Gladys é avó da atriz britânica Mia Goth, 29, estrela de filmes de terror como “X – A Marca da Morte” (2022) e “Infinity Pool” (2023), além de “Ninfomaníaca”, de Lars von Trier e, após a descoberta do parentesco, foi abraçada quase que instantaneamente pela web. “Isso é maravilhoso, para mim, para ela, para a família toda. Fico muito feliz em saber disso. Quem sabe pode me render convites para atuar”, diz.

O parentesco das atrizes voltou a ser comentado em fevereiro deste ano, após Mia dar uma entrevista para a revista Cultured Magazine, na qual declarou que sua avó era a maior inspiração na atuação. “Tem de ser minha ‘vovó’, minha avó brasileira, que também é atriz no Brasil. Ela tem uma vida incrível, passou por muita coisa e sempre me encorajou a expandir meu universo ao máximo. Acho ela incrível”, respondeu na ocasião.

A brasileira se tornou bisavó há pouco mais de um ano: Mia e o marido, o também ator Shia Labeouf, são os pais de Isabel, que Gladys ainda não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente. “Gosto muito de viajar e queria poder conhecer a Isabel logo, mas dinheiro é um problema.”

A atriz dá mais um gole na cerveja e revela que adoraria contracenar com a neta em alguma oportunidade. “Seria o máximo, uma honra. A Mia faz imitações desde os três anos de idade, ela é muito boa, melhor do que eu.” Ela, porém, não assistiu às produções recentes nas quais a neta atuou. “Não vi, estava vivendo afastada de tudo, então não tinha esse contato nem com cinema”, conta.

SOLIDÃO

Os anos em Santa Rita de Jacutinga, cidade com pouco mais de 4.000 habitantes, afastaram a atriz do convívio social. Ela afirma que estava ficando muito íntima da solidão nesse período. “Você se acostuma com a solidão e acaba não querendo ver mais ninguém. Ficar sozinho é viciante”, diz.

Cercada por mato e montanhas, Gladys conta que o silêncio era bom, mas sua filha a resgatou. Ela descreve o momento com um trecho do poema “Aniversário”, de Álvaro de Campos, um dos heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa: “O que eu sou hoje é terem vendido a casa”.

Agora, morando com a filha na capital fluminense, a atriz conhecida também por seus trabalhos mais recentes, como “Senhora do Destino” (2004), “O Beijo do Vampiro” (2003), “Fera Ferida” (1993) e “Vale Tudo”, em que interpretou a faxineira Lucimar, conta que volta às telas em breve. “Terminei minha participação no novo filme de Ruy Guerra. Ainda não tem previsão de estreia, mas foi o máximo”, afirma. Ela se refere ao filme “A Fúria”, encerramento da trilogia iniciada por Ruy Guerra em 1964, com “Os Fuzis”, e sequenciada em 1978, com “A Queda”.

Sobre sua relação com dinheiro, a atriz afirma que recebe uma aposentadoria pequena da TV Globo e parte do aluguel de um apartamento em Cabo Frio (RJ), que ela divide com um primo. “É muito pouco para o jeito que gosto de viver.”

Contudo, alguns itens são indispensáveis para o dia a dia da atriz. A cerveja que toma diariamente e considera que desperta o apetite, além da maconha. “Me desperta, me agita, me acalma, me faz melhor. Para mim é um remédio.”