Guilherme Luis/Folhapress/São Paulo, SP
A banda Restart vai voltar à ativa depois de oito anos de hiato. Febre entre os adolescentes no início dos anos 2010, o grupo de rock colorido e “good vibes” fará uma turnê de despedida em comemoração aos 15 anos de sua criação.
Os músicos Pe Lanza, Pe Lu, Koba e Thomas vão viajar pelo país para fazer uma última maratona de shows a partir de 7 de outubro, quando se apresentam em São Paulo, no Espaço Unimed, na zona oeste da cidade. Os ingressos começam a ser vendidos nesta sexta-feira (4), no site da empresa Ticket 360. Será o primeiro show deles desde 2015, quando a banda se desmanchou.
A turnê, batizada de “Pra Você Lembrar”, vai passar também por Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, ainda neste ano, e em Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador e Recife, no ano que vem. Os locais e datas destes e outros shows ainda serão anunciados.
Vestidos com as roupas coloridas que marcaram a banda, os músicos se aconchegam num sofá para contar por que decidiram relembrar os velhos tempos. É a primeira que eles dão entrevista como uma banda em oito anos.
A vontade surgiu quando eles se encontraram no ano passado para pôr o papo em dia após a pandemia. “A gente passou por um processo de reconexão. De nós como adultos e como banda. Quando o grupo pausou, tínhamos 25 ou 24 anos. Hoje a gente tem 32 ou 31 anos”, diz Pe Lu, um dos vocalistas. Ele, que agora é o mais famoso entre os quatro, com 325 mil seguidores no Instagram, virou produtor musical e empresário de artistas.
“Ainda nem começamos a tocar, mas já estamos nos divertindo para caramba com essas primeiras vezes de novo, como fazer um ensaio de fotos”, diz, depois de posar com os colegas.
Eles vão voltar com o visual repaginado. Deixaram para trás, por exemplo, os cabelos alisados, que dizem não combinar com os marmanjos que são hoje.
Por outro lado, vão continuar usando as roupas coloridíssimas que marcaram sua estética. No auge da banda, virou moda entre os adolescentes, mesmo entre quem não era fã, vestir calças amarelas, laranjas, roxas e verde neon coladinhas no corpo.
“Nesses oito anos que se passaram, vivemos coisas diferentes. Não tem como a gente fazer exatamente o que fazíamos”, diz o guitarrista Koba, que virou diretor de uma produtora de vídeos nesse meio-tempo. “Tentamos abraçar a personalidade nova de cada um, que vai estar expressa nas roupas, mas de um jeito que ainda pareça Restart.”
É uma turnê puramente nostálgica, afinal. Eles vão tocar cerca de 25 músicas no show, escolhidas a dedo pelos quatro, com uma setlist que passeia por toda a discografia da banda – e que vai incluir hits como “Levo Comigo”, “Recomeçar” e “Menina Estranha”. Eles não pretendem lançar músicas novas.
A banda promete ainda shows cheios de pirotecnia, com efeitos especiais e imagens do passado deles nos telões. A turnê é financiada pela Mynd, uma agência de marketing que tem Preta Gil como sócia.
Há quem diga que grupos desmanchados só aceitam se reencontrar porque precisam de dinheiro para pagar as contas – foi o que ouviram Sandy e Júnior em 2019, quando fizeram uma grande turnê pelo país.
“É óbvio que você tem que ser bem pago pelo seu talento”, afirma Pe Lanza, que era o vocalista principal da banda. “A gente não vive sem dinheiro, mas o tesão falou bem mais alto na hora de decidirmos voltar”, acrescenta. Ele seguiu lançando músicas sozinho depois do fim da banda, e, no ano passado, participou do “Power Couple”, um reality show da Record.
Pe Lu concorda. “Artista tem que ser pago. Não é vergonha nenhuma enriquecer porque você faz um bom trabalho. Queremos ser remunerados pelo show, e eu espero que a gente seja.”
RESSURREIÇÃO EMO
O Restart se aproveita da volta do emo, vertente do pop rock que ficou popular nos anos 2000 e que foi ressuscitado com a ajuda de nomes como Willow Smith e Olivia Rodrigo.
No Brasil, o ritmo foi comandado por bandas como a própria Restart, Fresno e NX Zero – que, após seis anos de hiato, também se reuniu numa turnê comemorativa. É o caso também do quinteto Cine, que na semana passada anunciou que fará um reencontro nos palcos.
É prova de que o emo está em alta de novo. “Não só a gente, mas toda a cena emo, um movimento que a gente encabeçou às vezes, transformou a vida das pessoas”, afirma Koba.
Apesar disso, a banda era feita de chacota. Seu visual excêntrico era motivo de piadas de cunho homofóbico, ainda que os quatro integrantes afirmem ser heterossexuais.
“As pessoas achavam que estavam desmerecendo nosso trabalho [com essas piadas]. Criamos empatia e compreensão pela luta porque tínhamos muitos fãs da comunidade LGBTQIA+”, relembra Pe Lu.
Mesmo com o sucesso estrondoso, a Restart acabou porque os quatro estavam fatigados e queriam respirar ar fresco. Thomas, por exemplo, parou de tocar bateria por vários anos e foi morar na praia. .
O grupo nasceu em 2008, depois de os quatro garotos se conhecerem na adolescência. Lançaram discos em português e em espanhol, um DVD, venceram prêmios e fizeram uma geração de jovens se fascinar pelo que eles chamam de “happy rock”, ou rock feliz.
É o que mostra um vídeo gravado em 2010 pelo jornal “Folha de S.Paulo” na avenida Paulista, onde milhares de fãs se reuniram para tentar ver os ídolos. Os meninos da Restart, que esperavam receber 200 pessoas naquele evento, foram proibidos pela polícia de ir ao local por questões de segurança.
Uma fã chamada Georgia Massa, que hoje diz ser empreendedora, viralizou ao afirmar, às lágrimas, que a ausência da banda era uma “puta falta de sacanagem”.
Em entrevista à BBC Brasil, em 2020, a fã afirmou ter sido responsável pelo sucesso da banda. “O empresário deles na época me disse que eu fiz o sucesso do grupo com a minha frase. Isso foi real, porque era uma banda pequena, que logo ficou famosa por conta de uma coisa que eu falei”, ela disse.
“Não tem nenhum sentido essa fala”, diz Pe Lu. “Espero que ela esteja bem e que tenha levado aquele momento de forma positiva porque poderia ter sido muito ruim. Tivemos uma grande preocupação naquela época porque aquelas crianças não escolheram ter aquele tipo de exposição, zombaria e ódio.”
Na turnê, eles esperam receber os fãs mais intensos, como a própria Georgia. “Ela é super bem-vinda ao nosso show, se quiser ir”, diz Pe Lanza. “Se não aparecer, vai ser uma puta falta de sacanagem.”