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A arte e o legado de Bruce Lee em “Operação Dragão”

Situado em um ponto entre a brutalidade dos golpes e a delicadeza da sua coreografia, o balé mortal produzido pelo mestre das artes marciais, Bruce Lee, capta nossa atenção em um filme de mote simples, mas eficiente. Em “Operação Dragão”, ele concorda em espionar um importante criminoso e ex-integrante do seu templo shaolin, usando um torneio de luta em uma ilha para se infiltrar. Praticamente um 007. A diferença é que a única arma de que dispõe é o próprio corpo.

Bruce Lee morreu há 50 anos, data completada no último dia 20 de julho, e não chegou a ver lançado nos cinemas esse filme que sintetiza de forma bastante clara a sua visão de mundo. Lee tinha um estilo de luta particular, o jeet kune do, que mesclava a técnica com princípios filosóficos. “Esvazie sua mente, não tenha forma. Sem contornos, como a água. Seja água, meu amigo”. Esse era um de seus lemas, que poderia ser aplicado tanto no enfrentamento corporal como na vida. E “Operação Dragão” está impregnado por esse conceito, tornando-se praticamente um testamento do astro, um resumo do seu legado, seja à arte cinematográfica ou à arte marcial.

Para além disso, contudo, trata-se de um filme divertido. E movimentado. Tanto a ação quanto os motivos que a desencadearam são jogados na tela em velocidade máxima. Isso poderia significar até um defeito, caso o diretor Robert Clouse não tivesse pleno domínio da mise-en-scène, extraindo com clareza as potencialidades de cada luta. Quanto à narrativa, o roteiro também vai direto ao ponto, destacando mocinhos e vilões de forma didática, como se dispusesse as peças em um tabuleiro de xadrez. Dali em diante, os peões vão caindo um a um até o confronto final entre Lee e Han (Shii Kien). Uma previsibilidade que não incomoda, especialmente pelo tom de aventura de matinê assumido pelo longa.

John Saxon e Jim Kelly também mostram suas habilidades no filme – Foto: Divulgação

É por isso também que aspectos simplificados, como o arco dos personagens Roper (John Saxon) e Williams (Jim Kelly), que estão ali basicamente para maior identificação do público norte-americano, tornam-se parte do jogo. De todo modo, se Roper é figura nula em termos de bagagem dramática, ao menos tem carisma. E Williams, por sua vez, apresenta um pequeno, mas importante, senso de personalidade, suficiente para inseri-lo em um contexto maior, socialmente falando. “Guetos em toda parte”, ele observa ao se deparar com a desigualdade na ilha de Han. Uma crítica bem pertinente e que acompanha sua trajetória desde o início, quando o vemos sendo abordado por policiais sem motivo algum.

Mas a força do filme está mesmo nos embates, na demonstração de habilidade de cada um ali. E não podemos esquecer que temos também no filme o grande Bolo Yeung, também um astro das artes marciais, como um dos capangas. A cena em que ele literalmente “tritura” (na falta de palavra melhor) um oponente com a força das mãos é angustiante. Assim como o próprio Han, não é um daqueles vilões que apenas mandam os subordinados à trincheira. Ele também vai à luta e prova que não é o chefão à toa. A “garra” no lugar da sua mão é icônica. “Operação Dragão” é assim, repleto de momentos dinâmicos e peculiares, visualmente falando.

Todos esses fatores já teriam poder suficiente para transformar o filme em um clássico, mas ele cresceu ainda mais em torno da “lenda” de Bruce Lee. A figura emblemática e a popularidade do artista permitiram o empoderamento da comunidade asiática, além de abrir as portas para o gênero em Hollywood, afinal, o filme foi um tremendo sucesso de bilheteria, justificando o investimento pesado feito nele. E o legado é notório, com gerações de cineastas, como John Woo e Quentin Tarantino, sendo influenciados por Lee e, mais especificamente, por seu “Operação Dragão”.

Han, o grande vilão, com sua garra mortífera – Foto: Divulgação

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