COP

'Diálogos Amazônicos' devem garantir propostas concretas à Cúpula da Amazônia

Belém vive um fim de semana histórico de sexta (4) até domingo (6) em função dos Diálogos Amazônicos. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Belém vive um fim de semana histórico de sexta (4) até domingo (6) em função dos Diálogos Amazônicos. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Carol Menezes

Belém vive um fim de semana histórico de sexta (4) até domingo (6) em função dos Diálogos Amazônicos, programação que vai reunir iniciativas da sociedade civil organizada com o objetivo de pautar a formulação de novas estratégias para a região.

As atividades ocorrem no Hangar Convenções & Feiras da Amazônia e a programação foi aberta oficialmente ontem à noite, na presença de autoridades dos governos federal e estadual e milhares de participantes – são mais de onze mil inscritos, superando a expectativa inicial de quatro mil. O evento é considerado preparatório à 30ª Conferência das Partes (COP 30), que será realizada na capital paraense em 2025.

Os “Diálogos Amazônicos” integram a programação da Cúpula da Amazônia, que será nos dias 8 e 9, também no Hangar, e seus resultados serão apresentados por representantes da sociedade civil aos líderes reunidos na Cúpula. São esperadas as presenças de todos os presidentes dos países que compõem a Organização do Tratado de Cooperacao Amazônica (OTCA) – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

A atriz e cineasta Dira Paes fez a fala de abertura, em meio a danças protagonizada por povos tradicionais. A ativista Concita Sompré, da aldeia Kyikatêjê (Gaviões) e primeira indígena a entrar para o curso de Mestrado em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifespa), fez um apelo aos presentes, lembrando que a terra pede socorro.

“Parem de nos matar. O crescimento do país e da humanidade, o desenvolvimento econômico não podem estar acima da vida e nós temos sofrido com nossos corpos e espíritos toda a violência que tem chegado aos nossos territórios”, lamentou.

Em seguida, um momento emocionante e que rendeu muitos aplausos: a entrada do cacique Raoni, líder da etnia caiapó. “Isso é a minha luta: a defesa da floresta. Somos os primeiros habitantes do Brasil. Portugueses não descobriram, eles invadiram o Brasil. Até hoje o homem branco é nosso inimigo porque não nos ajuda, são contra os povos indígenas”, denunciou, afirmando que nunca se envolveu com madeireiros e garimpeiros, a quem acusou de serem agentes de destruição e morte.

O governador Helder Barbalho (MDB), presente à abertura, foi presenteado por duas indígenas com uma pintura. Ele estava acompanhado da primeira-dama, Daniela Barbalho; da vice-governadora Hana Ghassan; do ministro das Cidades, Jader Filho; do ministro do Turismo, Celso Sabino; do senador Beto Faro (PT); da deputada federal Elcione Barbalho (MDB); e do presidente da Assembleia Legislativa (Alepa), deputado Francisco Melo, o “Chicão”.

Kleber Karipuna, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirmou que não é possível sair dessa programação sem propostas concretas. “Precisamos ter compromissos assumidos pelos países para podermos retornar a Belém em 2025 para demonstrar os resultados, que só existirão se houver participação de todos no processo”, discursou.

Ana Felicien, do Instituto Venezuelano de Investigações Científicas e Movimento Pueblo a Pueblo, da Venezuela, falou da importância de abrir um espaço para esse diálogo. “Possibilitará uma visibilização das nossas lutas e nos aproximará do entendimento de que o reforço do diálogo é necessário por um mundo mais justo e saudável, e que é possível”, declarou.

Prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL) disse que o momento vivido pela capital é histórico. “A Amazônia é região muito rica em biodiversidade, no potencial hídrico mas é muito mais rica quando se fala em diversidade étnica e cultural. Não é mais aceitável que outros falem em nome dos amazônidas. Somos quase 30 milhões, mais de 300 línguas. Queremos um projeto para toda a humanidade”, reforçou.

O evento é considerado preparatório à 30ª Conferência das Partes (COP 30), que será realizada na capital paraense em 2025. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

O chefe do Executivo paraense afirmou que é motivo de orgulho pensar que Belém será em 2025 a capital do mundo nas discussões das mudanças climáticas do planeta.

“A partir dos diálogos amazônicos chamamos a todos aqueles que debatem a Amazônia e falam sobre nós para que possam com os pés no chão ouvir as vozes do nosso povo, conhecer um povo lutador e que deseja ser escutado na construção de uma sociedade melhor, uma região sustentável, próspera a partir da integração do maior bioma tropical do planeta aos seus 30 milhões de habitantes. Que tenhamos propostas e ideias que cheguem a todo o planeta”, avaliou Helder.

Extremamente aplaudida, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva agradeceu ao governador e ao prefeito pela recepção e por propiciaren o espaço para um encontro tão importante.

“Faz 14 anos que os países que compõem a OTCA não se reuniam. Agora estamos aqui após tempos de ameaça à democracia, às políticas públicas e tudo o mais que permite a defesa da justiça social, do meio ambiente e dos direitos humanos, para que todos os segmentos possam fazer esse diálogo e apresentar aos presidentes da República quais são as expectativas da sociedade brasileira para aqueles que vão compor a Cúpula da Amazônia. Daqui teremos uma declaração e há uma expectativa muito grande que seja uma declaração de esperança”, posicionou-se.

O chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República encerrou a solenidade. “É muito emocionante estar aqui, porque foi muito difícil chegar aqui. O presidente Lula (PT) está fazendo história e convocou a Cúpula da Amazônia. Os movimentos sociais e os governos criaram esses diálogos porque a participação social está no centro da construção de um projeto coletivo. Isso é a prévia da maior COP do mundo, a COP 30. São 405 plenárias, um evento gigante, do tamanho da Amazônia”, concluiu.